segunda-feira, 26 de maio de 2008

UM POETA EM CADA ESQUINA

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Quem disse foi Apollinaire: “Piedade para nós, que exploramos as fronteiras do irreal”.Apollinaire era poeta. Poeta igual aos que dizem existir em cada esquina de Natal; o que acho belo, belíssimo.

Para mim a profusão de poetas não incomoda nenhum pouco, muito pelo contrário, quisera eu que a humanidade fosse constituída deles, pois como acreditava Pablo Neruda, eu também acredito, que “a poesia é sempre um ato de paz. O poeta nasce da paz como o pão nasce da farinha”.

Há quem defina, também, todo ser humano como “um poeta-trágico”sustentando que: poeta, porque é iluminado pelo senso de beleza; trágico, porque é ensombrecido pela consciência de sua finitude.

Contudo, houve no passado alguém que torcia o nariz para tal profusão. Vejamos o que pensava esse alguém, membro fundador da Academia Brasileira de Letras de nome Sílvio Romero, que assim expressou o seu ponto de vista:

“Um exagerado número de poetas, num povo dado, é claro indício da sua defeituosa organização social e da pouca profundeza e seriedade de sua cultura. O Brasil é a mais eloqüente prova deste fato nos modernos tempos; se uma imensa multidão de fazedores de versos fosse prova de força, cultura, progresso, adiantamento, riqueza e bem-estar, seria o primeiro país do mundo. E não é porque sejam todos maus poetas, são, ao invés, bons em grande número...”

Registrado o pensamento de alguns, tenho diante de mim poemas de poetas que fui encontrando nas voltas que o mundo dá, cujos versos me tocam profundamente, como esses do poema de Yasmine Lemos,“Hora da Colheita” – Pensava ser pedaços de grãos. / Ouvindo o seu canto descobri: / Não sou metade / Sou inteira / Eu fui. / E voltei / Voei / Eu era / E gostei / E quero/

Continuar sendo isso: / Corpo e terra / Alma e semente / Verdade plantada / Amizade enraizada / Defeitos podados / Retirados os gostos amargos / Fazer a colheita / Colher os frutos / Comermos juntos. / Felicidade.

De meu amigo e poeta Assis Fernandes, os versos de seu poema “Despedida” –Adeus amigo! /Chegou a hora de entender o tempo, /o sentido das coisas, / o limite do espaço. / Não me resta senão dizer adeus! / Tudo caminha no correr das horas / e os dias passam / sem retorno ou pausa; / um minuto, sequer, não pode ser roubado / Tenho de ir – as malas estão prontas, / arrumei os volumes com cuidado. /Transporto o mais pesado – o de saudades - , / mandei seguir em frente o de esperanças. /Devo partir, pois já chegou a hora / Quero que saibas, enfim, e para sempre, - / o mais belo capítulo, o da amizade, / fomos nós, / tu e eu / que escrevemos. (Asas e Vôo – poemas)

Seria injusta não recordar minha querida amiga e poeta Welshe Elda, versos de seu poema “Vida”. Passar a limpo à vida / Esgotar no ralo impurezas / Espremer, descarregar culpas / De um corpo e alma atormentados/ Sentir leveza e transparência / Gostar da nova morada / Deixar fluir sentimentos / Sem culpa /Sem tormento/ Com vida. ( Mudanças – poemas).

São tantos e tão bons poetas, que dá vontade de sair ai, feito o Paulinho da Viola tomando benção para todos eles.




quinta-feira, 15 de maio de 2008

EU E O MONGE

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Fim de tarde, nada interessante pra fazer, ninguém pra conversar... Então, o que me resta fazer...? Já sei, vou pro terreiro, sentar na pedra, botar uma mão no queixo e meditar. E lá vou eu. Medita pra lá, medita pra cá para chegar à conclusão de que estou me tornando uma pessoa que pode muito bem ser enquadrada como desmancha-prazeres, dessas que parece que até a alegria dos outros incomoda. Não sou festeira, não gosto de Natal, casamento, feriado, batizado nem tampouco de carnaval; como o maluco beleza, acho tudo isso um saco. Vivo tentando consertar o mundo sem sair do canto nem dar um prego numa barra de sabão, esperando que a sociedade se transforme e funcione assim: “ao passo que ninguém é pobre, ninguém deseja se tornar mais rico, nem tem qualquer receio de ser empurrado para trás pelos esforços dos demais em se lançarem à frente”. (Stuart Mill, 1848).

