domingo, 26 de agosto de 2007

ELA FALA POR NÓS









No princípio
Uma palavra
Depois
Uma frase
Um composto subordinado
E no turbilhão das palavras
Eis que surge um confitente
Na figura de mulher translúcida
Analisa-se a figura
Bela aos olhos
Analisa-se o que esconde a diafaneidade
Vislumbra-se
Surge em forma de tristeza
E quanta tristeza, meu Deus!
Ora, ora! Por que o espanto?
Domina todas as letras, é poeta a mulher!
Tristes também foram e são todas...
Clarice
Cecília
Lígia
Adélia
Collete
Virgínia
Lya
E se há de perguntar:
São perigosas as tristezas?
“Apenas são cruéis e perigosas as tristezas
que passeamos na multidão para que
esta lhe dê remédio”
Ensina Rilke
E o que mostra a tristeza da mulher?
Uma tristeza sentida
Uma tristeza sem causa
Uma tristeza necessária
Uma tristeza que sufoca
Uma tristeza que é dela, que é nossa, de todos nós.
Amemos pois, a tristeza de YASMINE
Ela fala por nós.



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TIC-TAC



YASMINE LEMOS



O meu inimigo
Passeia horas no meu pensamento
Destrói as bases do castelo
Depois descubro que foram no vento


O meu inimigo distorce os ponteiros do tempo
Me ilude dizendo que o passado é hoje
Depois descubro que o som das cordas eram um lamento


O meu inimigo tem o meu rosto, meu semblante:
Contraditório:
O meu inimigo é o mais puro de mim:
Ilusório, ciente e permanente, como os ponteiros de um relógio

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O ARTISTA DA PALAVRA









Tristonha e serena cai à tarde, antes que ela desabe sobre mim, vou sair da barrica, apanhar a lanterna e partir em busca de alguém que me sirva de fonte de inspiração para a crônica de hoje.


Não precisei ir muito longe, entre os meus conhecidos ( pense aí em Flaubert, Voltaire, Goethe, Stendhal, Collete, Virgínia Woolf e tantos outros) eis quem eu encontro, perfilado e pronto para ser visto, notado e reconhecido: o escritor Franklin Jorge, o “artista da palavra” , como o qualificou o saudoso Jayme Hipólito Dantas, profetizando também, que um dia “haverão todos de admirar a prosa deste excelente escritor. Deste puro, saudável, belo cultor da forma.” (Extraído do Prefácio do livro de Bolso, Nossa Editora, 1980).


Em “Ficções/Fricções/Africções”, Franklin Jorge, na abertura do fragmento A Idade dos Nomes, onde trata de “Maria Maxixe”, fez a seguinte citação: “Essas coisas não aconteceram, mas existiram sempre” (Salústio. Degli Dei e Del mondo). É assim que vejo o escritor Franklin Jorge, dizendo coisas que eu não sei se aconteceram, mas que existiram, com a maestria descrita pelo também saudoso Américo de Oliveira Costa, que disse: “ Suas produções obedecem sempre a um esforço de despojamento, de depuração na busca da expressão ou da forma desejada, não por uma questão de preciosismo de artífice, mas como uma condição substancial de sua natureza criativa”. (Extraído do livro Spleen de Natal 1996)


A última vez que falei com Franklin foi por telefone, oportunidade em que afirmei não gostar de Shakespeare. (Ele com o seu cavalheirismo, não me disse que o desgostar é fruto da minha pseudocultura, que impede que eu alcance e entenda o dramaturgo inglês).


Mas, sabe Franklin, confesso que existe algo mais: a falta de originalidade. Então, ajo feito o escritor alemão Gottfried Keller, que se queixava de que Shakespeare houvesse aproveitado todos os temas fecundos, antecipando-se, assim, aos escritores que vieram depois dele, e prejudicando-os na própria originalidade.


Obrigada meu caro Franklin por me servir de tema e como você bem o disse, “ escrever é transgredir os códigos (...) quem sabe um dia eu transgrida e convença, feito aquele que eu não alcanço e nem entendo, que no seu tempo pendurava uma lanterna no palco do teatro, e advertia um auditório de mercadores e marinheiros que aquela candeia, oscilante e tosca era a lua, debruçada no firmamento. E todo mundo via e sentia na luz baça do candeeiro de azeite a poeira do astro luminoso.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

QUE OS SINOS DOBREM POR EMÍLIA






Meu caro leitor, minha cara leitora, “ leia isto e queira-me bem, perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas.”


