quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ESTOU INDO VER O MAR DE TABATINGA



Cansei de esperar palavras tuas

Teu silêncio é minha deixa

Sem queixa

Me deixa (Deixa - Nena Medeiros)


Pois é caríssimo (a), mesmo que a sua Matilde, o seu Matildo não lhe dê a menor condição; que você tenha ido dormir às quatro horas da manhã, queimando as pestanas, lendo Miguel Reale e se preparando para prefaciar o livro do Emanuel, o famoso Kekel aqui do Recanto, que trata da Filosofia do Direito; que você seja acordada às 5:30 da manhã com o radinho de pilha de sua ajudante de ordem a todo volume tocando uma musiquinha repetitiva, que diz: “primeiro tu oia pra tu pra depois oiá pra eu / primeiro tu fala de tu pra depois falar deu”.


É pouco? Não, não é , mas não perca as estribeiras, apegue-se ao cheiro do café gostoso que entra narina adentro que estará pronto quando você levantar.


Além do mais se você mora na filosofia e já que perdeu o sono, levanta vai escrever um poema, só não vale rimar amor com dor, ou se não for chegada aos versos ,escreve uma prosa e se você não tiver os tais dos “bons modos” pode apelar e se tiver a fim de sacanear alguém use o estilo desabusado de Susarião de Megara e escreva uma comédia satírica.


Os satirizados, as supostas “vítimas” são os que não faltam, “oia” só a classe política. Eu, besta como sou, por certo iria criticar Homero por ter escrito a sua Batraquiomaquia; Virgílio que cantou o mosquito e a amoreira e Ovídio, a nogueira; Glauco que enalteceu a injustiça; Sinésio, a calvície e Luciano, a mosca parasita; finalmente, Sêneca que escreveu o diálogo do grilo com Ulisses; Luciano e Apuleio, que falaram sobre o burro e Grunnio , que fez o testamento do porco.


Mas falando sério, eu me valeria mesmo era de Erasmo de Rotterdam para satirizar todos nós sob o ponto de vista da LOUCURA, sem a influência de Demócrito, que ridicularizava os acontecimentos da vida humana.


É porque hoje é sábado, o que digo não passa de tagarelice minha, estou indo ver o mar de Tabatinga...

PONTO FINAL



Não importa se haverá vida além do ponto final,

o que sei que neste momento exerço o meu direito de

"acabativa"

e pratico a

“eutanásia”.

Não sobre a vida,

mas sobre um sentimento em estado terminal

e este meu texto é porta voz deste

ponto final.

faço, não em busca da paz ,

mas com a visão de águia,

que na altura de seu vôo

nada mais percebe ao rés do chão

ESTADO DE ROMANCE




Por que tudo isso está distante

E me parece presente,

Na visão,

No sentimento,

Na saudade?(...)

(Aquele Tempo – João Wilson)


Terminei a leitura de “Principalmente o Amor”, um livro de poemas do imortal João Wilson Mendes Melo, escritor e poeta aqui da minha terra a quem muito preso. Leitura encerrada. Com o livro entre as mãos e sobre a influência do que li, me indaguei: que morte você teme?


O que me veio de pronto foi de que a morte temida por mim é a do amor , da esperança, da alegria. Tudo me “encanta, entusiasma e arrebata”, (apesar de...) ainda não consegui sair do “estado de romance” de que fala o filósofo inglês Whitchead, citado por João Wilson.


Assim , como diz o poeta, enquanto a cotovia não canta e a luz clara do dia não tira o encanto das coisas, deixo-me levar e enlevar por esse “estado de romance” que me conduz à meditação e ao sentimentalismo, estabelecendo, por que não dizer, uma vida diferente do cotidiano.


Isto enquanto não me encontro, não me compreendo, coisa aliás que não tenho muita esperança não. Afirmo tal, lembrando-me de psicóloga Santa Tereza de Ávila, que afirmou da impossibilidade dela mesma se compreender.


Ah, os poetas! Sempre a procura de definir a vida, quando esta não se define: vive-se! E o homem? Para Peguy não passa de um poço de inquietude, mais inquieto que toda a criação. Já Carrel , simplesmente, disse: "o homem esse desconhecido", haja vista a impossibilidade de penetrar nas entranhas do seu coração. ...Sei não... Sei não Apollinaire, você que pediu piedade para os poetas porque exploram as fronteiras do irreal, vos digo: também faço isso, acho que sou poeta...


“E um dia sei que estarei mudo: - mais nada” Cecilia que o diga.


( A foto que ilustra este texto não é de nenhuma ilha grega e sim da varanda de um restaurante de Tabatinga a minha praia)

NADA VIRÁ DO NADA



"Vez por outra me vejo na captura de mim mesma e quem sabe tentando desmascarar sob o verniz do cotidiano um mundo de desejos e fantasias inconfessáveis"(Clarisse Lispector)


Já foi dito que Deus deu ao homem o dom da palavra para que ele possa esconder os seus próprios pensamentos.


Vem outro e diz: “ouve-me, ouve o silêncio, o que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa!
Estas são palavras daqueles que já se foram, mas por serem fortes permanecem até hoje.


Neste momento, ao meu redor, um silêncio pesado. Meus olhos vagueiam por entre monstros sagrados enfileirados à minha frente.


E lá está Schopennhauer, que a mim tanto impressionaram os seus aforismos. Maquiavel, que a minha inteligência não alcançou os seus conselhos ao “Príncipe”, mas que me deleitou em “A Mandrágora”.


Vosmecê, Jean-Paul Satre, que o tradutor nos adverte em a “Idade Razão”, do emprego indiferente do “você” e o “tu” e das constantes repetições, coisas para as quais nem estavas aí.


Voltaire, que o Sérgio Milet afirma, já na sua época era acusado de plágio: “Voltaire, como todos os grandes escritores clássicos faz seus os bens que encontra”, valeu seiscentas e setenta páginas de histórias curtas que compõem “Zadig ou o Destino”. Nicolai Vassilievith Gogol, “Almas Mortas”, li vosso livro de um fôlego só, pena que não tenha final. “As Vinhas da Ira”...


Meu caro John Steinbeck: o vosso romance retrata o passado de um povo, que para nós, principalmente, nós nordestinos, ele é o nosso presente.


Aqui temos os nossos “bóias-frias”; lá a terra da promissão era a Califórnia, aqui é (era) São Paulo; os juros também são altos e os impostos idem; os Bancos tomam terras, sim senhor, em geral dos pequenos lavradores; os grandes latifundiários não plantam algodão como lá plantavam os seus, aqui é soja tipo exportação.


Aqui se mata por terra. Aqui se morre de fome, também.


Companheiros meus, em mim a necessidade de escrever, mas dentro de mim permanece o nada. “ Nothing will come of nothing. I cannot bring my heart into my mouth” ( Shakespeare através de sua personagem Cordélia, filha do King Lear)


Pedante as citações. Ah, Que o sejam! Mas, como diz a Cordélia, quisera eu trazer o meu coração até minha boca, contudo, bloqueiam-me sentimentos menores, fala mais alto um processo autodepreciativo, desconhecendo valores, se é que os tenha.


Falaria eu do quê? Às vezes eu comungo do mesmo pensamento atribuído ao filósofo grego Górgias de Leontino: “Nada existe. Mesmo se existisse alguma coisa, não poderíamos conhecê-lo.


Concedido que algo existe e que podemos conhecer, não poderíamos comunicar aos outros.


É como disse um amigo meu: “você se esconde na ostra e ainda justifica. Simplesmente...anota”.


