Parece que foi ontem que o hoje velho Chico inventou a cantiga onde tem um verso que diz: “o tempo roda num instante”. Na época eu era jovem e nem me toquei. Aí, dia desses, um olho meu, que não lembro se foi o esquerdo ou o direito piscou diferente, corri para o espelho... Confesso que não gostei do que vi refletido nele: um rosto envelhecido com um olho vermelho. Foi então, que caiu a ficha e eu me dei conta que de fato, o tempo realmente passa depressa .
E cá estou, consciente desta minha nova etapa de vida, caminhando a passos largos para me tornar igual ao meu avô Bernardino, única velhice que convivi e a quem um dia perguntei o que era ser velho. Foi-me respondido o seguinte: “Logo , logo saberás, por enquanto, junta-te aos da tua idade, pules corda e brinques de boneca. Um dia, num abrir e fechar de olhos, vais perceber que estás tão velha quanto eu”.
O avô Bernardino já morreu faz séculos. Fico imaginando o que ele teria para me dizer hoje... Por certo, com a sua mania de latim mandaria eu procurar a minha nova turma, recitando Cícero: pares cum paribus congregantur ( os que são iguais muito facilmente se unem com os iguais a si ).
É o que vou fazer, procurar uma nova turma, que não pula corda nem brinca de boneca, vamos discutir juntos a miséria de uma aposentadoria que em breve levará nós, os bons velhinhos, a nos tornar iguais nas agruras de uma velhice mal vivida. Unidos lamentaremos na fila do INSS, a extorsão dos planos de saúde, que não nos permitem acesso; do custo das nossas pílulas receitadas para pressão alta, coração, mal de parkinson, diabetes, arteriosclerose, osteoporose, soluços etc. etc.
E não adianta reclamar pro bispo, nos tornamos um bando de velhos vagabundos e improdutivos , o melhor à fazer é procurar a cadeira de balanço, cerrar os nossos olhos míopes, mandar às favas os problemas existenciais. E lembrem-se: de boca fechada para não exibir a banguela . Quietos para não incomodar as autoridades. Cada um no seu lugar, os abrigos, esqueçam, só vivem em crise financeira.
Confesso que, se as minhas pernas ainda me obedecessem, subiria no telhado e lá, deitada feito Snoopy diria: “Cansei de me preocupar com o mundo... Agora o mundo que se preocupe comigo”.