quinta-feira, 20 de setembro de 2007

HOJE QUEM FALA SOU EU





“ Tenho várias caras. Uma é quase bonita,
outra é quase feia. Sou o quê? Um
quase tudo” (Clarice Lispector)



Disse-me certa vez alguém muito e muito mais sabido do que eu, e que já não anda mais por este mundo, dele só resta a saudade e o “silêncio de portais”. E o amigo assim me falou: Zélia, a literatura de entretons, fuga , já era. Hoje o tutano tem se ser expulso, e me mandou à vida.


Não aprendi a lição e se me confesso não me desnudo, não consigo assumir por inteiro as características próprias da ficção feminina, confessional, e aparentemente narcisista.


Sei apenas que escrever é preciso. E sem fôlego para mergulhar fundo, de mim só sei dizer: do que fui, lembranças de sonhos contidos... do que sou, não consigo me encontrar. O ontem vivido é manifesto desejo de revivê-lo hoje, contrariando o crepúsculo em que mergulho sem mais tempo de dar vazão a esses contidos sonhos, que teimam em desconhecer as regras impostas pelo caminhar da vida. Já não me é permitido muita coisa; talvez, um... Reza minha senhora! Humildemente confesso, não sei fazê-lo, de há muito ando às turras com o Senhor lá de cima. Minha culpa, minha máxima culpa.


E neste “silêncio de portais”, busco palavras de outros, e as faço minhas ... Cais, às vezes, afundas
Em teu fosso de silêncio
Em teu abismo de orgulhosa cólera,
E mal consegues
Voltar, trazendo restos
Do que achaste
Pelas profunduras da tua existência


(O Poço –Pablo Neruda)



domingo, 16 de setembro de 2007

O GRANDE IRMÃO TE VIGIA




















Não há canto na caminhada, já não somos todos irmãos; já não sabemos se o que nos espera é um Auschivitz; já não sabemos se virá por imposição, decreto, projeto ou medida provisória a lei que determinará a marcação do número do nosso celular em nossos braços, com a obrigatoriedade do monitoramento das chamadas: de quem para quem, do que disse e do que ouviu. Só sabemos que o Grande Irmão nos vigia, com a cumplicidade do nosso “Winston Sunth (personagem da fábula “1984”) e “ dos pobres peões manipulados por uma azeitada máquina estatal, que articula os impressionantes recursos da propaganda com uma eficiente polícia da consciência.”


Já não importa que sejamos probos, já não existe mais sossego na vida dos homens públicos deste país, visto que todos estão sendo jogados na vala comum da improbidade. E a época da inquisição revive, com as ferramentas da modernidade sem a necessidade dos trâmites legais e sem aquela historinha de que se é inocente até provas em contrário, basta o Quarto Poder girar a sua artilharia na direção do alvo escolhido e pronto! Por ilações e imaginação dignas de um Gilberto Braga, cria-se o “monstro”. Às favas a Justiça em todas as suas instâncias. Com a Imprensa, o poder de investigar, denunciar, julgar, condenar, execrar. Ao “condenado” só lhe resta o júris sperniandi .


Não se pode esconder, no entanto, que no meio político, figuras comprovadamente controversas - das que acreditam que “o inferno são os outros” -tentam passar a imagem de paladinos da ética e da moral, arvorando-se criadores de grandes feitos e com a proclamação de tais, tentam esconder a verdadeira pobreza moral que os circundam, no afã de emoldurar os deslizes éticos pelo “gás néon”


Para os que têm discernimento, cabe no momento do exercício democrático do voto, impor a sua vontade, defenestrando os aventureiros para livrar o futuro da “distopia” prevista por George Orwell e deixar fluir a “Utopia” de Thomas More.


Enquanto a hora não é chegada revestidos da nossa impotência, só nos cabe assistir via on-line o festival de todo mundo denunciando todo mundo.


quinta-feira, 13 de setembro de 2007

POR QUE A ANGÚSTIA?







Ó tempora! Ó mores! Ó angustia! Enquanto isto Caetano canta: “Gente foi feita para brilhar e não para morrer de fome.”


O caro leitor há de convir que, sai governo, entra governo e a pátria amada idolatrada salva salve continua a mesma: todo mundo fala e ninguém se entende, é que nem a corte do rei Pétand, citada pela senhora Pernelle, protetora de Tartufo, que disse que nessa corte nada se respeitava e todo mundo falava o que lhe vinha às ventas.


Que eu estou angustiada, isto estou. Eu que tenho aonde cair morta; que posso cuidar dos meus possíveis males; que mato a minha fome e a minha sede à hora que desejar. Mas... e os outros? Aqueles que vivem por que Deus quer; que morrem por que Deus quer; se a seca castiga é por que Deus quer; se chove é por que Deus quer; se comem ou passam fome é por que Deus quer; que moram num barraco ou debaixo de uma ponte é por que Deus quer...


Invejo a fé dos zés brasis, admiro a sua reverência, o chapéu na mão, olhar para o alto em busca de Deus... Quem sabe um dia eu chego lá. E enquanto a fé não chega e a angustia não passa, vou sair por aí e fazer uma saudação mentirosa a um valentino qualquer, como fazia o inquieto e bem mais atormentado do que eu, Santo Agostinho, que em uma das suas andanças encontrou um pobre mendigo bêbado que ria e fazia arruaça. A cena embora o aborrecesse, revelava um aspecto da verdade que procurava. O bêbado com um pouco de dinheiro alcançava a felicidade.


Sabia o santo que a alegria do bêbado não era autêntica. Mas pôs em dúvida a alegria que ele procurava com as suas ambições e enredos tortuosos. Numa noite o bêbado digeria o vinho e sua bebedeira passaria; ele, Agostinho, ao contrário, iria dormir e acordaria com o mesmo tormento, hoje, amanhã, quem sabe até quando...

terça-feira, 11 de setembro de 2007

DE CISMA, PENSAMENTO E SONHO









A respeito da Natureza, do Desconhecido, cada um de nós, cisma, sonha à sua maneira. Sei de alguém que se chama Gilliatt, protagonista de um romance escrito por Victor Hugo, no ano de 1866, sob o título “Os Trabalhadores do Mar”, que costumava, diante da imensidão do mar, cismar, pensar, sonhar assim:


.Dizia Gilliatt, que tinha visto algumas vezes, na água do mar, completamente límpida, animais inesperados, de grandes dimensões, de formas diversas, os quais fora da água assemelhavam-se a cristal mole e, tornados à água, confundiam-se com ela pela identidade de transparência e de cor; disto concluía ele que, se a água era habitada por transparências vivas, bem podia ser que o ar fosse habitado por transparências igualmente vivas. Os pássaros não são os habitantes, são anfíbios do ar. Gilliatt não acreditava no ar deserto. S


Se o mar está cheio de criaturas, por que motivo a atmosfera está vazia?-Indagava. Criaturas cor do ar podem escapar aos nossos olhos por causa da luz; quem nos prova que estas criaturas não existem? A analogia indica que o ar deve ter os seus peixes, como o mar; os peixes do ar serão talvez diáfanos, beneficio da providência criadora, tanto a nosso favor, como a favor deles; deixando passar a luz através de sua forma, e não fazendo sombra, ficam ignorados de nós e nada poderemos saber. Gilliatt imaginava que, se se pudesse esvaziar a atmosfera, pescando-se no ar como num tanque, achar-se-ia uma porção de criaturas surpreendentes. E acrescentava ele na sua cisma, muitas coisas explicariam.