Sabe ele que : “Só merece nosso crédito aquele que discorrer sobre coisas de sua experiência”. (Hermann Hesse).


E, diante desses “Titãs,” desde a altura em que se encontram, se dignar um deles, alguma vez, dirigir um olhar para a minha humilde posição, saberá de que mísera maneira sofro o grande e constante rigor de nada saber. ( vai ver que eu li isto em algum livro..., lembrei! " "O Príncipe" de Maquiavel).


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

SOBRE O RISO - 1891 A 2009O QUE FOI QUE MUDOU?




Bem, pela foto ai de cima, você há de convir, que pareço ser uma pessoa sorridente, de bem com a vida. É, pode ser...


Contudo, vamos conhecer o pensamento do grande escritor português Eça de Queiroz, que escreveu no ano de 1891, na Gazeta de Noticias, (Pensamentos/Reflexões) sobre “A Decadência do Riso”, onde explica o porquê.


Vejamos: Primeiro vamos nos situar no tempo: 1891.


Textualmente proclama Eça: O riso acabou! Não se faz de rogado e diz o motivo: a humanidade entristeceu. E entristeceu por causa da sua imensa civilização. E prossegue: quanto mais uma sociedade é culta – mais a sua face é triste.


Foi a enorme civilização material, a política, a econômica, a social, a literária, a artística que matou o nosso riso. Tanto complicamos a nossa existência social, que a Ação, no meio dela, pelo esforço prodigioso que reclama se tornou uma grande dor. – tanto complicamos a nossa vida moral, para fazer mais consciente, que o pensamento, no meio dela, pela confusão em que debate, se tornou uma dor maior.


O homem de ação e de pensamento, hoje, está implacavelmente votado à melancolia. Ai digo eu, em consonância com o escritor, que a razão dessa melancolia, dessa tristeza do homem de ação e de pensamento, tem a sua razão de ser, encontra-se no mundo, que é a sua obra e que só pode mostrar tristeza.


Tristeza na sua literatura, tristeza na sua sociedade, tristezas nas suas festas. Tristeza dentro de si, tristeza fora de si... E, finalmente, quando por acaso alguém por profissão tradicional, como os palhaços, ou por contraste, ou pela saudade da antiga alegria e o desejo de ressuscitá-la, procura fazer rir este mundo – só lhe consegue arrancar a tal casquinada curta, áspera, rangente, quase dolorosa, que parece resultar de cócegas feitas nos pés de um doente.


O ano das reflexões de Eça, já foi dito: 1891.


Nós estamos no ano de 2009. O que foi que mudou...?

ALÉM DO ARCO ÍRIS




Basta-me um pequeno gesto,feito de longe e de leve,para que venhas comigo

e eu para sempre te leve...(Cecilia Meireles)


Ah, se os nossos problemas se derretessem como expressa a crença infantil de que o céu magicamente abrirá uma porta de um lugar onde os problemas se derretem como em gotas de limão ( Where trouble melts like lemon drops – Somewhere Over the Rainbow)


Imaginemos pois, céu azul por sobre o arco íris e por que não pássaros azuis sobrevoando e confundindo-se com esse azul do céu? É você não desejando um pote de ouro no fim desse arco íris, mas sim, que os sonhos sonhados se realizem. Só, que sonhos são quimeras e a vida é verdade e tem tantos mistérios...


Costumo vez por outra parar para pensar sobre eles. Nem sempre tenho respostas, ou melhor, nunca as tenho. Há momentos que não sei nem para que se vive! Embora seja consciente de mim e das minhas ações e que busco os meios para alcançar a felicidade, o bem estar, sem contudo me servir do próximo como escada.


Nessas horas é que me valho da Filosofia, que é o perguntar sobre, é questionar a fim de encontrar uma resposta segura para o agir.


É querer saber como e porque para melhor viver.


E colocando em tudo isso todo o amor meu, a quem dedico a você, você e você.

ONTEM FOI OUTRO DIA.HOJE RESOLVI DESERTAR NO MUNDO




A crônica de Rosa Pena sob o título “ Que onda...Que cara...Que bunda!” publicada ontem aqui neste Recanto contém tantas verdades, que eu resolvi desertar deste mundo, vasto mundo,além do mais não quero esperar pelo ano de 2020, para morrer de depressão, já que fui por Deus abandonada, que nem o Drummond, que reclama lá no seu poema quando diz:


“ Meu Deus por que me abandonaste / Se sabias que eu não era Deus / Se sabias que eu era um fraco”. Coisas do Drummond.


Mas eu estou partindo em busca de Lao-Tsé, que já morreu faz tempo, lá entre 604/517 a.C,- mas que não faz diferença vivo ou morto, creio nele - a quem se atribui a fundação de um movimento filosófico que se transformou em religião: o tauismo.


Por ai eu vou correr atrás da “paz absoluta”, pela completa submissão à natureza, cujos valores são a pureza, calma, simplicidade e unidade.


A soberana indiferença é a atitude que caracteriza o sábio tauista, que ensina a “não-ação” (wuwei).


Guerras, governos, convenções e cerimônias são igualmente tidos como destrutivos por não serem fatos “naturais”. (assim, é uma peninha, mas nem vou votar na verde Marina, já que a “minha religião” não permite)


E como não brinco em serviço, cá estou devorando o Livro do Tau, já me sentindo revestida de uma soberana indiferença e já instruída para a não- ação .


Desta forma, tanto faz como tanto fez, pouco me importo que o Sarney deite e role no Senado, que Lula continue a anta do Mainardi e mesmo assim eleja Dilma; que Collor ou Renan saiam de vice; que o bispo Macedo compre mais um jato para concorrer com o filho do dr. Roberto, que o BBB volte sob o comando de Bial; que Faustão continue reinando aos domingos; que Gugu sirva ao bispo; que Vanuza desconheça a letra do Hino nacional; que a Sacha escreva cena de teatro com “s” por ter sido alfabetizada na língua que o meu cavalo não fala: inglês.


E, finalmente,tô nem mais ai para quem eu quero e não me quer e para quem me quer mandei embora.

PS:Uma explicação: existe controvérsia sobre se existiu ou não o tal do Lao-Tsé. Se existiu foi contemporâneo de Buda.


E por falar em Buda, você sabia que o Cardeal Barônio, (1538/1607) por engano, o introduziu na higiografia cristã como São Josapth, celebrado a 27 de novembro.


Assim, você cristão, se fizer alguma promessa a São Josapth está fazendo a Buda, viu?

DEU CERTO COMIGO TENTE VOCÊ SE FOR O CASO



Certa vez eu indaguei pra mim mesma o que a gente diz, o que a gente escreve quando se sente feliz. E sabe o que eu descobri? O quão egoísta eu sou. Sabe por quê? Neste momento me sinto feliz e tenho dificuldade de falar, de repartir este meu momento. Esquisito isto, se fosse para falar de tristeza as palavras por certo jorrariam aos borbotões.

Razão tem Flaubert quando disse: “ O autor, em sua obra deve ser como Deus no Universo: onipresente e invisível.”

Pois é, há um renovar-se de esperança: ESTOU FELIZ, e acho explicação nas palavras de Calímaco, personagem da comédia de Maquiavel, intitulada “A Mandrágora”, que diz o seguinte:


“ Não há situação tão desesperadora que não tenha um caminho aberto para nele depositarmos esperança; ainda que esta seja débil e vã, a vontade e o desejo que fazem o homem levar sua causa até o fim o deixam ver os obstáculos”.

Uma vez enxergado os obstáculos, fatos analisados, ponderações feitas, então descobre-se de que o diabo não é tão feio quanto se pinta, daí, enxuga-se as lágrimas, dá-se um sorriso e mostra-se ao mundo que é feliz.


