quarta-feira, 29 de outubro de 2008

HOJE FAÇA COMO O SÁTIRO, FUJA DE MIM


Hoje estou pedindo para o mundo parar e eu descer. Hei Chico! O dia pra mim começou que nem aquele da modinha que diz: tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu. Sei lá! Sei lá! Mas, se a educação me permitisse eu com certeza, soltaria um palavrão, mas que droga! Que droga! A coisa trava na garganta e eu rebento os dedos chutando as pedras que encontro no meu quintal. Agora me pergunte por quê. Digo não, já que nem eu sei o porquê, só sei que estou zangada. Pode não?

Eu não sou sábia, mas me vejo às vezes soprando com mesma boca o calor e o frio e isso me confunde. Não veja conotação, mas o grego Eurípedes deixou dito que os sábios têm duas línguas, uma para dizer o que pensam e a outra para falar conforme as circunstâncias: quando o querem, têm talento para fazer o preto parecer como branco e o branco como preto, soprando com a mesma boca o calor e o frio e exprimindo com palavras exatamente o contrário do que sentem no peito.

Conheço um apólogo atribuído a Aniano a respeito de soprar com a mesma boca o calor e o frio, eis: No máximo rigor do inverno, um camponês recebeu um sátiro em sua cabana. Ao ver que o camponês soprava os dedos, perguntou-lhe o sátiro: “ Por que faz isso?” – ao que respondeu: “ Para me esquentar com o calor do bafo”. Mas tarde, posta a mesa, vendo o sátiro que o camponês soprava a comida muito quente, perguntou-lhe por que fazia o mesmo com a comida.


Ao que respondeu o camponês. “ Para esfriá-la”. Então, o sátiro levantou-se subitamente e lhe disse: “Como?! Pela boca mesma boca, você põe para fora o calor e o frio? Ah! Não quero negócio com essa gente”. E assim dizendo, saiu a correr.
Hoje, faça como o sátiro, saia correndo de mim...

MENOS ZÉLIA, MENOS...


E lá vamos nós pra a escrita do dia, mas antes vou dá um “cala boca” aqui no Caetano, que está se lamuriando no meu ouvido, numa dessas FM da vida com uma cantiga que diz não sabe o que vai fazer da vida sem você/ você não me ensinou a te esquecer e que vai procurar os teus abraços noutros braços e por ai vai. Calado o Caetano, a irmã Bethânia começa reclamando também com o tal do “Negue”. Ufa!

E agora, o que direi, estou procurando em mim um olhar sobrenatural “para entender a existência de tantos destinos rotos e obscuros”. Mas deixa pra lá, “gente humilde, tarefas humílimas”. Quem se importa com eles, não são formadores de opinião, apenas se preocupam para comer.
Ah meu caro leitor, está difícil de extrair desse nosso cotidiano palavras de encanto que possam contribuir para um exercício de perspectiva otimista do tipo... bons tempos virão...

Menos Zélia, menos, afinal, brasileiro tem memória curta, é bonzinho e fortinho, fortinho, não estamos nem ai pra aperreio, isso a gente tira de letra, sempre damos um jeitinho. Para sair do vermelho tem uns que ocupam um O900 e passam a soltar suas “consultas” exotéricas; outros conseguem um mandato “evangélico”; ainda outros seguem para os States, aperfeiçoam o inglês, faz um curso de economês em Harvard, na volta saem por este Brasil afora dando palestras a peso de ouro, naturalmente deitando falação a respeito da nossa eterna crise econômica. Outros fundam um partido político, para em seguida venderem a legenda a um bispo qualquer. E assim somos nós: CRIATIVOS pra lá da conta.

E se na próxima eleição para presidência deste país, se eu ainda não for candidata , lamento, mais a escolha ´recairá sobre os mesmos, então, use a brincadeira infantil, que diz: ma-mã-e disse que eu escolhesse este aqui...Mas como sou muito teimoso, escolho aquele aliiiii.
E good luck. So long, good bye, farewell, adieu, ta-ta.

E QUEM SOU EU PRA DUVIDAR...?


Outro dia eu li: cidadã carioca – sem antecedentes criminais – foi surrada pelo segurança do supermercado em seguida presa e processada nos rigores da lei. O motivo: foi flagrada tentando levar sem pagar, uma lata de leite. Com a cidadã meliante, uma criança de colo, que choramingava de fome.
Coisas deste mundo. “Mundo mundo vasto mundo / se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução”

Sobre o caso da cidadã carioca fico imaginando em quais faces subiria o rubor se, com a cobertura da TV Globo (ou Record?), surgisse na porta da cadeia a figura do padre Antônio Vieira e proferisse um sermão desta natureza:
“O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno; os que eu falo, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo procedimento, distingue muito bem São Basílio Magno. Não só ladrões , diz o santo, os que cortam bolsas, espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o Governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem estes roubam cidades e reinos; os outros, se furtam são enforcados, estes furtam e enforcam”.