Esta conversa de não gostar de festas me fez lembrar o monge Savonarola. A História nos diz, que Florença antes dos idos de 1495, era uma cidade de povo alegre, que gostava de festas, jogos e carnaval, aí apareceu um monge de nome Savonarola e acabou com a alegria dos florentinos. Quer saber como? Então lá vai:

Em 1495, quem reinava na cidade de Florença era Jesus Cristo, (declarado rei pelo Conselho da cidade) Existia nessa época um monge de nome Savonarola, de um fanatismo religioso incomum e quem de fato exercia o verdadeiro poder da República. Sua palavra apaixonada convertia os libertinos. Fez suprimir as festas e jogos, substituiu os cantos carnavalescos por cânticos religiosos, isso, porém, graças a um sistema de espionagem e delação que submetia Florença a uma ditadura espiritual sufocante. Em 1497 queimaram-se os símbolos do alegre passado florentino. Para a fogueira lá se foram instrumentos musicais, livros de Petrarca e Boccacio e obras de arte. Alexandre VI, que era o papa da época e foi acusado de costumes dissolutos, por conta do fanatismo do monge ameaçou Florença com a proibição da administração dos sacramentos. Os ricos burgueses temendo o confisco dos bens dos mercadores e banqueiros florentinos situados nos domínios do papa abandonaram Savonarola que, com mais dois dominicanos foram condenados à morte na fogueira por um tribunal onde participavam representantes do papa.

Taí no que deu o ser do contra do monge Savonarola. Sei não... Mas para quem tem medo de fogo dá o que pensar. E eu já pensei: de hoje em diante vou modificar o meu modo de vida , me tornarei arroz de festa .


sábado, 3 de maio de 2008

NÃO ERA BEM O CENÁRIO QUE EU QUERIA




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Eis que é chegada a hora de sentar-me diante desta maquininha infernal e batucando suas teclas, tentar coordenar o palanfrório.

Enquanto os dedos não recebem os impulsos emitidos do cérebro (oco), estico o pescoço em direção da janela. Que paisagem insípida, cansativa este quadrado me oferece: telhados sujos – que não são de zinco – de tão difícil acesso que desestimula até a subida dos gatos no cio; fundos e mais fundos de casas de gente que não conheço.

Esta é a fonte de inspiração que me deparo neste momento.Foi ai que percebi que este não era bem o cenário que eu queria...E senti inveja sei lá de quem... Ou talvez, quem sabe..., dos que perambulam por New York, mas precisamente pela calçada do “Untitled Space Express Bar”. Nesse café você encontra de tudo: diretores, compositores, pintores, escultores e escritores, todos tentando fazer coisas para se justificarem vivos. (Gerald Thomas que o diga)

Ah! Se é pra sentir inveja, que seja dos zés brasil, os que fazem reverência com o chapéu na mão, olhar para o alto em busca de Deus, são os que vivem porque Deus quer; que morrem porque Deus quer; os que acreditam que, se a seca castiga é porque Deus quer; se chove é porque Deus quer; se comem ou passam fome é porque Deus quer.

Ainda não atingi esse estágio. E, nesse pensar vadio, só me resta sair por ai e fazer uma saudação mentirosa a um valentino qualquer, como fazia o mais inquieto e atormentado do que eu: Santo Agostinho, que em uma de suas andanças encontrou um pobre mendigo bêbado que ria e fazia arruaça. Sabia o Santo que a alegria do bêbado não era autêntica. Mas pôs em dúvida a alegria que ele procurava com as suas ambições e enredos tortuosos. Numa noite o bêbado digeria o vinho e sua bebedeira passaria; ele, Agostinho, ao contrário, iria dormir e acordar com o mesmo tormento, hoje, amanhã, quem sabe até quando...

O que me anima é que o Agostinho chegou lá...