Deu certo comigo, tente você, se for o caso

domingo, 20 de setembro de 2009

POESIA É UM ATO DE PAZ





Eu amei-te; mesmo agora devo confessar,
Algumas brasas desse amor estão ainda a arder;
Mas não deixes que isso te faça sofrer,
Não quero que nada te possa inquietar.
O meu amor por ti era um amor desesperado,
Tímido, por vezes, e ciumento por fim.
Tão terna, tão sinceramente te amei,
Que peço a Deus que outro te ame assim.
(Alecksandr Pushkin)




Gosto de poesia e comungo do mesmo pensamento de Pablo Neruda, que deixou dito que a poesia é sempre um ato de paz. O poeta nasce da paz como o pão nasce da farinha.


Encantam-me a poesia lírica, que costuma retratar um momento emocional e também os poemas que expressam sentimentos que tocam a alma, como o amor.


Levi Trevisan afirma que a poesia é a mínima distância entre o sentimento e o papel.


É dito que a matéria-prima do poeta é a palavra e, assim como o escultor extrai a forma de um bloco, o escritor tem toda a liberdade para manipular as palavras, mesmo que isso implique romper com as normas tradicionais da gramática.


Limitar a poética às tradições de uma língua é não reconhecer, também, a volatilidade das falas.


Bem, fiando-me na liberalidade que é dada ao poeta, atrevo-me a deixar com você o poema que se segue:



QUE FIM MELANCÓLICO


(Zélia Maria Freire)


Que fim melancólico


Para o que se presumia


Ser um grande amor


Nem os meus braços


Encontram mais forças


Para estender-se


Perde-se no vazio


Parte de um corpo Cansado


Da minha boca


Já não se ouve um


Por favor me entenda


Fica comigo


Eu só queria compreender


O porquê deste quase inferno


Quando não mereço


E cá estou


Tão triste


Tão sozinha


Só com as minhas lembranças


E o que restou dela


Dói tanto...


Por que se resume


Numa


Cabeça sobre um colo


Que não é o meu






O CORVO E A CARTA




Meia noite já era e eu lia “The Raven” de Edgar Allan Poe. Foi quase adormecida que ouvi bater à minha porta. Uma visita a esta hora ? eu me disse. Ou será “Never more” o Corvo de Poe, pensei.

Não abri a porta, além do mais estava coberta de nostagia, envolvida que fiquei pela leitura e me fiz um ser tão solitário quanto o poeta e pretendia continuar como tal; não desejava visita indesejada e inesperada de quem quer que fosse.

Enquanto isso os meus pensamentos detinham-se numa carta que tinha em mãos e estava tomada pela idéia de transcrevê-la, era uma carta de despedida, de amor que não deu certo, não muito bem escrita, cuja autora eu desconheço e muito menos o distinatário. (vou consultar o meu amigo de “A Emoção Solidária”, João Wilson Mendes Melo se sabe algo sobre a autora)

Vejamos:...
“Não sei o que houve entre nós. Não sei por que houve.. Deve ter passado uma infinidade de anos enquanto estávamos juntos. Imaginariamente. Depois veio o vazio, o caos, o tormento, esse vento cruel...
E para que se amar num tempo de agora? Um dia a gente pára e se vê que não seguiu nenhuma meta.

Por que as coisas foram difíceis para nós? Pudera eu me mirar nos teus olhos e correr de mãos dadas num campo de primavera... E ter o coração em paz, aberto para amar e ver o bem, tudo com os olhos do amor.

Nossos encontros poderiam ter sido de alegria. De grande amizade. Eu queria você e você me queria. Perdemos o tempo de ser feliz, afinal.


Olho ao nosso redor e tudo continua igual nessa jornada da vida, se bem que reconheço que somos de mundos diferentes. Nada mesmo poderíamos ser um para o outro, a não ser grandes amigos.


Eu sei que você sabe disso também, Se não pudermos mais nos ver, eu deixo aqui a minha despedida, o meu afeto e minha gratidão por uns momentos de felicidade que eu vivi.


Fica, entre todas as lembranças, a saudade – a única coisa que sempre resta de tudo o que é puro e bom nesta vida, onde a gente representa um papel.”
...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

QUANDO REALIDAE? QUANDO FICÇÃO?




Escritor é o artista

Da Palavra que se expressa

Através da arte da escrita

O quanto é difícil para o escritor mesmo dentro de um contexto ficcional desvincular a personagem não permitindo que ela se projete sobre a sua vida e interaja com o humano real que é.

Seria isso uma reflexão metaliterária? Será que o escritor não se apercebe e tem consciência de que a literatura, de alguma forma, projeta-se sobre a sua vida? Sobre os seus verdadeiros sentimentos? Vive ele as situações criadas? O que existe por trás de cada palavra escrita?

Quando o escritor transgride os limites entre o real e o imaginário? Até onde a sua imaginação o leva e a sua capacidade criadora engendra fantasias e estabelece relações de cumplicidade entre ele e o leitor?

Será que é a partir do momento em que o que foi escrito convence? Seja sobre injustiças, amores não resolvidos, felicidade, tristeza, ódio etc.


Se convencido o leitor, tudo pra ele torna-se realidade?

Realidade ou fragmentos dela transformado em ficção...?

PS: andei lendo o prof. Carlos Reis, que entende de Eça de Queiroz.

SOBRE A TRISTEZA DO BICHO HOMEM - MAS TEM QUEM RIA




E eu que não me chamo José, o meu sonho não acabou, o meu mar não secou, achei a porta, só não vou pra Minas por que Drummond disse que Minas acabou .


Daí... quem sou eu pra duvidar do finado poeta, né não?

Tem nada não, recebi convite de Montaigne para assistir uma palestra de Ovídio sobre a tristeza do bicho homem, só que Montaigne é frontalmente contrário a esse sentimento, e condena o homem por valorizá-lo e se enfeitar “com esse adorno pobre e feio”.


Mas ai eu ponderei e disse para o coleguinha: espera lá! Não é por ai!


Existe tristeza onde a dor é tão sofrida que fica além de qualquer expressão e ai não tem como não se adornar com ela, e tu sabes disso, está escrito nos teus Ensaios.


E fomos nós ouvir Ovídio, que começou falando de uma personagem da mitologia lembrada por Cícero, chamada Niobé , que os poetas descreviam como “petrificada na dor”, tamanha a sobrecarga de desventura por ela recebida, perdeu seus sete filhos viu morrer as sete filhas.


Então, ele explicou o sentido que é dado ao “petrificada na dor, que corresponde a uma espécie de embrutecimento sombrio, surdo e mudo que se apodera de nós quando as ocorrências nos esmagam ultrapassando o que nos é dado suportar.


E, efetivamente, uma dor excessiva, exatamente porque excessiva, deve estupidificar a alma a ponto de paralisar qualquer gesto, como acontece quando recebemos inesperadamente uma péssima notícia. Somos tomados de espanto, penetrados de pavor ou de aflição e tolhidos em nossos movimentos até que à prostração suceda o relaxamento.


Surgem então as lágrimas e os lamentos que aliviam a alma e como que lhe permitem mover-se mais à vontade, é com dificuldade que afinal recupera a voz e pode exprimir sua dor.


Segundo Ovídio, esta é a forma do homem sentir e exprimir a sua dor, a sua tristeza.

E, como nada mais foi dito nem perguntado, deu-se por encerrada a palestra.