A cisma, que é o pensamento no estado nebuloso, confina com o sono e preocupa-se a respeito dele, como de sua própria fronteira. O ar habitado por transparência vivas seria o começo do Desconhecido; além abre-se a vasta porta do possível. Outros seres e outros fatos.


Nada sobrenatural; mas a continuação oculta da natureza, era um observador estranho e fantástico. Chegava a observar o sono. O sono está em contato com o possível, que também chamamos o inverossímil. O mundo noturno é um mundo. A noite é um universo. O organismo material humano, sobre o qual pesa uma coluna atmosférica de 15 léguas de altura, chega à noite fatigado, cai de fraqueza, deita-se, repousa: fecham-se os olhos da carne: então, naquela cabeça adormecida, menos inerte do que se crê, abrem-se olhos, aparece o Desconhecido.


As coisas sombrias do mundo ignorado tornam-se vizinhos do homem, ou porque as distâncias do abismo tenham crescimento visionário; parece que as criaturas invisíveis do espaço vêm contemplar-nos curiosas a respeito da criatura da terra; uma criação fantasma sobe e desce para nós, no meio de um crepúsculo; ante a nossa contemplação espectral, uma vida que não é a nossa agrega-se e dissolve-se, composta de nós mesmos e de um elemento estranho; e aquele que dorme, nem completo vidente, nem completo inconsciente, entrevê as animalidades estranhas , as vegetações extraordinárias, as cores lívidas, terríveis ou risonhas, as larvas, as máscaras, os rostos , as hidras, as confusões, os luares sem lua, as obscuras decomposições do prodígio, o crescer e o decrescer no meio da espessura turvada, a flutuação de formas nas trevas, todo esse mistério que chamamos sonho, e que não é mais do que a aproximação de uma realidade invisível.


O sonho é o aquário da noite.


Assim sonhava Gilliatt. Assim sonho eu.

domingo, 2 de setembro de 2007

I ANSWER THEE


AND ONE DAY BECAME LIGHT
PROVOKED BY THE PRODIGAL MAN
THE WOMAN-CLAY, FLEXIBLE
ALTHOUGH HAVING FORM
FEARING AT THE HANDLING

EXPLOSION OF FEELINGS
NO DUEL BETWEEN PASSION AND ROCK
CRAZY WOMAN, MAN
THAT WASTED MOMENTS

A RESTLESS SOUL WENT AWAY
SORROWFUL ANOTHER AWALTED
THE SILENT AND EXPECTED RETURN
FROM THAT ONE WHO SEARCHED THE INFINITE

IF SHATTERED WAS THE MAN
FOR NOT SENSING THE BLUE HE LEFT HERE
UNHAPPY IS THE WOMAN
ABSTRACT FOR THE EYES OF WHO HAS DEPARTED

IT DID NOT TRAMPLE MOUNTAINS
BUT IT SAW ITSELF KNOCKED DOWN
IMPOSTOR IN FAKED ANGUISH
IN THE IMPRISONED SHOUT IN THE THROAT
IN THE UNCHECKED WISH OF BECOME WOMAN
AGAIN
FROM THAT ONE WHO HAS DEPARTED

YES, I WOMAN-CLAY
IN THE NIGHTS I SOUGHT STARS
IN VAIN THE SAD SEARCH
THAT ONE WHO SOUGTH
A LOWER CLOUD COVERED HER

AND HERE I AM
NOT WOMAN-STONE
NOT WOMAN-CLAY
JUST WOMAN
THY

domingo, 26 de agosto de 2007

ELA FALA POR NÓS









No princípio
Uma palavra
Depois
Uma frase
Um composto subordinado
E no turbilhão das palavras
Eis que surge um confitente
Na figura de mulher translúcida
Analisa-se a figura
Bela aos olhos
Analisa-se o que esconde a diafaneidade
Vislumbra-se
Surge em forma de tristeza
E quanta tristeza, meu Deus!
Ora, ora! Por que o espanto?
Domina todas as letras, é poeta a mulher!
Tristes também foram e são todas...
Clarice
Cecília
Lígia
Adélia
Collete
Virgínia
Lya
E se há de perguntar:
São perigosas as tristezas?
“Apenas são cruéis e perigosas as tristezas
que passeamos na multidão para que
esta lhe dê remédio”
Ensina Rilke
E o que mostra a tristeza da mulher?
Uma tristeza sentida
Uma tristeza sem causa
Uma tristeza necessária
Uma tristeza que sufoca
Uma tristeza que é dela, que é nossa, de todos nós.
Amemos pois, a tristeza de YASMINE
Ela fala por nós.



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TIC-TAC



YASMINE LEMOS



O meu inimigo
Passeia horas no meu pensamento
Destrói as bases do castelo
Depois descubro que foram no vento


O meu inimigo distorce os ponteiros do tempo
Me ilude dizendo que o passado é hoje
Depois descubro que o som das cordas eram um lamento


O meu inimigo tem o meu rosto, meu semblante:
Contraditório:
O meu inimigo é o mais puro de mim:
Ilusório, ciente e permanente, como os ponteiros de um relógio

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O ARTISTA DA PALAVRA









Tristonha e serena cai à tarde, antes que ela desabe sobre mim, vou sair da barrica, apanhar a lanterna e partir em busca de alguém que me sirva de fonte de inspiração para a crônica de hoje.


Não precisei ir muito longe, entre os meus conhecidos ( pense aí em Flaubert, Voltaire, Goethe, Stendhal, Collete, Virgínia Woolf e tantos outros) eis quem eu encontro, perfilado e pronto para ser visto, notado e reconhecido: o escritor Franklin Jorge, o “artista da palavra” , como o qualificou o saudoso Jayme Hipólito Dantas, profetizando também, que um dia “haverão todos de admirar a prosa deste excelente escritor. Deste puro, saudável, belo cultor da forma.” (Extraído do Prefácio do livro de Bolso, Nossa Editora, 1980).