Ruborizei? Mas como !? Se nunca roubei nem enforquei? Sou apenas uma testemunha passiva dos fatos? Sei não... Se culpa tenho vou fazer penitência rumarei à aldeia de Shingo no Japão, e no dia 3 de maio do ano quem vem, celebrar a “Festividade de Cristo”, pois foi nessa localidade que Jesus – que foi casado com uma moça chamada Miyko, com quem teve três filhas – morreu aos 106 anos.

À guisa de esclarecimento, aquele moço que foi crucificado em Jerusalém, chamava-se Isukiri e era irmão de Jesus. Quem fez tal descoberta? O sacerdote xintoísta Koma Takeuchi, em 1935.
E quem sou eu pra duvidar...?

ENTRE A SANIDADE E A LOUCURA


Decididamente não sou o rei de Britain, não me chamo Lear, não tenho filhas com nomes de Generil, Regan ou Cordelia e não estou dividindo o meu reino. Nem tampouco me sinto Frida, que perdeu o sapato, que foi achado pelo já cego Édipo, que ajudado por Antígona põe o sapato em Frida, que a sufoca até a morte. E ainda por cima não saí mundo afora proclamando que “ Eu ti dei a minha vida e você me perdeu!”. Por conseguinte, sinto-me em pleno gozo das minhas faculdades mentais.

Sobre a ótica do psicanalista inglês Adam Phillips (Louco Para Ser Normal), a LOUCURA pode ser vista como confusão, agressividade ou frustração demais, como desenvolvimento defeituoso, como espera insuportável e como falta de esperança.
Quanto a SANIDADE, podemos pensá-la, ainda pela ótica de Phillips, como violação de tabus, como consciência tolerável de nossos limites, como vitalidade preservada, como fé e até como sorte por ter nascido com quantidades certas de emoções para não adiar o desejo nem nosso corpo, nem o querer.

Ainda nos propõe a SANIDADE como capacidade de suportar as tensões das experiências nas diferentes escolhas que fazemos, no reconhecimento das implicações éticas dos atos, na consideração dos efeitos devastadores da humilhação e sobre a importância da esperança.
E eu que não sou nenhum Shakespeare ou George Orwell e nunca criei personagem maluco, vou ficando por aqui, agradecendo a doutora psicoterapeuta Denise M. Molino pela mãozinha a mim concedida na elaboração do artigo de hoje.

A FILOSOFIA PURIFICA A VONTADE



Até hoje não existe uma explicação para o surgimento na metade do século XIX de tantos e tantos “pessimistas” , se não vejamos: poetas, Byron na Inglaterra, Musset na França, Heine na Alemanha, Leopardi na Itália, Pushkin e Lermontoff na Rússia. Compositores: Schubert, Schumann, Chopin e, até mesmo tardiamente, Beethoven. E também, o mais pessimista dos filósofos Artur Schopenhauer. É dele que vamos tratar.
O Mundo como Vontade e Representação (a grande antologia do infortúnio), é uma obra de Schopenhauer, apareceu em 1881, é um livro que impressiona pelo seu estilo, foge da terminologia kantiana , do obscurantismo hegeliana e também da geometria espinosista,, é centrado na concepção do mundo como vontade e por conseguinte como luta e miséria, explicado de maneira clara e direta.
Nesse livro, Schopenhauer nos ensina que não é a riqueza, mas a sabedoria, que constitui o Caminho. “ O homem é ao mesmo tempo o esforço impetuoso da vontade ( cujo foco está no sistema reprodutor) e o agente eterno, livre e sereno do conhecimento puro ( cujo foco é o cérebro). É admirável sentir que o conhecimento, apesar de nascido da vontade, pode ainda dominar a vontade. A possibilidade da independência do conhecimento aparece na maneira indiferente pela qual o intelecto, ocasionalmente, reage aos ditames do desejo .
O intelecto exerce poder sobre a vontade, permite um desenvolvimento deliberado. O desejo pode ser moderado ou acalmado pelo conhecimento e acima de tudo por uma filosofia determinista que vê em tudo resultado inevitável de seus antecedentes. “De dez coisas que nos aborrecem, nove não nos aborreceriam se as conhecêssemos integralmente em suas causas e, conseqüentemente, compreendêssemos sua verdadeira natureza... Pois o que o freio e o bridão são para um cavalo indócil, o intelecto é para a vontade no homem”. Nada confere maior equilíbrio ao ser humano do que o conhecimento claro. Quanto mais conhecermos nossas paixões, menos elas nos controlam e “ nada nos protegerá tanto de uma coação externa como controle de nós mesmos”. A MAIOR DAS MARAVILHAS NÃO É CONQUISTAR O MUNDO, MAS DOMINAR A SI MESMO.
Pela ótica de Schopenhauer, a filosofia purifica a vontade. Mas a filosofia tem de ser tomada como experiência e pensamento, não como mera leitura e estudo passivo.
Assim, caro leitor/leitora, com ajuda do “parceiro” Will Durant, é que consegui elaborar este texto.