Saímos , eu e Montaigne por ai chutando pedrinhas, sem contudo deixarmos de pensar no bicho homem, pois em verdade, dizia meu companheiro, que este é de natureza muito pouco definida, estranhamente desigual e diverso.


Dificilmente o julgaríamos de maneira decidida e uniforme. Enquanto um chora outro ri, enquanto um se diz triste outro se diz alegre, enquanto um mente outro diz a verdade, enquanto um ama outro desama, enquanto um vive outro morre.
.


..Para chegarmos à conclusão que assim são os homens, assim é a vida e sentenciar...

Sobre a vida, só nos resta vivê-la e suportá-la.

Quanto aos homens, que nos aturemos mutuamente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

POR UMA AMIGA




“De tanto ler a vida dos Outros... /

Esqueceu de Escrever...

páginas da própria vida vazias

(Rejane Chica)





REJANE CHICA: A expressão é forte, mas já usei. Hoje, por você, por conta dessa figura que esqueceu de escrever as páginas vazias da vida e que tentou te magoar eu indago : Alguma vez na sua vida pôs a educação de lado e virou-se para alguém que vem abusando de sua paciência e disse alto e bom som: DANE-SE!!!?


Se não disse precisa dizer para sentir a sensação de alivio que provoca esse desabafo!

Também indago: você é das que acredita que existe um limite pra tudo; que tudo cansa na vida; a injustiça, a intolerância, a incompreensão, a maldade a desconfiança ; além de promessas que não se cumprem; tempo que engana; passos que não se alcançam; “ fatos que desarrumam nossos dias já desarrumados”.


E tudo por quê? Por conta dos ciclos que temos que passar ao longo da vida com todos os atropelos ligados a religião, relação amorosa, trabalho, insensibilidade, brutalidade, enfim, o escambau .

Sabe o que mais? O tal do DANE-SE tem lá a sua importância na filosofia.


Vejamos o que diz o filósofo e estudioso de Epicuro , professor Wilson Correia: ele afirma que de acordo com o tetraphamakon epicurista, a saúde mental de uma pessoa está diretamente ligada à quantidade de “ DANE-SE” que ela é capaz de dizer em meio a ciclos e processos que, de outra forma, poderiam causar preocupação e todo tipo de desgaste pessoal. Não se trata de irresponsabilidade, mas de certa maturidade.


E que esse “ DANE-SE” é o outro nome da serenidade ataráxica da fala de Epicuro.

Se assim é, minha querida amiga, em nome do prazer natural possível que aplaca os desejos e dá felicidade o melhor mesmo é “não estar nem ai” para certas coisas, fatos e pessoas, sobretudo para os seres humanos que teimam em não agir como gente digna de si mesmos e daqueles que os cercam.


Para estes, faço coro contigo e... que SE DANEM, e que vão estudar e entender Epicuro .

SOBRE O BICHO HOMEM:ENQUANTO UM CHORA O OUTRO RI




E eu que não me chamo José, o meu sonho não acabou, o meu mar não secou, achei a porta, só não vou pra Minas por que Drummond diz que Minas acabou .


Daí... quem sou eu pra duvidar do finado poeta, né não?


Tem nada não, recebi convite de Montaigne para assistir uma palestra de Ovídio sobre a tristeza do bicho homem, só que Montaigne é frontalmente contrário a esse sentimento, e condena o homem por valorizá-lo e se enfeitar “com esse adorno pobre e feio”.


Mas ai eu ponderei e disse para o coleguinha: espera lá! Não é por ai! Existe tristeza onde a dor é tão sofrida que fica além de qualquer expressão e ai não tem como não se adornar com ela, e tu sabes disso, está escrito nos teus Ensaios.

E fomos nós ouvir Ovídio, que começou falando de uma personagem da mitologia lembrada por Cícero, chamada Niobé , que os poetas descreviam como “petrificada na dor”, tamanha a sobrecarga de desventura por ela recebida, perdeu seus sete filhos viu morrer as sete filhas.


Então, ele explicou o sentido que é dado ao “petrificada na dor, que corresponde a uma espécie de embrutecimento sombrio, surdo e mudo que se apodera de nós quando as ocorrências nos esmagam ultrapassando o que nos é dado suportar.


E, efetivamente, uma dor excessiva, exatamente porque excessiva, deve estupidificar a alma a ponto de paralisar qualquer gesto, como acontece quando recebemos inesperadamente uma péssima notícia.


Somos tomados de espanto, penetrados de pavor ou de aflição e tolhidos em nossos movimentos até que à prostração suceda o relaxamento.


Surgem então as lágrimas e os lamentos que aliviam a alma e como que lhe permitem mover-se mais à vontade, é com dificuldade que afinal recupera a voz e pode exprimir sua dor.

Segundo Ovídio, esta é a forma do homem sentir e exprimir a sua dor, a sua tristeza.

E, como nada mais foi dito nem perguntado, deu-se por encerrada a palestra.

Saímos , eu e Montaigne por ai chutando pedrinhas, sem contudo deixarmos de pensar no bicho homem, pois em verdade, dizia meu companheiro, que este é de natureza muito pouco definida, estranhamente desigual e diverso.


Dificilmente o julgaríamos de maneira decidida e uniforme. Enquanto um chora outro ri, enquanto um se diz triste outro se diz alegre, enquanto um mente outro diz a verdade, enquanto um ama outro desama, enquanto um vive outro morre.

...Para chegarmos à conclusão que assim são os homens, assim é a vida e sentenciar...


Sobre a vida, só nos resta vivê-la e suportá-la.


Quanto aos homens, que nos aturemos mutuamente.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

NÃO ERA NO TIBETE QUE EU ESTAVA




“Salve ó vento!

Eu te saúdo:

Se você é habitante daquele mundo

Pelo qual anseio;”

(do poema “Amigos do Infinito” de Somtow P. Sucharitkul)


Por alguns dias estive nas alturas, e embora um encontro com um Dalai Lama me seria benéfico, não era no Tibete com os seus 4.500 metros acima do mar , que eu estava, se bem que, geograficamente, onde me encontrava, lembre aquela região,pois é também uma planicie, só que não é cercada de altas montanhas e sim baixos montes, que não são essas coisas todas e não pode ser considerado o “teto do mundo”.


Durante esses dias mudei completamente o meu modo de vida e confesso que foi até divertido, me vi às voltas com todos os afazeres domésticos e dei conta direitinho (só não rachei lenha).


Contudo, sobrava tempo para devaneios, para sentir a fúria do vento, que, com os seus gemidos, parecia se contorcer de dor e no seu redemoinho desfazia os meus sonhos, as minhas lembranças, os meus pensamentos mais extravagantes e os levava consigo.


Acho que o vento chorava... Por mim...? Será... ?


Mas quem disse que eu preciso de choro?


De há muito cortei com a espada de Alexandre, o nó dado pelo rei Górdio e hoje sou senhora e dona, não da Ásia Menor, mas de mim mesma e cá estou caminhando pelas colinas “A Sombra do Vento”, com a boca escancarada sem olhar para trás para não correr o risco de virar estátua de sal.


Devo confessar também, que bateu saudade de escrever e dos amigos do Recanto.


