quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ESTOU INDO VER O MAR DE TABATINGA



Cansei de esperar palavras tuas

Teu silêncio é minha deixa

Sem queixa

Me deixa (Deixa - Nena Medeiros)


Pois é caríssimo (a), mesmo que a sua Matilde, o seu Matildo não lhe dê a menor condição; que você tenha ido dormir às quatro horas da manhã, queimando as pestanas, lendo Miguel Reale e se preparando para prefaciar o livro do Emanuel, o famoso Kekel aqui do Recanto, que trata da Filosofia do Direito; que você seja acordada às 5:30 da manhã com o radinho de pilha de sua ajudante de ordem a todo volume tocando uma musiquinha repetitiva, que diz: “primeiro tu oia pra tu pra depois oiá pra eu / primeiro tu fala de tu pra depois falar deu”.


É pouco? Não, não é , mas não perca as estribeiras, apegue-se ao cheiro do café gostoso que entra narina adentro que estará pronto quando você levantar.


Além do mais se você mora na filosofia e já que perdeu o sono, levanta vai escrever um poema, só não vale rimar amor com dor, ou se não for chegada aos versos ,escreve uma prosa e se você não tiver os tais dos “bons modos” pode apelar e se tiver a fim de sacanear alguém use o estilo desabusado de Susarião de Megara e escreva uma comédia satírica.


Os satirizados, as supostas “vítimas” são os que não faltam, “oia” só a classe política. Eu, besta como sou, por certo iria criticar Homero por ter escrito a sua Batraquiomaquia; Virgílio que cantou o mosquito e a amoreira e Ovídio, a nogueira; Glauco que enalteceu a injustiça; Sinésio, a calvície e Luciano, a mosca parasita; finalmente, Sêneca que escreveu o diálogo do grilo com Ulisses; Luciano e Apuleio, que falaram sobre o burro e Grunnio , que fez o testamento do porco.


Mas falando sério, eu me valeria mesmo era de Erasmo de Rotterdam para satirizar todos nós sob o ponto de vista da LOUCURA, sem a influência de Demócrito, que ridicularizava os acontecimentos da vida humana.


É porque hoje é sábado, o que digo não passa de tagarelice minha, estou indo ver o mar de Tabatinga...

PONTO FINAL



Não importa se haverá vida além do ponto final,

o que sei que neste momento exerço o meu direito de

"acabativa"

e pratico a

“eutanásia”.

Não sobre a vida,

mas sobre um sentimento em estado terminal

e este meu texto é porta voz deste

ponto final.

faço, não em busca da paz ,

mas com a visão de águia,

que na altura de seu vôo

nada mais percebe ao rés do chão

ESTADO DE ROMANCE




Por que tudo isso está distante

E me parece presente,

Na visão,

No sentimento,

Na saudade?(...)

(Aquele Tempo – João Wilson)


Terminei a leitura de “Principalmente o Amor”, um livro de poemas do imortal João Wilson Mendes Melo, escritor e poeta aqui da minha terra a quem muito preso. Leitura encerrada. Com o livro entre as mãos e sobre a influência do que li, me indaguei: que morte você teme?


O que me veio de pronto foi de que a morte temida por mim é a do amor , da esperança, da alegria. Tudo me “encanta, entusiasma e arrebata”, (apesar de...) ainda não consegui sair do “estado de romance” de que fala o filósofo inglês Whitchead, citado por João Wilson.


Assim , como diz o poeta, enquanto a cotovia não canta e a luz clara do dia não tira o encanto das coisas, deixo-me levar e enlevar por esse “estado de romance” que me conduz à meditação e ao sentimentalismo, estabelecendo, por que não dizer, uma vida diferente do cotidiano.


Isto enquanto não me encontro, não me compreendo, coisa aliás que não tenho muita esperança não. Afirmo tal, lembrando-me de psicóloga Santa Tereza de Ávila, que afirmou da impossibilidade dela mesma se compreender.


