sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

SOMOS OU NÃO SOMOS DIABÓLICOS?




Ando tão vazia de pensamento, que me pus a cascavilhar o pensamento dos outros.

E vamos atacar de Humberto Eco, dissecando e questionando Pirandello, que do alto de sua sabedoria, tratou nos seus estudos, lições e ensaios sobre o tema “Humorismo”, ficando registrado que o único animal que sabe rir é justamente àquele que, devido a sua irracionalidade e ao seu desejo frustrado de racionalizá-la, não tem razão nenhuma para rir. Ou melhor, que ri justamente e somente por razões muito tristes.

Já Baudelaire, define o riso como profundamente humano, portanto é diabólico, e explica: os anjos não riem; o diabo sim. Tem tempo a perder, toda uma eternidade para cultivar o próprio mal-estar, numa associação do cômico à sensação de mal-estar.

Pensando bem, Baudelaire tem lá suas razões. Vejamos numa seqüência de fatos, que o riso nasce geralmente de alguma coisa errada que não nos diz respeito, e quando somos capazes de rir da desgraça de um semelhante nos tornamos diabólicos.

Quem de nós pode conter o riso diante de um semelhante empertigado a escorregar e ir ao chão?

Quem diz nós não ri de uma piada de marido traído?

Quem de nós não ri de uma caracterização cômica expondo o desvio sexual de um nosso semelhante?

Quem de nós não ri da miséria explorada de forma humorística?

Quem de nós não ri das piadas irreverentes sobre os nossos homens públicos?

O bêbado nos faz ri, a velhice camuflada provoca o riso, os loucos idem..

E sobre tudo o que foi dito, chega-se a seguinte conclusão: “pode-se até sorrir, mas as razões pelas quais se sorri são as mesmas pelas quais se chora”.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

JOSÉ DE ALENCAR E A MÁQUINA DE COSER


Hoje, nada de cogitar idéias nem parafusar novidade, vou dar um mergulho no tempo, me reportar ao ano de 1854, quando aos 25 anos de idade José de Alencar, antes de se transformar no nosso maior escritor romântico, exercitou a pena como cronista nos jornais do Rio de Janeiro.

Segundo João Ribeiro Faria (crônicas escolhidas José de Alencar - Folha de São Paulo) naqueletempo a crônica chamava-se folhetim e era destituída das características que tem hoje. Publicadas aos domingos, tinha por objetivo comentar e passar em revista os principais fatos da semana de forma genérica. E num único folhetim podiam estar, lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, comentários a respeito do espetáculo lírico, especulações na Bolsa, um baile no cassino ou sobre o asseio da cidade do Rio de Janeiro (acometida na época por um surto de cólera, que o cronista o tratava como "diabo azul" por não ter certeza a qual gênero pertencia, se masculino ou feminino).

José de Alencar em seu folhetim, que levava o nome de "Ao correr da pena", datado de 3 de novembro de 1854, expressa a sua opinião a respeito da "máquina de coser", invenção americana chegada ao Brasil e que ele foi conhecer de perto numa visita que fez à fábrica de coser de Madame Besse, situada à rua do Rosário, n. 74.

Eis algumas considerações do folhetinista a respeito dos "malefícios" da tal invenção no que fiz respeito ao belo sexo:

Sobre a "maldita invenção" diz o cronista, que o belo sexo não pode deixar de declarar-se contra, pois priva os seus dedinhos mimosos de uma prenda tão linda e acaba para sempre com todas as graciosas tradições da galanteria antiga. As mãozinhas delicadas da amante, ou da mãe extremosa, trêmulas de felicidade e emoção, não se ocuparão mais com aquele doce trabalho, fruto de longas vigílias, povoadas de sonhos e de imagens risonhas. Que coração sensível pode suportar friamente semelhante profanação do sentimento?

Para o cronista, no entanto, a invenção da máquina não despoetizou a arte. E diz: " Até agora, se tínhamos a ventura de ser admitidos no santuário de algum gabinete de moça, e de passarmos algumas horas a conversar e a vê-la coser, só podíamos gozar dos graciosos movimentos das mãos, porém não se nos concedia o supremo prazer de entrever sob a orla do vestido um pezinho encantador, calçado por alguma botinazinha azul; um pezinho de mulher bonita, que é tudo quanto há de mais poético neste mundo".

Em 1855, o folhetinista tarado por um pezinho de mulher, prevendo os meios de comunicação de nossa era, sentenciou: "Tempo virá em que uma palavra que cair do bico da pena daí a uma hora correrá o universo por uma rede imensa de caminhos de ferro e de barcos de vapor, falando por milhões de bocas, reproduzindo-se infinitamente como as folhas de uma grande árvore. Esta árvore é a liberdade; a liberdade de imprensa, que há de existir sempre, porque é a liberdade do pensamento e da consciência, sem a qual o homem não existe; porque é o direito de queixa e de defesa, que não se pode recusar a ninguém".


domingo, 17 de fevereiro de 2008

A CULPA É DE MEU PAI


Quando eu era menina de engenho eu queria conduzir carro-de-boi; manobrar as engrenagens do engenho; mexer os tachos de mel efervescente; por às costas os sacos de açúcar e mais: subir no coqueiro; ser vaqueiro e até feitor. Aí o meu jovem pai me dizia: menina não leva jeito para essas coisas. E me mandava brincar com bonecas feitas de espigas de milho verde.