Sabe, eu que falei que me faria bem um dedinho de prosa com um “bodisatva da compaixão” e quem sabe uma espichadinha ao templo Jokhang, para prostar-me, bater no peito e pedir perdão por haver pecado por pensamento, palavras e obras, chego à conclusão que isso é perfeitamente dispensável, sabe por quê?


quem tem uma Rejane Chica , que todas as manhãs através de seus escritos nos dá uma injeção de ânimo, nos fazendo ver a simplicidade de bem viver, de observar a natureza, de ser mais tolerante com o nosso semelhante;


quem tem uma Milla Pereira, com a sua poesia, que fala do amor pleno e nos leva a sonhos e doces recordações;


quem tem uma Nena Medeiros, versátil, que nos faz rir com os seus “causos” bem contados, e enlevada quando envereda pelo campo da poesia ;


quem te uma Malu, que, com a sua ternura sempre nos emocionaquem tem a Dolce Vita, profunda, de casamento perfeito com a palavra e de humor refinado;


quem tem o José Cláudio tão verdadeiro nas suas abordagens;


quem tem a Léia Batista sempre nos surpeendendo com suas crônicas bem escritas


quem tem a Ãngela Gurgel,com sua inteligência e intimidade com a palavra ;


quem tem a Brigeth, onde você tem sempre a certeza de uma boa leitura;


quem tem o Kekel com a sua irreverência;quem tem a Evelyne Furtado com o seu jeito inteligente e intimista de ser;


E tantos outros(as) cronistas, de estilo próprio que encantam os leitores aos quais presto também as minhas homenagens e o meu reconhecimento, confessando, que realmente, contando com vocês não preciso recorrer a outras fontes de conhecimento para levantar o astral.


Acho que não mesmo!

CONVERSA MOLE PARA BOI DORMIR





Pois é, cá estou, “perfeita – não curada, mas como se nunca tivesse havido ferida” (andei lendo “Lua Nova” de Stephenie Meyer)

Mas como se nunca tivesse havido ferida... Existe um processo para se alcançar esse estado: O ESQUECIMENTO.

E por falar em esquecimento é dito que a vida seria insuportável se nos lembrássemos de tudo que acontece.

Assim, se o momento exige a necessidade de esquecer fatos ou pessoas, encare, esqueça, diga adeus – que foi feito para se dizer- e toque a vida pra frente. Afinal, como disse um amigo meu, que não era analista, que nesta vida existe tempo pra tudo: há tempo de nascer e tempo de morrer.


Tempo para destruir e para edificar. Tempo para rir e tempo para chorar.


Tempo para juntar as pedras e tempo para jogá-las.


Tempo para esquecer...


O resto... ah o resto... é conversa mole para boi dormir

FICA COMBINADO ASSIM...




E eu que pensava que era poeta, que os meus versos continham mensagens que faziam sentido. Eu que pensava que a minha dor salvaria o mundo chego à conclusão que a conclusão nenhuma cheguei.


Então, por que me preocupar com isso ou com aquilo, afinal quem plantou os lírios dos campos? Então não me pergunte se quero algo porque tenho tudo e nada mais quero, só que saia da frente do meu sol, o que me lembra Diógenes, o cínico, que dizia que na vida precisamos apenas de duas coisas: de razão ou de uma corda para nos enforcarmos.


Fico com a razão, com o conhecimento que me pertence pela natureza e estrutura da minha mente, que não sei se funciona à contento, pois confesso que às vezes me sinto um Hegel da vida e o meu desejo é de apresentar tolices e extravagâncias sem sentido. Ai a minha mente reage e me joga nos braços de Fichte e tome tese, antítese e síntese para encontrar a fórmula da realidade.


E lá vou eu aprender que a função da mente e a tarefa da filosofia é descobrir a unidade que jaz, em potencial na diversidade. Que a tarefa da ética é unificar caráter e conduta e a tarefa da religião é atingir e sentir aquele Absoluto, no qual todos os opostos são reduzidos à unidade; a matéria e a mente, o sujeito e o objeto, o bem e o mal se tornam um só. E que no homem o Absoluto se eleva à consciência de si mesmo e passa a ser a Idéia Absoluta - isto é, o pensamento realiza-se como parte do Absoluto conseqüentemente transcende as limitações e finalidades individuais, captando a harmonia oculta de todas as coisas.


E que a “Razão é a substância do universo;... o projeto do mundo é positivamente racional” (Hegel – Filosofia da História/ Filososfia de Emanuel Kant pela visão de Will Durant)).


Encerro, mas fica combinado assim: se um dia você me encontrar por ai com um pé calçado e o outro descalço sujo de lama, não diga nada, não me censure, apenas me ensine o caminho de casa.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

FAZ PARTE DO SHOW



Hoje é dia de casa quase vazia, mas as portas do teatro estão abertas e o verdadeiro artista sente necessidade de se exibir, nem que seja para uma platéia composta de uma única pessoa.


E aqui abro um parêntesis para dizer que já atuei para um único espectador, que costumava me aplaudir de pé a cada representação. Ele sabia que eu representava só pra ele...


Hoje quando piso no palco o meu olhar se volta para a primeira fila, mas uma cadeira vazia diz tudo...


Sim, hoje teremos espetáculo e eu que já representei Cróstinos, Plauto e Terencio desta vez fui escalada para fantoche, não terei fala, serei manipulada, expressarei as emoções e sentimentos de quem vai me movimentar e se sucesso a peça alcançar, caberá os aplausos ao meu manipulador, afinal, seguindo o script colocará palavras na minha boca.


Só me cabe esperar na coxia que o cenário mude e o palco rode para entrar em cena.


E com certeza os meus olhos se voltarão para a cadeira vazia da primeira fila.


Faz parte do show.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

"ACABA LÁ COM ISSO,Ó CORAÇÃO!"



Mesmo não sendo portuguesa e na certeza de que não existe por aqui nenhum Marques de Pombal, quisera eu ser “sebastianista”, pois se assim fosse, a cada crise , quando o sino tocasse eu sentaria na pedra e esperaria - ouvindo as mensagens de Fernando Pessoa - a volta de El Rei D. Sebastião, que nesse meu messianismo acredito na sua volta e que por certo nos salvará de tudo o que há de mau dentro da nossa dura realidade.


Mas existe quem afirme que nada de esperar pelo “Encantado” , melhor ficar pensando no otimismo de Leibniz, que disse que vivemos no melhor dos mundos possíveis.


E acreditar em Santo Agostinho quando afirma que o mal, sendo a ausência do Bem, não existe por si só. E ainda justifica o sofrimento, lembrando que ele pode ser gerador de um bem maior.


Sabe, cada um que siga o seu caminho... Hoje, decididamente não é um bom dia para escrever e esta minha crônica se Artur da Távola estivesse vivo bem poderia qualificá-la como um verdadeiro “samba da literatura”.


Também, quem manda eu ter acordado pelo avesso do avesso e tão macambúzia que até eu estou com peninha de mim .


Ah, não sei por que estou a justificar-me! “Sou quem todos são... / Modificar-me? Para o meu igual?... / - Acaba lá com isso, ó coração!” (Fernando Pessoa).

O SILÊNCIO



“A fala é a civilização em si.A palavra mesmo a maiscontraditória palavra, preservao contato – é o silêncio queisola.” ( Thomas Mann)


Não . Não é a canção “Il silenzio” saída do golden trumpet de Nini Rosso, nem tampouco de uma outra canção que diz: “silêncio no dia/ silêncio na noite / está tudo calmo /a cidade dorme , que me servirão de tema para esta crônica, falarei sobre o silêncio que me aflige e...


O silêncio que me aflige, eu diria, parafraseando William Hazlitt, é um que me ofende mais do que a minha impertinência. A impertinência é minha, o silêncio não.


A impertinência é fruto do meu desejo de conhecer as sensações de quem se faz silenciado. É querer saber se nesse silêncio não está em questão o precioso valor da palavra.