Ah, os poetas! Sempre a procura de definir a vida, quando esta não se define: vive-se! E o homem? Para Peguy não passa de um poço de inquietude, mais inquieto que toda a criação. Já Carrel , simplesmente, disse: "o homem esse desconhecido", haja vista a impossibilidade de penetrar nas entranhas do seu coração. ...Sei não... Sei não Apollinaire, você que pediu piedade para os poetas porque exploram as fronteiras do irreal, vos digo: também faço isso, acho que sou poeta...


“E um dia sei que estarei mudo: - mais nada” Cecilia que o diga.


( A foto que ilustra este texto não é de nenhuma ilha grega e sim da varanda de um restaurante de Tabatinga a minha praia)

NADA VIRÁ DO NADA



"Vez por outra me vejo na captura de mim mesma e quem sabe tentando desmascarar sob o verniz do cotidiano um mundo de desejos e fantasias inconfessáveis"(Clarisse Lispector)


Já foi dito que Deus deu ao homem o dom da palavra para que ele possa esconder os seus próprios pensamentos.


Vem outro e diz: “ouve-me, ouve o silêncio, o que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa!
Estas são palavras daqueles que já se foram, mas por serem fortes permanecem até hoje.


Neste momento, ao meu redor, um silêncio pesado. Meus olhos vagueiam por entre monstros sagrados enfileirados à minha frente.


E lá está Schopennhauer, que a mim tanto impressionaram os seus aforismos. Maquiavel, que a minha inteligência não alcançou os seus conselhos ao “Príncipe”, mas que me deleitou em “A Mandrágora”.


Vosmecê, Jean-Paul Satre, que o tradutor nos adverte em a “Idade Razão”, do emprego indiferente do “você” e o “tu” e das constantes repetições, coisas para as quais nem estavas aí.


Voltaire, que o Sérgio Milet afirma, já na sua época era acusado de plágio: “Voltaire, como todos os grandes escritores clássicos faz seus os bens que encontra”, valeu seiscentas e setenta páginas de histórias curtas que compõem “Zadig ou o Destino”. Nicolai Vassilievith Gogol, “Almas Mortas”, li vosso livro de um fôlego só, pena que não tenha final. “As Vinhas da Ira”...


Meu caro John Steinbeck: o vosso romance retrata o passado de um povo, que para nós, principalmente, nós nordestinos, ele é o nosso presente.


Aqui temos os nossos “bóias-frias”; lá a terra da promissão era a Califórnia, aqui é (era) São Paulo; os juros também são altos e os impostos idem; os Bancos tomam terras, sim senhor, em geral dos pequenos lavradores; os grandes latifundiários não plantam algodão como lá plantavam os seus, aqui é soja tipo exportação.


Aqui se mata por terra. Aqui se morre de fome, também.


Companheiros meus, em mim a necessidade de escrever, mas dentro de mim permanece o nada. “ Nothing will come of nothing. I cannot bring my heart into my mouth” ( Shakespeare através de sua personagem Cordélia, filha do King Lear)


Pedante as citações. Ah, Que o sejam! Mas, como diz a Cordélia, quisera eu trazer o meu coração até minha boca, contudo, bloqueiam-me sentimentos menores, fala mais alto um processo autodepreciativo, desconhecendo valores, se é que os tenha.


Falaria eu do quê? Às vezes eu comungo do mesmo pensamento atribuído ao filósofo grego Górgias de Leontino: “Nada existe. Mesmo se existisse alguma coisa, não poderíamos conhecê-lo.


Concedido que algo existe e que podemos conhecer, não poderíamos comunicar aos outros.


É como disse um amigo meu: “você se esconde na ostra e ainda justifica. Simplesmente...anota”.


Sabe ele que : “Só merece nosso crédito aquele que discorrer sobre coisas de sua experiência”. (Hermann Hesse).


E, diante desses “Titãs,” desde a altura em que se encontram, se dignar um deles, alguma vez, dirigir um olhar para a minha humilde posição, saberá de que mísera maneira sofro o grande e constante rigor de nada saber. ( vai ver que eu li isto em algum livro..., lembrei! " "O Príncipe" de Maquiavel).