Em “Ficções/Fricções/Africções”, Franklin Jorge, na abertura do fragmento A Idade dos Nomes, onde trata de “Maria Maxixe”, fez a seguinte citação: “Essas coisas não aconteceram, mas existiram sempre” (Salústio. Degli Dei e Del mondo). É assim que vejo o escritor Franklin Jorge, dizendo coisas que eu não sei se aconteceram, mas que existiram, com a maestria descrita pelo também saudoso Américo de Oliveira Costa, que disse: “ Suas produções obedecem sempre a um esforço de despojamento, de depuração na busca da expressão ou da forma desejada, não por uma questão de preciosismo de artífice, mas como uma condição substancial de sua natureza criativa”. (Extraído do livro Spleen de Natal 1996)


A última vez que falei com Franklin foi por telefone, oportunidade em que afirmei não gostar de Shakespeare. (Ele com o seu cavalheirismo, não me disse que o desgostar é fruto da minha pseudocultura, que impede que eu alcance e entenda o dramaturgo inglês).


Mas, sabe Franklin, confesso que existe algo mais: a falta de originalidade. Então, ajo feito o escritor alemão Gottfried Keller, que se queixava de que Shakespeare houvesse aproveitado todos os temas fecundos, antecipando-se, assim, aos escritores que vieram depois dele, e prejudicando-os na própria originalidade.


Obrigada meu caro Franklin por me servir de tema e como você bem o disse, “ escrever é transgredir os códigos (...) quem sabe um dia eu transgrida e convença, feito aquele que eu não alcanço e nem entendo, que no seu tempo pendurava uma lanterna no palco do teatro, e advertia um auditório de mercadores e marinheiros que aquela candeia, oscilante e tosca era a lua, debruçada no firmamento. E todo mundo via e sentia na luz baça do candeeiro de azeite a poeira do astro luminoso.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

QUE OS SINOS DOBREM POR EMÍLIA






Meu caro leitor, minha cara leitora, “ leia isto e queira-me bem, perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas.”


Quem leu o conto ‘O Enfermeiro’ de Machado de Assis, sabe que, quem assim se expressou foi Procópio, personagem da história.


A título de curiosidade passo à frente, pois não deixa de ser interessante saber, principalmente, para nós mulheres, que no ano de 1601, Shakespeare, deixando de lado as comédias ao escrever o sóbrio drama Otelo – quando começa a aprofundar a psicologia de seus personagens – criou para Emilia, mulher de Iago e companheira de Desdêmona, entre outras falas, uma como esta: (...) a culpa é dos maridos. Se eles prodigalizam a outras o amor que é nosso, ou nos fecham em casa por ciúmes ridículos, ou nos batem, ou gastam de má forma o nosso dinheiro, não podemos enfurecer-nos também? De certo somos benévolas de condição, mas também capazes de cólera. E que os maridos saibam, que as mulheres têm sentidos tal como eles, e vêem, e tocam, e saboreiam, e sabem distinguir o que é amargo. Quando eles abandonam as suas mulheres por outras, que procuram senão o prazer? Que os arrasta. Senão a paixão? Que os domina, senão a fraqueza? E nós não temos também, apetites, paixões e fraquezas? Conforme nos tratam, assim seremos nós.”


Taí quem era mulher de verdade: a Emília de Shakespeare e não a Amélia de Ataulfo e Mário Lago. Que os sinos dobrem por ela.


Deixando de lado as emílias e as amélias e, caindo na real, subo na ponte para observar o bate-estaca do “shangri-lá” prometido, só que para tanto me falta a visão otimista e a percepção dos raios da esperança e me sobra o descrédito de Harry (O Lobo da Estepe – Hermann Hesse)


Ora direis: a cotovia nem cantou, é cedo ainda. Afinal, para a ‘Fazenda Modelo’, Juvenal, o Bom Boi foi nomeado faz pouco tempo. Paciência, pois. E assim sendo, que a boiada seja selecionada; plantado o capim elefante; importado o farelo; cheios os bebedouros; substituído o chocalho pelo cartão magnético. E que o preço de cada um seja o valor de uma bolsa-família

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

HOJE, NEM PRÓ NEM CONTRA








Já dizia Homero, o da Odisséia: “ de qualquer coisa é fácil falar: pró ou contra”.


Hoje, nem pró nem contra. De estilingue guardado no bolso, diante da vitrina por decorar, apego-me à conjecturas. Imagino se tem alma o manequim exposto – para quem alguns transeuntes apressados olham de soslaio e dizem levar jeito de rei, imperador ou príncipe, outros param e o criticam por enxergá-lo nu e outros menos apressados param por lhe enxergar o manto real.


Qual a reação do manequim à desaprovação de muitos? Seria idêntica a do rei Arquelau, que ao passar por uma rua alguém lhe jogou um balde de água à cabeça. Incitavam-no a punir o desastrado, mas ele respondeu: “Não foi em mim que ele jogou, foi na pessoa que acreditou que eu fosse”. Ou então, feito Sócrates, que observou quando alguém lhe dizia que falavam mal dele: “ absolutamente, não há em mim, nada do que afirmam.


Quanto aos que enxergam o manto real, o que pensa deles , o manequim? Atribui-lhes méritos e os consideram como os paladinos dos tempos heróicos, que se apresentavam ao combate com armas encantadas? Ou faz como Alexandre, que admoestou Brisson por deixá-lo ganhar a luta dizendo: “devia tê-lo açoitado”. Ou ainda, quem sabe... lembrar-se de Cornéades ao dizer que “os filhos dos príncipes nada aprendem que não seja falso, a não ser andar a cavalo: em todos os demais exercícios cedem competidores e deixam-nos vencer, mas o cavalo, que ignora a lisonja, derruba o filho do rei como o faria com o filho do lixeiro”.


Diz Montaigne, que é triste ter um poder diante do qual tudo se incline; uma tal vantagem repele as demais. Essa cômoda facilidade de fazer com que tudo se abaixe diante de si, exclui quaisquer satisfações; escorrega-se, não se anda, dorme-se, não se vive. Imaginai um homem onipotente: ei-lo angustiado; precisa pedir-nos a esmola de uma resistência.


Ainda Montaigne: As boas qualidades dos reis são como mortas e inúteis, pois as virtudes só se percebem por comparação e as deles nunca se comparam Ignoram os louvores de bom quilate porque os aflige uma continua e invariável aprovação. Ainda que se meçam com o mais íntimo de seus súditos não poderão auferir o prazer da vantagem obtida, pois sempre haverá uma resposta irretoquível: “ trata-se de meu rei”.


Mas, quais as razões que levam muitos a não contestarem o rei? Será que pensa como o filósofo Favorino, que de uma feita discutindo com o imperador Adriano acerca do sentido de certa palavra cedeu a este bem depressa, e aos amigos que lhe censuravam a atitude, respondeu: “Por Deus, pois então não será mais sábio do que eu quem comanda trinta legiões?” Tem também o exemplo de Augusto, que escreveu versos contra Asínio Pólo, o qual respondeu: “Calar-me-ei, não é prudente escrever contra quem pode proscrever”. Diz Montaigne, que ambos tinha razão, pois Dionísio, por não conseguir igualar Filóxeno na poesia nem Platão na filosofia, condenou um aos trabalhos forçados e vendeu o outro como escravo na ilha de Egina.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

O EXISTENTE E INVISÍVEL












Os entendidos afirmam que a filosofia teve início quando a magia e o ritual cederam, de forma lenta, lugar à ciência e ao controle. Também afirmam, que é a única ciência capaz de fazer com que a alma olhe para cima, objetivando o existente e invisível.