É o querer entender e aceitar o limite entre o Eu e o Outro, pois conforme explica o psicanalista Elcio Mascarenhas, nas relações que se estabelecem também e se deixam aparecer os distanciamentos e os vazios, os lugares onde as palavras faltam, a ausência do contato.


Nestes momentos percebidos quando todas as coisas se calam no mundo exterior e ainda não se apercebeu dos outros sons, quando algo se interrompe deixando em seu lugar um vazio contido na experiência de perda dos referenciais, é neste nada percebido que se toma como um ponto de mutação, um ponto precisamente marcado pelo silêncio nos campos do tempo e do espaço.


Também sou levada pelo dilema kafikiano e me perco sem saber ao certo se sou eu o silêncio do outro, se vivo num “mundo de imagens projetadas no espaço abstrato do pensamento” e o


Outro é apenas produto da minha imaginação. Simplesmente não existe.

SANTO AGOSTINHO E EU




“Senti e experimentei não ser para admirar

Que o pão, tão saboroso ao paladar saudável

Seja enjoativo ao paladar do enfermo, e que

A luz, amável aos olhos límpidos, seja

Odiosa aos olhos doentes.” (S. Agostinho)



Confesso, que Santo Agostinho e eu temos cá as nossas afinidades.


Gosto dele, está sempre disposto a conversar comigo, só que às vezes ele extrapola nos argumentos tentado me converter, ai eu digo: calma Agostinho, ainda não chegou a hora, mais “torto” do que eu você foi e hoje pousa de santidade; quem sabe, um dia, também vire “Santa Zélia” e a turma cá de baixo me faça promessas, boazinha como eu sou, atenderei a todos e nem precisa acender velas, é só bater um fio direto.


Outro dia a gente estava conversando sobre amizade, então ele me contou, sobre um amigo que perdeu no tempo em que ele não acreditava em Deus.


Disse-me ele que tinha um amigo e que a amizade entre os dois era sumamente doce, aquecida ao calor de idênticos propósitos.


Acontece que , o amigo, que também era ateu, apanhou uma febre e ficou entre a vida e a morte e como acreditavam que ele ia morrer , resolveram batizá-lo.


Mas o amigo não morreu. Agostinho falou pra ele, de forma injuriada, do batismo que ele foi submetido, mas o amigo reagiu e disse pra ele, que se quisesse continuar com a sua amizade, não censurasse o ato.


Ai aconteceu o pior, o amigo teve uma recaída e morreu. Agostinho estava ausente e quando tomou conhecimento sentiu tal dor, que entenebreceu o seu coração. Tudo que via era a morte.


A pátria virou exílio, a casa paterna, um estranho tormento. Confessa Agostinho, que tudo que falava, sem o amigo convertia-se em enorme martírio. E que seus olhos o procurava por toda parte.


Tudo lhe aborrecia. Interrogada a sua alma por que andava triste e se perturbava tanto, resposta nenhuma recebia. Enfim, mandaram-no “esperar em Deus”.


Mas, como obedecer a tal, pois o homem que perdera era mais verdadeiro e melhor que o fantasma em que lhe mandavam ter esperança.


Só o choro lhe era doce. Só ele sucedera ao seu amigo nas delicias da alma.

HOJE É DIA DE DOCES LEMBRANÇAS




Na Divina Comédia, Dante tem em Beatriz o instrumento da vontade divina que lhe guia através do Paraíso.


Eu tenho o meu Paraíso e sou guiada através dele por minhas gratas recordações.


E hoje é dia de doces lembranças porque no Paraíso estou.


Hoje é dia de caminhar na praia, dia de ouvir Kenny Loggins cantando Meet Me Half Way” (Me encontre A Meio do Caminho) .


Hoje é mais um dia para ser feliz ao lado da família e dos amigos. Hoje é dia de almoço concorrido.


Hoje é dia de sorrisos largos.


Hoje é dia de um bom vinho e de uma cerveja gelada.


Quanto às recordações e se o ato de recordar é viver, nós precisamos recordar aquilo que nos dá vida e não recordar as coisas ruins que não deram certo.


Recordar as coisas ruins é voltar a sofrê-las.


Faz sentido não?


Foi o Anderson, que é padre, que me chamou a atenção para tal fato. Custa nada tentar, pois não?

SERENIDADE



Reinhold Niebuhr, fez um pedido a Deus em forma de oração.


Se eu não desconfiasse da existência de Deus eu usaria as palavras de Reinhold e faria o mesmo pedido, assim: Deus, se você existe de fato, dei-me “ a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar, coragem para mudar as coisas que eu posso, e a sabedoria para que eu saiba a diferença”.


Levando-se em consideração a minha pouca ou quase nenhuma afinidade com Deus, não tem Ele razão nenhuma para atender o meu pedido.


Nesse caso onde buscar a tal da serenidade? Dentro de mim?


Sendo eu a pessoa que sou, acredito que para tanto precisarei reeducar-me, treinar a minha paciência, acalmar o coração, dominar as emoções e tranqüilizar a minha mente até me sentir pacificada.


Convenhamos que eu consiga a pacificação e conseqüentemente, a serenidade. Contudo, como permanecer nesse estado?


Não tenho a menor idéia, mas posso pegar o bonde pra Shagrila, entrar em meditação, em seguida tomar o “Caminho das Índias” dar uma passadinha por Tanjavur através do Templo de Brihadisbrihwra e pedir ajuda a deusa Aparajita, que é tão poderosa que pisoteou Ganesha e obrigou Brahma a segurar seu guarda-sol.


Quando voltar, já dominando o tánpurá vou me fazer acompanhar nas orações em praça pública.

Rezarei pelos amigos e que a deusa Ganga e a deusa Brahmani também estejam comigo.


Que assim seja.

"OS ALEGRES SEMPRE SE CURAM" ME FAÇAM SORRIR



Promessa é divida e eu prometi a você que ia começar a “pegar leve” na escrita, afinal, longe estou de encarnar Perséfone a filha de Deméter, que carregava nas costas a tristeza do mundo todo.


Sei que, melhor do que a tristeza é o riso, que cura, alegra , diferencia e é um atributo generoso do ser humano, um privilégio das pessoas felizes.


Então, diga ai, que tal a gente começar falando sobre o riso?


Sabia que é um remédio infalível, que diferencia o homem dos animais?


É um ato simples e ruidoso, que supostamente faz bem ao corpo e a alma, é um verdadeiro choque libertador, em alguns segundos, o riso sacode o corpo dos pés à cabeça.


O riso exercita e relaxa a maior parte dos músculos, incluindo o coração, as artérias e os pulmões. Agora preste atenção: o baço, por sua vez, é uma das poucas partes do corpo não alcançadas pela comoção provocada pelo riso.

Ah, tem mais: o escritor francês Rebalais dizia que “os alegres sempre se curam”.


Evidentemente, não basta rir para ficar curado, mas estou fazendo uma fezinha nisso e quem sabe se eu não consigo me curar das minhas mazelas? Hem!? Hem!? Então, o que está esperando, me ajuda, me faça sorrir.


PS: imagina onde fui buscar informação para esta crônica: O Livro do Conhecimento (Medicina e Saúde).


Ria não, viu?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

NÃO SOU MISS DAISY ,MAS SEMPRE SOU CONDUZIDA




Não sou Miss Daisy, mas sempre sou conduzida.


Daí o meu quase grito de pare! Para quem me conduzia.


Uma visão paradisíaca, representada pela beleza de um fim de tarde de céu colorido era vislumbrada por mim da janela do carro.Feita a manobra devida, o carro foi estacionado e eu desci.