Quem leu o conto ‘O Enfermeiro’ de Machado de Assis, sabe que, quem assim se expressou foi Procópio, personagem da história.


A título de curiosidade passo à frente, pois não deixa de ser interessante saber, principalmente, para nós mulheres, que no ano de 1601, Shakespeare, deixando de lado as comédias ao escrever o sóbrio drama Otelo – quando começa a aprofundar a psicologia de seus personagens – criou para Emilia, mulher de Iago e companheira de Desdêmona, entre outras falas, uma como esta: (...) a culpa é dos maridos. Se eles prodigalizam a outras o amor que é nosso, ou nos fecham em casa por ciúmes ridículos, ou nos batem, ou gastam de má forma o nosso dinheiro, não podemos enfurecer-nos também? De certo somos benévolas de condição, mas também capazes de cólera. E que os maridos saibam, que as mulheres têm sentidos tal como eles, e vêem, e tocam, e saboreiam, e sabem distinguir o que é amargo. Quando eles abandonam as suas mulheres por outras, que procuram senão o prazer? Que os arrasta. Senão a paixão? Que os domina, senão a fraqueza? E nós não temos também, apetites, paixões e fraquezas? Conforme nos tratam, assim seremos nós.”


Taí quem era mulher de verdade: a Emília de Shakespeare e não a Amélia de Ataulfo e Mário Lago. Que os sinos dobrem por ela.


Deixando de lado as emílias e as amélias e, caindo na real, subo na ponte para observar o bate-estaca do “shangri-lá” prometido, só que para tanto me falta a visão otimista e a percepção dos raios da esperança e me sobra o descrédito de Harry (O Lobo da Estepe – Hermann Hesse)


Ora direis: a cotovia nem cantou, é cedo ainda. Afinal, para a ‘Fazenda Modelo’, Juvenal, o Bom Boi foi nomeado faz pouco tempo. Paciência, pois. E assim sendo, que a boiada seja selecionada; plantado o capim elefante; importado o farelo; cheios os bebedouros; substituído o chocalho pelo cartão magnético. E que o preço de cada um seja o valor de uma bolsa-família

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

HOJE, NEM PRÓ NEM CONTRA








Já dizia Homero, o da Odisséia: “ de qualquer coisa é fácil falar: pró ou contra”.


Hoje, nem pró nem contra. De estilingue guardado no bolso, diante da vitrina por decorar, apego-me à conjecturas. Imagino se tem alma o manequim exposto – para quem alguns transeuntes apressados olham de soslaio e dizem levar jeito de rei, imperador ou príncipe, outros param e o criticam por enxergá-lo nu e outros menos apressados param por lhe enxergar o manto real.


Qual a reação do manequim à desaprovação de muitos? Seria idêntica a do rei Arquelau, que ao passar por uma rua alguém lhe jogou um balde de água à cabeça. Incitavam-no a punir o desastrado, mas ele respondeu: “Não foi em mim que ele jogou, foi na pessoa que acreditou que eu fosse”. Ou então, feito Sócrates, que observou quando alguém lhe dizia que falavam mal dele: “ absolutamente, não há em mim, nada do que afirmam.


Quanto aos que enxergam o manto real, o que pensa deles , o manequim? Atribui-lhes méritos e os consideram como os paladinos dos tempos heróicos, que se apresentavam ao combate com armas encantadas? Ou faz como Alexandre, que admoestou Brisson por deixá-lo ganhar a luta dizendo: “devia tê-lo açoitado”. Ou ainda, quem sabe... lembrar-se de Cornéades ao dizer que “os filhos dos príncipes nada aprendem que não seja falso, a não ser andar a cavalo: em todos os demais exercícios cedem competidores e deixam-nos vencer, mas o cavalo, que ignora a lisonja, derruba o filho do rei como o faria com o filho do lixeiro”.


Diz Montaigne, que é triste ter um poder diante do qual tudo se incline; uma tal vantagem repele as demais. Essa cômoda facilidade de fazer com que tudo se abaixe diante de si, exclui quaisquer satisfações; escorrega-se, não se anda, dorme-se, não se vive. Imaginai um homem onipotente: ei-lo angustiado; precisa pedir-nos a esmola de uma resistência.


Ainda Montaigne: As boas qualidades dos reis são como mortas e inúteis, pois as virtudes só se percebem por comparação e as deles nunca se comparam Ignoram os louvores de bom quilate porque os aflige uma continua e invariável aprovação. Ainda que se meçam com o mais íntimo de seus súditos não poderão auferir o prazer da vantagem obtida, pois sempre haverá uma resposta irretoquível: “ trata-se de meu rei”.