A propósito, li em “O Dia do Curinga”, de Jostein Gaarder, um diálogo interessante entre pai e filho. O filho pergunta para o pai se ele acredita em Deus e acrescenta: “se realmente existe um Deus, então ele adora ficar brincando de esconde-esconde com suas criações”.O pai ri da observação do filho e diz: “Talvez Ele tenha tido um choque quando viu o que tinha criado e então saiu rapidinho de cena. O filho insiste:” quer dizer pai, que você acredita em Deus “. Ao que respondeu o pai:” Não disse isso. Mas pode muito bem ser que ele esteja sentado em seu trono lá no céu, rindo de nós porque não acreditamos Nele “. E relatou para o filho a seguinte conversa:


“Certa vez, um cosmonauta russo e um neurocirurgião, também russo, discutiam sobre o cristianismo. O neurocirurgião era cristão, o cosmonauta não era”.Já viajei muitas vezes para o espaço sideral “- gabou-se o cosmonauta -” mas nunca vi nenhum anjo”. O neurocirurgião primeiro ficou olhando para ele; depois disse: “ E eu já operei muitos cérebros inteligentes, mas nunca vi um pensamento.”


Feito o poeta Drummond: “Mais leio, leio. Em filosofias/ tropeço e caio, cavalgo de novo”. Um dia, quem sabe..., Eu ao invés de contentar-me com o materialismo de Demócrito, que afirma que “na realidade não existe nada a não ser átomos e espaço”, alcance a significação, o sentido, a idéia dessa ciência capaz de fazer com que a minha alma olhe para cima. No momento estou perdida e tão por fora quanto Sócrates quando disse: “Uma coisa eu sei é que nada sei”.


domingo, 12 de agosto de 2007

UNDE SALUS?








Eis-me aqui para iniciar minha queda de braço com a “Ùltima flor de Lácio" inculta e bela. Com esta antítese o Sr. Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac trata em versos a língua portuguesa.

Feito o preâmbulo, passo a matéria:


Se eu tivesse de enfrentar o microfone do karaokê e me fosse dado escolher entre a canção de Mercedes Sosa “Gracias à la Vida” e “Não dá pra ser feliz” de Gonzaguinha, eu ficaria com a última. E por que o faria? Explico: Quanto mais leio, mais as entrelinhas me angustiam e eu vejo chifre até em cabeça de cavalo. Aí aindignação vem à tona e haja exclamação para tudo .


Não dá pra ser feliz sabendo que milhões de brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza absoluta; que quase tudo do que é arrecadado pelo governo federal destina-se ao pagamento dos juros da divida do país. Dói-me saber de pai de família desempregado; de jovens sem perspectivas. Por cada criança faminta e sem escola; por cada injustiça, cada dificuldade sofrida pelo próximo me vem à boca um: Deus nos acuda! E por que o faço?


Porque vivo num regime democrático, porque li que democracia significa a perfeita igualdade de oportunidade. E não apenas o rodízio de todos os fernandos, joãos, josés e lulas nos cargos públicos.


Porque li Will Durant destrinchando Platão, que diz: “Tal homem, tal Estado”. Ensina mais: “Os governos variam como variam os caracteres dos homens ; ... Os Estados são constituídos pela natureza humana que se encontra neles. O Estado é o que é porque seus cidadãos são o que são. Portanto, não adiante esperar Estados melhores até que tenhamos homens melhores. Até lá todas as modificações deixarão os pontos essenciais inalterados”.


Para compreender a ciência política, disse um mais sábio do que eu, que temos que compreender a psicologia. É a tal história... “Como são encantadoras as pessoas! –Sempre tratando, aumentando e complicando suas doenças, imaginando que ficarão curadas por algum elixir mágico que lhes aconselham... Mas vão de mal a pior... fazem experiências com a legislação e acreditam que, por meio de reformas terminarão com a desonestidade e canalhice da espécie humana –Sem perceberem que na realidade estão desferindo golpes nas cabeças de uma hidra.


Acho que é hora de lembrar do meu avô Bernardino e citar uma frase em latim que ele costumava dizer enquanto curtia os seus porres homéricos: “Unde salus” ? que trocado em miúdo significa: “Donde virá a salvação?”










sexta-feira, 10 de agosto de 2007

COISA PENSANTE









JÁ QUE SOU UMA COISA PENSANTE



E COMO TAL



DUVIDO



CONCEBO



NEGO



IMAGINO



SINTO



QUERO



NÃO QUERO



QUE POUCO SEI



E IGNORO MUITO MAIS



VEZ POR OUTRA ME VEJO IMPELIDA A QUESTIONAR A VIDA



O JULGAMENTO QUE SE PODE FAZER DELA



E O QUE OCORRE É O PENSAMENTO DE OUTRO, POIS JÁ FOI DITO QUE A VIDA NÃO É UM PROBLEMA PARA SER RESOLVIDO, É PARA SER VIVIDO.



SERÁ?



terça-feira, 7 de agosto de 2007

OS CONSELHOS DE RILKE






Entre os anos 1903/1908, o então aprendiz de poeta Franz Xaver Kappus, mantinha correspondência com o já famoso Rainer Maria Rilke. Em suas cartas, Kappus colocava para a devida apreciação do poeta os versos que escrevia. Rilke, por ser alheio a qualquer intenção crítica, não os examinava por este prisma, pois acreditava, que para penetrar numa obra de arte, nada pior do que as palavras da crítica, que somente levam a mal-entendidos. Afirmando ainda que nem tudo se pode saber ou dizer, e quase tudo o que sucede é inexprimível e decorre num espaço que a palavra jamais alcançou.


Assim, em resposta as suas cartas, ao invés da crítica, recebia Kappus, conselho do poeta maior. Eis alguns deles: “procure como se fosse o primeiro homem a dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite, de início, os temas demasiado comuns: são mais difíceis. Fuja dos grandes assuntos e aproveite aqueles que o dia-a-dia lhe oferece. Fale das suas tristezas e dos seus desejos, dos pensamentos que o tocam, da sua fé na beleza. Diga tudo com sinceridade, calma e humildade. Utilize para se exprimir, os objetos que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos, as suas lembranças. Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador nada é pobre, não há lugares mesquinhos e indiferentes”.


