terça-feira, 25 de março de 2008

PAZ E CONSCIÊNCIA

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Lá pelos idos de 1991 o papa João Paulo II proferiu uma frase que lembro até hoje: “Se queres a paz, respeita a consciência de cada um”.

Hoje, digo cá pra meus botões: ah, finada Santidade, está cada vez mais difícil seguir à risca as vossas sábias palavras. As turbulências tomam conta de nós... A paz, nem a individual busca-se mais; atingimos tal estado de desconforto, que por mais paradoxal que pareça, quando tudo vai bem, com certeza, alguma coisa está errada. A sensação de paz angústia, a calmaria mexe com os nervos.

Já sobre a consciência, disse – e também faz tempo – D. Lucas Moreira Neves: “ Na medida em que é reta, ela é imantada e atraída pela verdade e, à luz da verdade, ilumina os caminhos das pessoas, segreda-lhe no fundo da inteligência e do coração o que é bom e deve ser praticado e o que é mau deve ser evitado, estimulo-a a fazer o bem e evitar o mal”.

Medito sobre as palavras de D. Lucas e sinto quão difícil é achar-se hoje em dia, na consciência humana essa condição de reta, esse alinhamento direcionado para o bem, iluminado pela luz da verdade. A sensação que se tem é que a bússola quebrou e as consciências estão à deriva, amortecidas. A esta altura, sem a luz de um farol, não há como se achar o norte do bem. Tenho medo do despertar de todas elas, pois à mim parecem mísseis cujas ogivas têm como explosivos de alta potência, a desumanidade.

E neste pensar vadio, sem nada o que fazer, nem, feito o cronista Vicente Serejo, pregos nas paredes, que não são antigas, para contá-los e imaginar quais foram de cada um a serventia. A casa é nova, conheço as mãos que puseram cada um em seu lugar. O imaginário não funciona, não existem sombras, é tudo tão claro, nem assombração de outro mundo aparece. A única assombração sou eu mesma, que me arrasto escada acima, escada abaixo, à procura de não sei quê; talvez de um sótão ou de um porão..., não sei se foi num desses lugares que deixei um baú velho e dentro dele a paz que perdi.


segunda-feira, 17 de março de 2008

AINDA SE LÊ KAFKA ?

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Que mal pergunto, hoje em dia, onde o cidadão comum continua a ser apenas um mero detalhe, ainda se lê Franz Kafka? Sim, Kafka, aquele autor alemão do primeiro período da literatura contemporânea, que escreveu entre outros contos “A Metamorfose”, “ O Artista da Fome”...

Neste último conto, Kafka retrata a vida de um jejuador numa época em que todos mostravam interesse e não faltava quem ficasse dias inteiros sentado diante da pequena jaula olhando assombrado “aquele homem pálido de costelas salientes que, desdenhando um assento, permanecia estendido na palha esparsa pelo solo, e saudava às vezes cortesmente ou respondia com forçado sorriso às perguntas que dirigiam a ele, ou tirava um braço por entre os ferros para fazer notar sua magreza, tornando depois a sumir-se em seu próprio interior onde permanecia olhando para o vazio com olhos semicerrados, e apenas de quando em quando bebia em um diminuto copo um golezinho de água para umedecer os lábios”. Havia vigilantes permanentes, que tinham a missão de observar dia e noite o jejuador para evitar que pudesse alimentar-se. Jejum esse, que durava quarenta dias.

Um belo dia o “artista da fome” viu-se abandonado pela multidão ansiosa de diversões, e sem outra alternativa foi parar num circo. Com o passar do tempo, sem despertar interesse, foi esquecido dentro da jaula. Uma ordem seca do inspetor ordenou que a jaula fosse limpa. E assim o jejuador foi enterrado junto com a palha. Mas na jaula puseram uma pantera jovem, formosa fera. Nada lhe faltava. Seus guardas traziam a comida que lhe agradava. E a alegria de viver brotava com tão forte ardor de sua garganta que não era fácil aos espectadores fazer-lhe frente. Mas venciam o próprio temor, apertavam-se contra a jaula e de modo algum queriam afastar-se dali.