Quando eu era mocinha da cidade eu queria estudar música, compor e ser tão famosa... Como desconhecia uma mulher compositora de nome consagrado, eu dizia: igual a Schubert, por conta de sua Ave Maria, que escutava todos os dias. Queria ser inventora, como Thomas Edson, Santos Dumond, Alexandre Grham Bel, de cujas invenções tanto o meu avô falava. Queria ser filósofa, admirava Platão porque dele me falava o velho professor Cabral, afirmava ele que Platão possuía a sabedoria e também a arte e que o filósofo e o poeta moravam numa só alma. Queria ser dramaturga, como Shakespeare. Queria ser igual a Machado de Assis, afinal já tinha lido e relido A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia. Então o meu velho pai me dizia: mulher não tem cabeça para essas coisas. E me mandava aprender a fazer bolo com a minha mãe, cuidar de crianças, lavar pratos e arrumar a casa com a Júlia e lavar roupa com a dona Maria Ventura.

Hoje, sem pai para me dizer o que me é permitido fazer e do que sou capaz, fico imaginando se de fato essa diferença de quatro milhões de células nervosas, apregoada pela doutos cientistas deixam nós mulheres menos inteligentes do que os homens De minha parte, uma coisa eu sei que não sei: a falta que os tais neurônios me fazem , nem aonde eles deveriam atuar: se no cérebro, cerebelo ou bulbo.

Agora, de uma coisa eu sei que sei: se rodaram poucas saias entre as cabeças pensantes que deixaram legados notáveis à humanidade, a culpa é de meu pai, do pai dele, do pai do pai dele e por aí vai...


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

EMOÇÃO INDIFERENTE





A televisão exibe um rapazinho caído ao relento e desfalecido, alguém o carrega sob os olhares curiosos dos que dele se acercaram. Quadro de novela.

A cena acima descrita suscita emoção. Então, questiono: por ser uma mera representação? Até onde a realidade também nos comove?

Sobre tal assunto li certa vez do mestre Mário Moacyr Porto, um texto onde ele fez uma explanação a respeito do sofrimento de verdade e a desgraça de ficção, como isso nos atinge. Sustenta o mestre que no mundo moral – "que é um mundo construído pela inteligência – o bem e o mal só existe para nós como forças contraditórias e atuantes quando passam da condição de juízo de valor do raciocínio para a categoria de estados emocionais, vividos pela imaginação. O espetáculo da miséria humana, as brutalidades do egoísmo, o sofrimento real e irremissível dos nossos iguais não nos tocam, por isso mesmo, como realidades sensíveis e contagiantes. Basta, porém, que se substitua este sofrimento de verdade por uma desgraça de ficção para que o sintamos em toda a sua plenitude. Um mendigo andrajoso, faminto, miserável, que nos pede ajuda, não provoca, habitualmente, emoção ou piedade, se o espetáculo da sua flagrante miséria não se valoriza com um “décor” estético. É uma realidade neutra. No entanto, o sofrimento de ficção que nos revela o teatro, o cinema, ou qualquer forma de expressão artística, comove-nos até as lágrimas. Como se explicaria, assim, esta aparente contradição da sensibilidade humana, isto é, indiferença aa vista de um sofrimento real e comovido enternecimento em face de um infortúnio de ficção? Por que o sofrimento no teatro é mais real do que o sofrimento que a vida expõe a nossos olhos?"

Explicação do mestre: “ É que o bom e o belo não é o que vemos, e sim o que sentimos". .









domingo, 10 de fevereiro de 2008

INTRANQUILIDADE


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HAVIA TRANQUILIDADE NO MAR

MAS NÃO HAVIA TRANQUILIDADE EM MIM

HAVIA UM CÉU AZUL E ASTROS LUMINOSOS

MAS A MINHA ALMA PARECIA ENVOLTA EM TREVAS

HAVIA, HAVIA E EU SENTIA UMA SAUDADE PROFUNDA

DE GENTE DISTANTE

MAS NÃO HAVIA QUEM DE MIM SENTISSE ESSA MESMA
SAUDADE

HAVIA AMOR EM MIM

MAS NÃO HAVIA NINGUÉM PRA AMAR

HAVIA MEDO EM MIM

MEDO DE NOITES COMO ESTA

MEDO DE VIVER E SER SÓ















quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

FUJO DE TI

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POR NÃO ADMITIRES

O AMOR QUE PROCLAMO

O PENSAR

SEM AMARRAS

O AGIR

SEM CULPAS

ENFIM,

A LIBERDADE QUE EXIJO

FUJO DE TI

Ô MUNDO QUE NÃO TE QUERO REAL

SOU COMO O CAVALEIRO DE TRISTE FIGURA E TODOS OS

SONHOS

E SEGUINDO OS SEUS PASSOS

FAÇO DO MEU CORPO A ARMADURA

DE MINHA REDE O MEU CAVALO

DOS LIVROS A MINHA LANÇA

DA MINHA IMAGINAÇAO OS CAMINHOS À PERCORRER

E PARTO EM BUSCA DOS MOINHOS DE VENTO...