A propósito, à mim não foi pedido crítica nem conselho, também não saberia como, mas li versos de alguém que não conheço, mas sei que existe e bastaria abrir a porta para encontrá-la. São de Yasmine, os versos que se seguem:


SENTINDO VONTADE DE CHORAR
APAGUEI A LUZ
ESQUECI DO TEMPO
FIZ UM JOGO DE SENTIMENTOS
TIPO XADREZ
XEQUE-MATE
PERCEBI QUE FUI ALCANÇADA
SILÊNCIO
NÃO CONSEGUI ME ENGANAR
PENSEI UM, DOIS, TRÊS
DAMA, VALETE E NEM UM REI
ENTÃO CHOREI


O que diria o poeta maior Rainer Maria Rilke , à jovem poeta Yasmine Lemos...? O mesmo que disse ao também jovem poeta Franz Xaver Kappus...? "O homem solitário pode desde já lançar as bases, construir o futuro com as suas mãos que se iludem menos. Por isso, ame a sua solidão, suporte as penas que dela vierem, e se essas penas lhe arracarem queixas, que sejam belas essas queixas" ( Rilke - Poeemas e Cartas a um Jovem Poeta)









sexta-feira, 3 de agosto de 2007

NADA MAIS ME ESPANTA











Sou o que se pode chamar de uma escrevinhadora de fôlego curto, contudo, gostaria de hoje dar o ar de minha graça abordando um tema profundo. Mas qual nada, cadê o fluir? Os temas comuns se repetem, as perguntas se perpetuam, as inquietações idem.


Falarei, pois, sobre o quê... Dos males do mundo; das experiências das células-tronco direcionadas para a cura dos tetraplégicos e demais doenças tidas como incuráveis
Dos males espalhados pelo mundo não sei se a culpa cabe a Zeus ou a Epimeteu. Zeus porque presenteou Pandora, mulher de todas as graças e talentos com a famosa caixa que se tornou conhecida como a “Caixa de Pandora”, onde estavam guardados todos os males. Epimeteu marido de Pandora, porque abriu a caixa. Caixa aberta, miséria solta a campear mundo afora. Se bem que Zeus tinha lá os seus propósitos, sabia o que estava fazendo: deixou no fundo da caixa a esperança e dela vivemos até hoje.


Quanto às células-tronco, do resultado positivo das experiências não sei dizer nada não, mas sei uma historinha que li e passo à frente, sem a devida permissão da escritora Lya Luft, que contou em seu livro “O Rio do Meio”: um tropeiro idoso no interior quando lhe contaram, em volta do fogo, que o homem chegara à Lua, onde muitos protestaram que era impossível, era coisa de gringos, tudo truque de televisão, ele baforando seu cigarro de palha contemplou a chama, refletiu um pouco e disse: Eu, depois que inventaram a máquina de debulhar milho, não me admiro de mais nada.


Com saudade do cigarro, que não era de palha e que larguei faz tempo, contemplando coisa nenhuma, refletindo sobre a mesmice da vida, o mesmo estado de coisas, a mesma pasmaceira, só me resta dizer feito o velho tropeiro: nada mais me espanta.









segunda-feira, 30 de julho de 2007

PARECE QUE FOI ONTEM...






Parece que foi ontem que o hoje velho Chico inventou a cantiga onde tem um verso que diz: “o tempo roda num instante”. Na época eu era jovem e nem me toquei. Aí, dia desses, um olho meu, que não lembro se foi o esquerdo ou o direito piscou diferente, corri para o espelho... Confesso que não gostei do que vi refletido nele: um rosto envelhecido com um olho vermelho. Foi então, que caiu a ficha e eu me dei conta que de fato, o tempo realmente passa depressa .


E cá estou, consciente desta minha nova etapa de vida, caminhando a passos largos para me tornar igual ao meu avô Bernardino, única velhice que convivi e a quem um dia perguntei o que era ser velho. Foi-me respondido o seguinte: “Logo , logo saberás, por enquanto, junta-te aos da tua idade, pules corda e brinques de boneca. Um dia, num abrir e fechar de olhos, vais perceber que estás tão velha quanto eu”.


O avô Bernardino já morreu faz séculos. Fico imaginando o que ele teria para me dizer hoje... Por certo, com a sua mania de latim mandaria eu procurar a minha nova turma, recitando Cícero: pares cum paribus congregantur ( os que são iguais muito facilmente se unem com os iguais a si ).


É o que vou fazer, procurar uma nova turma, que não pula corda nem brinca de boneca, vamos discutir juntos a miséria de uma aposentadoria que em breve levará nós, os bons velhinhos, a nos tornar iguais nas agruras de uma velhice mal vivida. Unidos lamentaremos na fila do INSS, a extorsão dos planos de saúde, que não nos permitem acesso; do custo das nossas pílulas receitadas para pressão alta, coração, mal de parkinson, diabetes, arteriosclerose, osteoporose, soluços etc. etc.


E não adianta reclamar pro bispo, nos tornamos um bando de velhos vagabundos e improdutivos , o melhor à fazer é procurar a cadeira de balanço, cerrar os nossos olhos míopes, mandar às favas os problemas existenciais. E lembrem-se: de boca fechada para não exibir a banguela . Quietos para não incomodar as autoridades. Cada um no seu lugar, os abrigos, esqueçam, só vivem em crise financeira.


Contudo, ainda podemos nos dar ao luxo de pensar, é de graça, não custa nada. Pensemos como o escritor irlandês James Joyce, que não estava nem aí para as escaramuças de sua época, só se importava com o mundo interior, independente de situações políticas ou econômicas. Acreditava que a estupidez humana, a fragilidade da vida e das criaturas não mudam com a simples alteração de uma situação externa.

Confesso que, se as minhas pernas ainda me obedecessem, subiria no telhado e lá, deitada feito Snoopy diria: “Cansei
de me preocupar com o mundo... Agora o mundo que se preocupe comigo”.

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quinta-feira, 26 de julho de 2007

SE
















Até que hoje amanheci contente, tentei assoviar ó pátria amada idolatrada salve salve e quis saber quem pôs o nome de azul na cor azul, apesar do dia ser sexta-feira e o meu lado doméstico ver-se sobrecarregado de um sem número de tarefas. Mas, enquanto emprego a força física nas ditas benditas tarefas, meu lado intelectual reclama espaço, e o “ meu primeiro movimento é logo tal comichão de falar que não posso deixar de desembuchar o que me vem à boca”. (obrigada Cervntes)


Então, paro. Se parada eu penso. SE.. Desta partícula eu gosto, podemos condicionar à ela uma infinidade de coisas, senão vejamos:


SE os homens usasse a razão para se governar não seria como a cigarra de compridas pernas que salta e esvoaça nas ervas cantando a sua velha canção. E nem sempre ficando pelas ervas. Mas sempre dando com o nariz em todos os montes de estrumes.


SE tudo corre perfeitamente mal, como sempre, aqui na terra e nós mortais penamos nos nossos dias de miséria, não seria hora do Senhor querer conhecer como andam as coisas cá em baixo?