E tudo continua como dantes... Este texto de Kafta foi escrito entre 1913/1921. Segundo o crítico literário George Steiner, nenhuma voz foi testemunha mais verdadeira da natureza de nossos (eternos) tempos.


sexta-feira, 14 de março de 2008

A RESPEITO DE NADA



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Já dizia o escritor Scott Fitzgerald, que “Suave é a Noite”, com o que concordo e, entre um bocejo e outro, é que me encontro aqui entregue a reflexões vazias a respeito de nada. E o nada para mim neste momento é o assegurado por Luiz de Camões de que “Jamais haverá ano novo se continuar a copiar os erros dos anos velhos”.

A propósito, não é que o senhor dos Lusíadas tem lá sua razão? Entra ano, sai ano e quais as perspectivas reais no campo político e pessoal para meio mundo se tudo permanece no mesmo “statu quo”: error, faut, mistake, incorrectness, wrong, blunder, oversight, o escambau pra tudo quanto é lado e nós convivendo e aceitando placidamente tudo que nos é servido de bandeja, parecendo - como afirmou certa feita o saudoso Tancredo Neves - mais um bando de deserdados cujo patrimônio é a esperança.

E, neste pensar vadio, vou continuar atirando, - usando para tanto, pedras e estilingues dos outros – embora este meu jeito de ser desagrade a gregoS e troianos. Mas, vejamos quem me empresta a primeira pedra... Diante da atual “conjuntura” ( ó palavrinha desgastada, senhor!) que tal uma acertada na testa com uma pedra de D. H. Lawrence, autor de “O amante de Lady Chatterley” por ter dito: “Já não há caminhos fáceis à nossa frente: temos de contornar os obstáculos, pular por cima deles – e isso porque temos de viver, seja qual for a extensão do desastre havido”.

Vai você agora, Voltaire, atira a sua! E não vale plagiar... Lhe dou o mote: FELICIDADE. Diz lá: E assim falou Voltaire: “ Felicidade é um estado de espírito; por conseguinte, não pode ser duradoura. É um nome abstrato composto de algumas idéias de prazer”. Ai, ai, indago eu: Quem há de discordar...?

Quem está me espreitando aqui, todo tedioso. jogando uma pedrinha pra cima é o Sinclair Lewis. E eu vos digo: Fala grande filósofo! O vosso mote será o TÉDIO. E ele falou: “ E se há solução para o tédio, não o conheço. Se conhecesse, seria o primeiro filósofo que teria inventado um remédio para a vida.” Coisas de filósofos...

E uma pedrinha no amor, quem jogará? Vem cá Eça de Queiroz, “canta” esta pedra aí! E o “portuga” mandou ver: “ O amor é essencialmente perecível, e na hora que nasce começa a morrer”. Será...?

Fica triste não seu Machado, a última pedra é vossa. Aqui até que cabe o vosso Ó temporas, ó mores, para culminar com a sentença “ Tudo acaba leitor; é um velho truísmo a que se pode acrescentar que nem tudo o que dura dura muito tempo”. ACABOU.


domingo, 9 de março de 2008

PARA QUE SERVE O TEMPO?


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O quadro acima é de Goya, representando Saturno engolindo os próprios filhos com medo que um deles lhe tomasse o trono. Hoje, sem mais filhos para engolir, esse deus velho devora o tempo e com ele os anos, meses, semanas, dias, horas e de sobremesa nós pobres mortais.

Para que serve o tempo? Einstein explicou que o tempo existe para que as coisas não aconteçam todas ao mesmo tempo .