Do alto de uma falésia fiquei observando a imensidão do mar; estava de pé na beira de um verdadeiro precipício e confesso que fui invadida por uma sensação de liberdade, a vontade que tive foi de abrir os braços e voar...voar...voar...


Ao longe, alguns barcos com suas velas brancas pareciam à deriva e bem mais perto da margem os golfinhos em nado sincronizado .

Por um caminho íngreme desci até a praia e iniciei uma caminhada sem deixar rastro, pois as ondas se encarregavam de apagar. Lá em baixo me senti tão pequena, cercada de um lado por altas barreiras e por outro o mar sem fim.


Sim, a visão antes vista do alto era paradisíaca, mas toda a beleza viva que os meus olhos enxergaram se transformou em natureza morta diante do ser solitário e saudoso que me senti.

Passei então a questionar o meu sentir solidão/saudade.


Seria solidão estar só ou em meio de uma multidão e sentir falta de uma só pessoa?


Até onde o estar só me incomoda...? Incomoda-me de fato...?


Da análise do que sou não cabe solidão em mim.Não. Positivamente não sou só.


Tá bem, às vezes eu preciso me convencer disso.


Eu preciso me convencer que a falta de quem ainda amo não me passa mais tamsomente a sensação de solidão .


Eu só preciso me convencer de uma vez por todas que você morreu.


Ah, quanto a saudade é só esperar que ela se torne igual a espuma das ondas e se desmanche na areia.

... Fiz o caminho de volta e segui rumo a minha ilha da fantasia, o meu refúgio sem nenhum guerreiro. E cá estou sem solidão e nem saudades.


De costas para o passado.

SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA





"Coração, olha o que queres:

Que mulheres, são mulheres...

Tão tirana e desigual

Sustentam sempre a vontade,

Que a quem lhes quer de verdade

Confessam que querem mal;"

(Do poema Coração, Olha O Que Queres de Francisco R. Lobo)



Francisco Rodrigues Lobo (1580/1622), foi um poeta português, que dedicou uma obra (Côrte na Aldeia) ao marques D. Duarte de Bragança,descendente da Coroa Portuguesa, na dedicatória ele o convidou a preservar e ter orgulho da língua portuguesa. O interessante é que o poeta raramente escrevia em português, usava nos seus escritos o castelhano.


Mesmo assim ele via a nossa língua deste modo:

“antes é branda pra deleitar, grave para engrandecer; antes para mover, doce para pronunciar. Para falar é engraçada, com um modo senhoril; para cantar é suave, com um certo sentimento que favorece a música; para pregar é substanciosa, com uma gravidade que autoriza as razões e as sentenças; pra escrever cartas nem tem infinita cópia que dane, nem brevidade estéril que a limite; para histórias nem é tão florida que se derrame, nem tão seca que busque o favor das alheias.

A pronunciação não obriga a ferir o céu da boca com aspereza, nem arrancar as palavras com veemência do gargalo. Escreve-se da maneira que se lê, e assim se fala. Tem de todas as línguas o melhor: a pronunciação da latina, a origem da grega, a familiaridade da castelhana, a brandura da francesa e a elegância da italiana.

E para que diga tudo, só um mal tem, é que, pelo pouco que lhe querem seus naturais, a trazem mais remendada que capa de pedinte”.

A propósito, o poeta morreu afogado nas águas do Tejo.


O PONTO FIXO NÃO É DO TEOREMA DE BRUWER





Não era baseado em critério de convexidade
e não fazia parte de nenhum teorema.
Era apenas um ponto fixo.
Uma luz na qual o ser, diante dela,
de forma estática, concentrava o olhar.
Mas parecia um quadro vivo.
Tão enigmático quanto Mona Lisa
e o seu sorriso.
Seria alegre, triste ou poeta, o ser?
Que nada, era um pobre diabo
Que só sabia amar
E que se transformou em apenas coração,
Que fez da luz o seu pulsar,
ora morrendo, ora vivendo
De acordo com o seu lusco-fusco.

domingo, 16 de agosto de 2009

O ESCRITOR NÃO É UM ENGANADOR




Vou ilustrar esta minha crônica com uma historinha: Conta-se que o pintor Apeles, tendo exposto um quadro, ocultou-se para ouvir as opiniões a seu respeito.


Um sapateiro criticou as sandálias e o pintor, de imediato, deu a devida explicação.


O sapateiro quis criticar o restante do quadro, foi então que Apeles o deteve, dizendo: “Não vá o sapateiro além do sapato”.


Para os “sapateiros” que gostam de ir além do sapato, vamos tratar didaticamente do conceito de literatura, mais precisamente do escritor, com a ajuda de Heitor Megale e Marilena Matsuoka O que faz o escritor?


Ele trabalha as palavras, combinando-as, emprestando-lhes, muitas vezes, novos significados, explorando a sonoridade dos vocábulos, o escritor cria uma realidade própria através da imaginação.


Por vezes essa realidade criada nos atinge mais diretamente do que o concreto do dia-a-dia, a vivência real de um conflito.


Daí, teremos assim que a Literatura é a invenção, a criação de uma realidade imaginária por meio de uma elaboração estética do texto.


Observando a realidade, o artista cria uma realidade imaginária, a ficção, conforme sua vivência, sua interpretação da vida, seu talento e sua sensibilidade.


O escritor capta um momento da vida e, não contente de vivê-lo, procura expressá-lo, através de uma linguagem pessoal, para comunicá-lo a outrem.


O escritor não é um enganador, ele cria a sua verdade produto de uma imaginação privilegiada, cabe ao leitor (ou não) a sensibilidade de se deixar envolver pelo conteúdo, pelas idéias que o autor procura transmitir, devendo haver ( ou não) uma comunhão de sentimentos .


Discordar sim, mas que haja elegância no ato. Sim, o escritor merece respeito.

BATALHA PERDIDA




Se você já não dorme, jaz;

se a música que ouvir é de uma tristeza sentida;

se você sentir o silêncio que cai sobre você;

se o seu coração fraqueja demorando a batida;

se você deseja chorar e não consegue;

se o seu olhar se torna vago, preso a um ponto fixo;

se você espera sem saber o quê;

se você cansa dessa espera e sente a esperança indo;

se você começa a sentir o teu sentimento vazio não se desespere,

dê a batalha por perdida

e se a vida perde a graça, paciência amiga,

de agora em diante você passará a sentir sem saber em que sentir e será apenas “uma sensação sem pessoa correspondente” (F.Pessoa)


Deita-te e espera que o teu “cansaço entra pelo colchão dentro” (F.Pessoa)


Mas não espere morrer, só o teu sentimento espere...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

QUAL É O BEM SUPREMO DA VIDA?



Ai eu disse pra mim mesma: acorda! Você mais parece a Carolina que a festa acabou e ela não viu. Quanto a você, foi a luz que apagou e você não notou.

Muda o rumo dessa prosa, convoca o Aristóteles e vai falar sobre felicidade.

Hum... Hum...Hum... Filosofemos. Que venha a nós o Aristóteles.

Que tal a gente partir para a pergunta das perguntas. Responda quem souber: Qual é o bem supremo da vida?

Se alguém afirmar simplesmente que a felicidade é o bem supremo da vida, tal afirmação não passa de um mero axioma. O que se deseja é uma descrição mais clara da natureza da felicidade e da maneira de atingi-la. Sabia você que o mais nobre auxílio externo para a felicidade é a amizade? E que ela é mais necessária aos felizes que aos infelizes, pois a felicidade se multiplica ao ser compartilhada. Ela é mais importante que a justiça, pois, “quando os homens são amigos, a justiça é desnecessária”. “ Um amigo é uma alma em dois corações.”