SE todo homem que caminha pode perder-se, como sustentar que um homem de bem, na confusa tendência da sua razão sabe distinguir e seguir a via estreita da verdade?


SE o que está passado e o puro nada são a mesma coisa, que quer então de nós essa eterna criação, se tudo o que foi criado vai abismar-se no nada? Está passado!


SE a força do espírito e da palavra me revelasse os segredos que ignoro, se eu não fosse obrigada a dizer tristemente que não sei; se, finalmente, eu pudesse conhecer tudo o que o mundo esconde em si mesmo e, sem mais me prender a palavras inúteis, ver o que a natureza contém de secreta energia e de eternas sementes.


Agora, SE eu soubesse de quem são tantos“SES” e aonde os li para lhes conferir os devidos créditos seria bem mais honesto de minha parte.


Para o banheiro, mulher! Está ele a carecer de uma boa lavada! ... Dos filhos desse solo és mãe gentil pátria amada BRASIL SIL, SIL, SIL.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

ESPERANÇA








Não brinque não, até em se tratando da salvação da alma nem que seja um resquício de esperança dentro de nós faz bem. Tenho cisma com o que acontece depois que a “indesejada” vem e nos leva - para onde eu não sei - Quando a curiosidade fica mais aguçada sobre o assunto, geralmente por conta de pecadilhos, procuro ler algum tratado teológico. Foi o que fiz ontem à noite, me peguei com as Confissões de Santo Agostinho e assim adormeci. Hoje acordei em estado de graça beirando o onirismo; esta infiel pecadora encheu-se de esperança após comparar o seus pecados com os de Agostinho e chegar à conclusão que terá salvação. Explico o porquê:


Antes de se tornar padre, bispo, e santo, Agostinho era rebelde todo, para que o leitor tenha idéia, se no ano de 354 lá na cidade de Numídia, atual Argélia tivesse FEBEM, era lá que ele teria passado boa parte de sua infância, isto porque era chegado a furtos, e segundo as próprias palavras, fazia, não premido pela necessidade, mas por desprezo à justiça e excesso de maldade. Na juventude acreditava que amar e ser amado era coisa deliciosa, tanto mais quanto podia também possuir o corpo da pessoa amada. Durante três anos uniu-se a uma mulher em concubinato e dessa união nasceu o único filho de nome Deodato. Ainda na juventude abandonou o cristianismo que a família professava e adotou o maniqueísmo (tendência a dividir o mundo entre o bem e o mal). Essa doutrina na época era pregada por Mani, profeta persa, continha um misto de Evangelho, ocultismo e astrologia, era cômoda de praticá-la: o homem não era culpado por seus pecados, pois já trazia o mal dentro de si. Quando abandonou o maniqueísmo após doze anos de prática, mergulhou no ceticismo. Finalmente, descobre as palavras do apóstolo Paulo e torna-se seguidor de Jesus Cristo aos 32 anos. Daí por diante, até a morte aos 76 anos de idade como bispo de Hipona, foi só santidade. Em 534, o papa João II declarou que a Igreja de Roma segue e conserva as doutrinas de Agostinho, que ficou conhecido também, como o pai da Igreja latina.


Como vê caro leitor, cara leitora, para sairmos do “mau” caminho, nada melhor do que a leitura, vez por outra, das epístolas do apóstolo Paulo. O exemplo de Agostinho está dado.


Ainda bem que em matéria de salvação o cristianismo não discrimina as mulheres, o céu é para todos; já para os muçulmanos não é bem assim. Para os homens o céu é um verdadeiro superoásis, nele os bem-aventurados que seguiram os preceitos do Senhor encontrarão rios de leite, mel e vinho, além de multidões de virgens com olhos negros de gazela.Quanto às mulheres, a posição inferior que ocupavam aqui na terra será perpetuada no céu. Não é chocante? Mas como se há de duvidar, são palavras de Maomé.












sexta-feira, 20 de julho de 2007

TEM TUDO A VER


















Tempo faz e eu nem me lembro quando, li um artigo de jornal onde o articulista enfatizava a necessidade de melhorar a distribuição de nossa riqueza, “antes que os rios subterrâneos juntem-se numa corrente caudalosa que nos leve a alguma foz desconhecida”.


A propósito de distribuição de riqueza equânime, também disse certa vez o filósofo Francis Bacon, que a melhor receita para evitar as revoluções (corrente caudalosa?) é a distribuição equitativa das riquezas, pois o “dinheiro é como adubo, para nada serve, a menos que seja espalhado”. E olhe que o filósofo não pregava o socialismo nem tampouco a democracia; não tinha confiança no povo, considerava que a adulação mais baixa é a adulação do populacho e deu razão a Focion quando ao ser aplaudido pela multidão perguntou o que havia feito de errado;


O filósofo Francis Bacon, nascido no ano de l561, viveu na Inglaterra e teve a sua glória no período de Elizabeth, onde as “virtudes”exigidas na corte da rainha foram descritas em versos cômicos por Roger Ascham, da seguinte maneira: “ Trapaceie, minta, adule e cultive a hipocrisia, / Quatro requesitos necessários para na Corte favores obter / Caso não queira sujeitar-se a dessa forma agir, / Boa viagem, meu amigo, feliz regresso ao lar!”.


Tendo sido feito Barão Verulam de Verulam e Visconde St. Albanis, Bacon, que, como disse acima, conheceu a glória no reinado de Elizabeth e sobre ele foi dito que os seus ensaios são como uma comida substancial que digerida em pequenas porções constituem o melhor alimento espiritual da língua inglesa, teve o seu declínio no reinado de James I, isto por conta de desvio de conduta. Exercendo por três anos o cargo de Ministro da Justiça da Inglaterra, para nos fins de seus dias assumir o cargo de juiz. Investido de tal cargo e com forte tendência “ a fazer despesas, adiantando-se aos percebimentos a que fazia jus, não lhe permitia o luxo de ter escrúpulos”; não fugia ao costume de sua época, (1621) isto é, aceitava, como os demais, “presentes” de pessoas cujos casos estivessem sendo julgados em seus tribunais. Até que um dia, um litigante acusou-o de receber dinheiro para rápida solução de um caso. O Parlamento achou culpa no ato de Bacon e pressionou o rei James, que o enviou preso para a Torre de Londres . Contudo, a pesada multa que lhe foi imposta foi perdoada pelo Rei. A respeito de seu julgamento disse o filosófo: “ Fui o juiz mais justo que houve nesses cinqüenta anos; mas foi o julgamento mais justo que houve na Inglaterra..


Morreu pobre e na obscuridade o grande Bacon. Deixou escrito no seu testamento estas palavras: “ Lego minha alma a Deus... Meu corpo para ser enterrado obscuramente. Meu nome, às gerações vindouras e às nações estrangeiras”.