Alguém escreveu e eu li num desses blogs da vida que trata de astrologia e cabala, que o senso de responsabilidade é que nos faz perder o nosso tempo. Sempre corremos de um lado para outro, a fim de sermos sempre os melhores profissionais, os que ganham mais, os mais importantes, aqueles que têm o melhor cargo... E nisso a vida passa, os filhos crescem, os amigos mudam de endereço, a gente envelhece e deixa de fazer coisas que seriam muito importante e que nos fariam muito bem. Tudo porque algo dentro de nós nos compele a provarmos nosso valor, a mostramos o quão somos capazes.

Ainda sobre Saturno, a quem tanta “devoração” lhe é atribuída, também lhe é dado o título de senhor do “Karma”, que vem a ser, segundo a entendida no assunto Maria Ramagem, a situação que não sabemos resolver, não sabemos lidar, porque nos sentimos inseguros, desprevenidos ou incapazes. Assim, diante do destino que se apresenta, o interpretamos como a hora do azar.

Razão existe para Saturno ser considerado senhor do “Karma”. Na mitologia greco-romana ele foi o segundo a “reinar no universo”. Como castrou seu pai e o destronou, foi destronado por um filho, inaugurando dessa forma a máxima de que “aqui se planta, aqui se colhe”.

E pensar que sofrer é saber suportar...


quarta-feira, 5 de março de 2008

SEJA O SEU PRÓPRIO COLOMBO


http://www.moviewalah.com/node/448

É dito que Deus é o centro e repouso da alma inquieta, por que será, então, que precisamos, na nossa angústia existencialista, de um “guru” humano para guiar os nossos passos?

Isto vem a propósito da proliferação de “gurus” que assola este mundo e da dependência cada vez mais crescente de pessoas a esses “divinos” em busca de oráculos.

E haja “gurus” e seguidores: uns fundam igrejas; outros partem para o ocultismo; vem outra põe-se à caçar anjos, explicando através de livros – que vende às pencas – o sexo dos ditos; ainda tem quem, através de livros e conferências queira ensinar aos outros como ficar rico; Há quem impressione entortando moedas e soltando os seus “RÁs”!; e até quem lance a trilogia da “Cabala do Dinheiro, A Cabala da Comida e a Cabala da Inveja”.

“Auto-ajuda” é o que não falta para quem acredita necessitar. Mas, o autoconhecimento como é que fica? Diz o médico psiquiatra /Davi Harold Fink, que muitas pessoas consideram a sua pessoa como se fora uma casualidade, como se a descoberta de si mesmo fosse menos importante que a descoberta da América, quando cada um pode ser seu próprio Colombo. E diz mais: dentro de cada um de nós existem oceanos não cartografados que podem ser navegados e ricos continentes para serem desenvolvidos. A exploração e cartografia (discernimento psicológico) é a antítese de caminhar à-toa, do prosseguir caminhando em círculos, não atingindo ponto algum. E que para agir inteligentemente a pessoa precisa saber para onde ir. Precisa saber quais as suas necessidades, saber no que está se esforçando fortemente para fazer, mantendo os pés no chão.

Parece que existe a sua razão de ser a tal história de se firmar os “pés no chão”. A propósito de disso, tem uma passagem da mitologia grega que fala da luta entre Hércules e o gigante Anteo. Hércules era um possante lutador e podia levantar o gigante do chão e fazê-lo cansar. Ms quando já estava perto de vencer a luta, eis que deixou que Anteo pusesse os pés no chão e como conseqüência disso o gigante recobrou as forças e Hércules sentiu-se quase perdido. Entretanto, descobrindo o segredo da reabilitação milagrosa de Anteo, Hércules conseguiu novamente levantá-lo, tirando seus pés da terra e desta forma vencer seu antagonista.

Segundo o doutor Davi, já citado,Isto prova que todos nós somos parecidos com o gigante Anteo. Precisamos retomar à Mãe-Terra para recobrar nossas forças. Temos que permanecer com os pés na terra. Quando nos sentimos abatidos e desencorajados, querendo fugir de tudo, podemos voltar a ser fortes e esperançosos integrando-nos. Para tanto, sendo o seu próprio Colombo.