Essas coisas a gente aprende lendo a filosofia de Aristóteles, vale a pena conferir.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

UM CONTO SEM FIM


CARISSÍMO (A): O ESPAÇO É MEU, MAS CEDO COM MUITA HONRA PARA UMA POETA/CRONISTA, QUE REPUTO COMO UMA DAS MELHORES AQUI DO NOSSO ESTADO, CONFIRA.




UM CONTO SEM FIM(Yasmine Lemos)


O sonho é um reverso da realidade. Um lapso da incerteza do final. Revela-nos a nossa tolice em acreditar em tudo que se imagina ou ouve. Estava na varanda de casa quando ela chegou. Papel e caneta nas mãos miúdas.


Cabelo liso, tons avermelhados. Tinha mania de acumular folhas soltas na sua bolsa de crochê feita pela avó.


Não tinha uma beleza que chamasse atenção, era simples, singela, traços brandos. E gostava de conversar.


Vestido amarelo e azul. Magrinha, não sei a idade.


Sua voz era meio aguda e de menina pequena, que tinha que ser.Pediu quase gritando: - “Escreve uma história pra mim...!”


Imaginei que todas as histórias de criança são feitas de cores e doces.


Comecei a criar algo magnífico, colorido, onde um príncipe a salvaria do dragão.


Percebi que as mãos pequenas apagavam minhas frases e perguntei o motivo: - Essas histórias eu não gosto mais de ouvir e continuou:se quiser me contar uma história, que seja curta.


Talvez uma invenção da sua mente, mas que tivesse relance de sentimentos bons, assim estaria perto da realidade que a cercava.


Ela buscava aquelas histórias inventadas de quem gosta de escrever e esconde-se atrás de nomes e personagens. Ali vejo o bem e o mal andando de mãos dadas.

Obedeci.


Os inventores são tão óbvios quanto os espelhos das suas casas. E acham que enganam.


Eu me iludo, talvez deixe fluir os pensamentos de quem desejar sonhar através das minhas linhas tortas. Ela queria ouvir todas as verdades inventadas e mentiras camufladas, falando de amores imaturos, beijos interesseiros.


O óbvio da humanidade que gosta de enganar-se e dizer: - Dinheiro não traz felicidade, e o amor é tudo pra nós!


Era uma menina, uma menina que sonhava. E não acreditava em bruxas, ela era feliz, e tinha um sonho que era mais que seu amigo, um dia alguém apareceu e o tomou e foi embora, depois veio outro alguém que parecia uma fada e rasgou sua caixa de recordações.


Ela parecia visivelmente cansada e enrolava o dedo indicador na barra do vestido.


Já não aceitava um só “Era uma vez” ela me disse que existiam vários em sua vida e nenhum final.Entendi que não era a história, mas o fim e ponto final. Sonhar não é só carregar desejos infindáveis, pode ser uma bolsa de crochê esperando mais um rascunho amassado, mas com um final lógico.


Ela me fitava calada e sua borracha na minha mão lembrava um miolo de pão dormido. Eu tinha que escrever o final.


Sentei-me e comecei narrar, enquanto ela escrevia rápido nas letras, instantes grandes outras pequenas. Fechei os olhos e falei para que ela me ouvisse.


Foram coisas simples, mas reais. Confirmei que as bruxas existem sim, elas são de vários tipos, algumas escrevem também, dão risadas altas e têm a inveja como um argumento de base para destruir as coisas alheias.


E que os sonhos terminam voltando, mesmo roubados, talvez para outros corpos, mas jamais ficarão aonde não encontram caminho.


A borracha havia acabado , faltava o ponto final. Olhei de lado, a menina havia crescido, meus rascunhos, eu mesmo guardei no peito, e as bruxas continuam a rondar soltas.


Coração sem ponta, folha incompleta, sonho de anjo querubim.


E o fim?.

MAIS PAREÇO O TOLO DE MOLIERE





O grego Eurípedes deixou dito que os sábios têm duas línguas, uma para dizer o que pensam e a outra para falar conforme as circunstâncias: quando o querem, têm talento para fazer o preto parecer como branco e o branco como preto, soprando com a mesma boca o calor e o frio e exprimindo com palavras exatamente o contrário do que sentem no peito.

Por não ser sábia eu me contentaria com uma só língua, contanto que eu pudesse dizer exatamente o que sinto e por não dizer, mais pareço o tolo de Moliere que não diz nada, apenas amarga o silêncio seu e do outro e há de convir que o silêncio é um dos argumentos mais difíceis de refutar, já dizia Josh Billings.

Não sabe o outro que a ausência, o silêncio só diminuem as paixões medíocres e aumentam as grandes, agem assim como o vento que apaga as velas e atiça as fogueiras. La Rochefoucauld, que o diga.

A propósito, esta crônica faz sentido, hoje é segunda-feira...

E AGORA? QUAL É A MINHA VERDADE?




Por que hoje é domingo melhor ser alegre que ser triste. Sou, estou alegre. Mas veja bem, se todo poeta é um fingidor como afirmou Fernando Pessoa, eu posso afirmar que estou triste. Eu posso escrever uma prosa poética falando da minha “tristeza”.


Veremos como me saio:

Embora tenha confessado que eu não sou um ser triste, por natureza, não sou. Só que vez por outra lido com a tristeza que me chega sem avisar. E como dói! E como me faz sofrer! Minhas mãos se crispam, meu corpo se retesa, meus olhos fitam o vazio, meus pensamentos rodopiam e eu indago: A causa! A causa! A causa! O por quê? O por quê?


A garganta sufoca o grito, a dor dilacera o peito, a angústia de o nada poder fazer destempera os sentidos. E o amanhã que nunca chega transforma a esperança em utopia.


Se o peito dói, a vontade é que ele exploda de uma vez!

Agora, se eu quisesse falar da minha felicidade por que hoje é domingo? Como me sairia?


Veremos:

Confessei sim, que eu não sou um ser triste, lido mais com a alegria do que com a tristeza. Se a tristeza dói? Desconheço, quase nunca a sinto!


As minhas mãos vivem estendidas na direção de quem delas precisam; não existe tensão no meu corpo; meus olhos só procuram a beleza; o meu pensamento é centrado, em mim não existem, causas nem porquês.


Não existe grito preso na minha garganta; o meu peito é livre, desconhece a angústia e os meus sentidos também desconhecem a destemperança. Eu tudo posso. O meu amanhã sempre chega, a minha esperança é certa e não talvez.


E já que o meu peito não dói, a vontade que tenho é que ele conserve o grande amor que existe dentro dele.

E agora? Qual é a minha verdade? Sou alegre ou sou triste?

SE NÃO TENS OUVIDOS PARA MINHA DOR,RI DE MIM





Maysa cantava. A música dilacerava os meus ouvidos, baixei o som. Não eram palavras de Maysa que eu buscava. Maysa falava de tristeza, de desencontros, de despedidas...


Ah! Que importa Maysa, são palavras tuas que eu procuro sempre que busco, só que não te encontro quando procuro.


Sabe, foi tudo tão de repente, sem desfecho você disse adeus e desde então eu passei a conhecer o desencanto, a inquietação, a angústia e nada mais faço do que me indagar: por quê? Por quê? Por quê?


Ah... se a dor que eu sinto fosse música, queria que você ouvisse a minha dor. Se a dor que eu sinto fosse de amor, queria que você ouvisse a minha dor de amor.


Se a tristeza que sinto é de amor, queria que você ouvisse a minha tristeza de amor.


Mas se você não tem ouvidos para a minha dor, ri de mim...