As gerações e as nações o aceitaram, prova disso é que eu aqui, em pleno século XXI falando sobre ele.

terça-feira, 17 de julho de 2007

TANTOS RELATOS. TANTAS PERGUNTAS










Faz parte do romance “To Have and Have Not” de Ernest Hemingway o personagem Eddy, velho marinheiro bêbado, que costumava perguntar a todos que encontrava pela primeira vez o seguinte: “Wouldn’t ever bit by a dead bee?” (Já foi mordido por uma abelha morta?).


Se por conta de um mar revolto o navio do marinheiro Eddy batesse com os costados em uma de nossas praias e os nativos, tendo à frente o seu honorável chefe-operário - o que não deu certo – fossem ao encontro da tripulação, para lhe dar as boas vindas e como é de praxe, trocarem presentes: eles com os seus apitos, colares e espelhos e os da terra com o seu ouro, suas pedras preciosas, suas especiarias, sua água, seus micos-leões-dourados, suas araras coloridas, seu cupuaçu , sua castanha-do-pará, umas casquinhas de árvores e folhas de plantas medicinais etc. etc. Tudo bem aceito e festejado.


No meio da festança, eis que surge a figura bêbada do marinheiro Eddy, abraçada a duas belas e seminuas morenas. Cessado o som dos atabaques e diante de tanta gente nunca vista exibindo os seus pés descalços, começou o velho Eddy, com sotaque carregado, a sua inquirição. Com o dedo trêmulo apontou: você, você e você já foi mordido por uma abelha morta? Acrescente-se que a pergunta também foi dirigida ao chefe-operário – o que não deu certo -


Explico a metáfora: tem a ver com a condição de pobreza. Quem é pobre e vive descalço expõe-se a pisar em abelhas mortas de quem o ferrão continua ativo.


A tempestade passou, todos a bordo, o navio começa a zarpar. Havia acenos de ambos os lados, foi quando o comandante do navio fez um aviãozinho de papel e lançou na direção do chefe-operário – o que não deu certo - Ao desdobrar o aviãozinho, este constatou que estava escrito nele um poema de Bertold Brecht sob o título: “Perguntas de um operário que lê”, que diz:


Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros constam os nomes dos reis
Os reis arrastaram os blocos de pedra?
E a Babilônia tantas vezes destruída?
Quem ergueu outras tantas?
Em que casas da Lima radiante de ouro
Moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a Muralha da China?
A grande Roma está cheia de arcos de triunfo.
Quem os levantou?
Sobre quem triunfaram os césares?
A decantada Bizâncio só tinha palácio?
Para seus habitantes?
Mesmo na legendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu,
Os que se afogavam gritavam pelos seus escravos
O jovem Alexandre conquistou a Índia
Ele sozinho?
César bateu os gauleses.
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?
Felipe de Espanha chorou quando a sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu, além dele?
Uma vitória em cada página.
Quem cozinhava os banquetes da vitória?
Um grande homem a cada dez anos.
Quem pagava suas despesas?
Tantos relatos.
Tantas perguntas.


Eu li o poema do Bertold, mas será que o chefe-operário - o que não deu certo – leu? Tenho cá as minhas dúvidas... Os companheiros continuam descalços, ferrados pelas abelhas mortas e tão carentes de ações...








quinta-feira, 12 de julho de 2007

MAGOEI













Faço beicinho e digo: magoei. E não é só por conta dos escândalos políticos que estão fazendo a esta distinta e ética senhora, filha de pais alfabetizados, dormir de olhos abertos para não perder o próximo. Move-me outras razões e cá explico:


Embora nada tenha herdado do el-rei Dom João V, mas cuja renda – em que pese dividi-la com as três esferas governamentais, pagando impostos, taxas, emolumentos, obrigações sociais, acrescidos do plano de saúde, juros do cheque especial e condomínio do “Morada da Paz”- bastava para viver até a vinda do Apocalipse, vejo-me agora na iminência de, na condição de sem-aumento, passar da opulência à abastança; da abastança à mediania; da mediania à pobreza; da pobreza à miséria. Por quê? Ora por quê! Os amanuenses dos três poderes não levam em consideração os aumentozinhos aqui, outro acolá, coisas tais como sazonalidade, entresafra, defasagem, reajuste de tarifas etc. etc. que em nada oneram, afirmam, os bolsos de quem só retira e nada repõe.


Se pelo menos eu tivesse a certeza de que o meu rico dinheirinho estava escorrendo para o ralo dos sem-saúde, sem-terra, sem-teto, sem-educação, sem-emprego, sem-estrada e os com-fome, até que eu nem chiava. Afinal, diz o senhor bispo,que temos de repartir o pão. Mas – e sempre tem um MAS para atrapalhar – parece que o nosso money não só escorre para os pts da vida como serve, também, para comprar votos de deputados e senadores despudorados, sem ética e sem decoro.


Fazer o quê? Se o grito geral é de que está todo mundo louco. O destino pois, é Itaguaí, mas precisamente à “Casa Verde”. Deixemos nas mãos do doutor Simão Bacamarte a decisão de ordenar o vigário Lopes tocar a matraca anunciando que é preciso mais do que arruaças e clamores para tornar desacreditada a “Casa Verde”. Enquanto isto o barbeiro Canjica anda a deitar falação sem que dele seja exigido o devido cuidado com a ordem , aventando as suas idéias na rua tentando dar corpo e alma a uma suposta rebelião das elites ( que por ora é apenas um turbilhão de átomos dispersos).


No mais, para quem leu “ O Alienista” de Machado de Assis, sabe que estou me valendo dele para entrar na moda e jogar as minhas “metáforas”.


domingo, 8 de julho de 2007

O POBRE DIABO
O problema existia. Diante dele, infeliz, limitado, calado e impotente um pobre diabo.

Que mundo é esse, que tempo é esse, que sentimento estranho é esse que sufoca o pobre diabo?

Amor.

Amor?

Então, por que infeliz, limitado, calado e impotente o pobre diabo?

Amor pra dá, sem reciprocidade, sem esperança, sem amanhã. Amor de outono. Amor que chegou tarde.

Pobre e ingênuo diabo, TU não existes, tua visão do mundo enquadra-se na observação singela de "quem muito RI é feliz e quem muito chora é infeliz".

Este mundo, este tempo, essa gente, essas idéias preconcebidas marginalizaram o sentimento amor. Hoje ele se choca com a dura realidade da vida.Com tristeza te digo: tornaram-se piegas as histórias de amor

Mas o pobre diabo AMA, se consome, se anula. Ama o impossível e recua vencido diante da covardia e do fogo do inferno.

Prefere a consumição própria do que infringir os mandamentos

O que é o amor na tua concepção, pobre diabo? Felicidade.

Felicidade? Digo o que já foi dito: "Não é felicidade coisa fácil; mui difícil de encontrar-se em nós, impossível é de achar-se alhures."

Pobre diabo, tua estória não dá história, perfeição e amor são temas superados.

É... Só resta dizer: TU és tão bonzinho meu belo e pobre diabo. .

quinta-feira, 5 de julho de 2007

DO ATO DE TRAIR - SEGUNDO MAQUIAVEL



Pelos idos de 1516, diretamente da bucólica Florença, depois de muito lucubrar sobre o comportamento humano, e, no afã de agradar ao Magnífico Lorenzo de Médicis, príncipe da hora, Maquiavel, considerado o fundador do pensamento político moderno, enviou a Sua Magnificência a obra intitulada “O Príncipe”, (antes, 1513, ele já tinha agradado com a mesma obra Giuliano de Médici, tio de Lorenzo) onde ele deita uma série de “conselhos”, que extrapolaram o seu tempo e que até hoje servem de parâmetro para o comportamento de grande parte da classe política vigente.


No capítulo XVIII, do livro acima referido, que trata de como os príncipes devem honrar a sua palavra, entre tantas passagens interessantes, tem uma que diz, que é louvável respeitar a palavra dada sem astúcias nem embustes. Contudo, é perfeitamente aceitável que não se dê muita importância à fé dada e que pela manha se pode cativar o espírito dos homens e, no fim ultrapassar aqueles que se baseiam na lealdade.


Ensina também, Maquiavel, que o príncipe deve saber utilizar bem a natureza animal, convém que escolha a raposa e o leão: como o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender dos lobos, é necessário ser raposa para conhecer as armadilhas , e leão para meter medo aos lobos. Por conseguinte, o senhor sensato não pode respeitar a palavra dada se essa observância o prejudique e se as causas que o levaram a fazer promessas deixaram de existir. Principalmente, quando sabemos que “os homens são tão simples e tão obedientes às necessidades do momento, que quem engana encontra sempre quem se deixe enganar”.


Maquiavel ensina ainda, que se deve ter ânimo para agir conforme os ventos da sorte e a mutabilidade das coisas que lhe ordenem; não se afastar do bem, se puder, mas enveredar pelo mal, se for necessário.


Isto posto, convenhamos que os ventos da sorte empurre um cidadão, e o eleja deputado federal ou senador e que lhes coubessem, além das benesses principescas , um salário que de forma direta e indireta, o contempla com 1O0 mil reais mensais (fonte de informação da cifra do jornalista Villas -Bôas Corrêa), o que poderíamos esperar nós, simples escadas, diante dos nossos interesses, quando a mutabilidade das coisas ordenam se afastar do bem para enveredar pelo mal e por ordem do príncipe da hora ( que os mantém sob rédeas curtas) e conveniência dos que obedecem, as promessas feitas se tornem em vão e reduzidas a nada pela infidelidade dos que as fizeram.


O que é pior: coçar e trair é só começar. No mais, é assistir impassivo, a reencarnarão de Campos Sales, aquele presidente que conseguiu sanear as finanças do país, em contrapartida afetou negativamente a indústria e o comércio e dificultou terrivelmente a vida das camadas pobres e da classe média brasileira.


E qualquer semelhança é mera coincidência, esclareço que Campos Sales sentia-se na condição de um magistrado supremo e alheio às contendas partidárias. No entanto, no seu governo foi instituída a política dos Estados, que consistia numa troca mútua de favores entre os governantes estaduais e o governo federal. Com essa política Campos Sales buscava o apoio dos governantes e congressistas à execução de sua política financeira.


Diante do enunciado governamental, jactando-se do positivismo das medidas até agora adotadas, deixo no ar a pergunta, que, aliás, não é minha, mas foi feita por Mário Sérgio Conti ao então governo Sarney e que merece ser repetida: “Se o governo é austero e o país é rico, por que a sociedade está se desagregando?” Concorda comigo, caro leitor?



terça-feira, 3 de julho de 2007

COISAS DESTE MUNDO





Acredite, eu li: cidadã carioca – sem antecedentes criminais – foi surrada por um segurança de um supermercado para em seguida ser presa e processada nos rigores da lei. O motivo: foi flagrada tentando levar - sem pagar - uma lata de leite. Com a cidadã meliante, uma criança de colo que choramingava de fome.




Coisas deste mundo. “Mundo mundo vasto mundo/ se eu me chamasse Raimundo/ seria uma rima, não seria solução” (Drumond).


Sobre o caso da cidadã carioca fico imaginando em quais faces subiriam rubores se, com a cobertura da TV Globo, surgisse na porta da cadeia onde a indigitada mulher estivesse trancafiada, a figura do padre Antônio Vieira e proferisse um sermão desta natureza: “ (...) O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam de que eu falo, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo procedimento distingue muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o Governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força roubam e despojam povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam.”.
Em se tratando de Brasil, haja ladrões para todos os gostos e ocasiões. No encalço lá se vão os jovens procuradores; a policia federal (com os seus tropeços); o TCU , os TCEs, a OGU e para deleite da “sociedade global”, estão ai, ao vivo e em cores os Conselhos de Ética, exibindo em capítulos floreados com verdades e ilações , tentando enquadrar os supostos transgressores , mas os que tentam, para desespero dos prós e dos contra, lamentavelmente, são ricos em teorias mas pobres em provas. E, em assim sendo, no quartel de Abrantes tudo continuará como dantes. Afinal, por quem e para quem foram feitos as leis e os xilindrós? E não me venha falar das centenas de prisões efetuadas pela Polícia Federal. O Supremo está aí mesmo para socorrer os "injustiçados", premiando-os com o beneplácito de um "Que tenhas o corpo" -Como disigna uma das disposições da Magna Carta imposta a João Sem Terra, depois de sua volta à Inglaterra

















segunda-feira, 2 de julho de 2007

CAMINHO PERIGOSO







Ou muito me engano, a gente está entrando por um caminho perigoso. Já estamos desconhecendo a tão conhecida e peremptória máxima: “decisão da Justiça não se discute, CUMPRE-SE”. Pelo que se proclama, nos botequins, borracharias, barbearias, academias de ginástica e bordéis não se fala noutra coisa que não seja a retirada da venda dos olhos da Justiça


Seguindo este raciocínio, espero que o próximo passo não seja o NÃO CUMPRIR, pois se assim for, que se instale a ANARQUIA.


E pensar que tudo começou por medo do povo brasileiro parecer preconceituoso, rejeitando para seu presidente um nordestino, filho de mãe que nasceu analfabeta, de pouco estudo e consequentemente pouco discernimento. Afinal, era APENAS a direção da Nação que seria entregue a um torneiro-mecânico, na esperança de, sendo ele um de nós, tornear o destino da Pátria - nem tanto amada, nem tanto idolatrada, gritando apenas pelo salve, salve! – Mas qual o quê, o torno quebrou, o parafuso entortou. Pensando bem... Não foi só um dedo que a máquina engoliu, engoliu a nós todos.

Fazer o quê... Eu só não queria era perder a esperança, mas pelo jeito o torno triturou. Que apareça o senhor bispo para eu me queixar.