Mas, quais as razões que levam muitos a não contestarem o rei? Será que pensa como o filósofo Favorino, que de uma feita discutindo com o imperador Adriano acerca do sentido de certa palavra cedeu a este bem depressa, e aos amigos que lhe censuravam a atitude, respondeu: “Por Deus, pois então não será mais sábio do que eu quem comanda trinta legiões?” Tem também o exemplo de Augusto, que escreveu versos contra Asínio Pólo, o qual respondeu: “Calar-me-ei, não é prudente escrever contra quem pode proscrever”. Diz Montaigne, que ambos tinha razão, pois Dionísio, por não conseguir igualar Filóxeno na poesia nem Platão na filosofia, condenou um aos trabalhos forçados e vendeu o outro como escravo na ilha de Egina.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

O EXISTENTE E INVISÍVEL












Os entendidos afirmam que a filosofia teve início quando a magia e o ritual cederam, de forma lenta, lugar à ciência e ao controle. Também afirmam, que é a única ciência capaz de fazer com que a alma olhe para cima, objetivando o existente e invisível.


A propósito, li em “O Dia do Curinga”, de Jostein Gaarder, um diálogo interessante entre pai e filho. O filho pergunta para o pai se ele acredita em Deus e acrescenta: “se realmente existe um Deus, então ele adora ficar brincando de esconde-esconde com suas criações”.O pai ri da observação do filho e diz: “Talvez Ele tenha tido um choque quando viu o que tinha criado e então saiu rapidinho de cena. O filho insiste:” quer dizer pai, que você acredita em Deus “. Ao que respondeu o pai:” Não disse isso. Mas pode muito bem ser que ele esteja sentado em seu trono lá no céu, rindo de nós porque não acreditamos Nele “. E relatou para o filho a seguinte conversa:


“Certa vez, um cosmonauta russo e um neurocirurgião, também russo, discutiam sobre o cristianismo. O neurocirurgião era cristão, o cosmonauta não era”.Já viajei muitas vezes para o espaço sideral “- gabou-se o cosmonauta -” mas nunca vi nenhum anjo”. O neurocirurgião primeiro ficou olhando para ele; depois disse: “ E eu já operei muitos cérebros inteligentes, mas nunca vi um pensamento.”


Feito o poeta Drummond: “Mais leio, leio. Em filosofias/ tropeço e caio, cavalgo de novo”. Um dia, quem sabe..., Eu ao invés de contentar-me com o materialismo de Demócrito, que afirma que “na realidade não existe nada a não ser átomos e espaço”, alcance a significação, o sentido, a idéia dessa ciência capaz de fazer com que a minha alma olhe para cima. No momento estou perdida e tão por fora quanto Sócrates quando disse: “Uma coisa eu sei é que nada sei”.


domingo, 12 de agosto de 2007

UNDE SALUS?








Eis-me aqui para iniciar minha queda de braço com a “Ùltima flor de Lácio" inculta e bela. Com esta antítese o Sr. Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac trata em versos a língua portuguesa.

Feito o preâmbulo, passo a matéria:


Se eu tivesse de enfrentar o microfone do karaokê e me fosse dado escolher entre a canção de Mercedes Sosa “Gracias à la Vida” e “Não dá pra ser feliz” de Gonzaguinha, eu ficaria com a última. E por que o faria? Explico: Quanto mais leio, mais as entrelinhas me angustiam e eu vejo chifre até em cabeça de cavalo. Aí aindignação vem à tona e haja exclamação para tudo .


Não dá pra ser feliz sabendo que milhões de brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza absoluta; que quase tudo do que é arrecadado pelo governo federal destina-se ao pagamento dos juros da divida do país. Dói-me saber de pai de família desempregado; de jovens sem perspectivas. Por cada criança faminta e sem escola; por cada injustiça, cada dificuldade sofrida pelo próximo me vem à boca um: Deus nos acuda! E por que o faço?


Porque vivo num regime democrático, porque li que democracia significa a perfeita igualdade de oportunidade. E não apenas o rodízio de todos os fernandos, joãos, josés e lulas nos cargos públicos.


Porque li Will Durant destrinchando Platão, que diz: “Tal homem, tal Estado”. Ensina mais: “Os governos variam como variam os caracteres dos homens ; ... Os Estados são constituídos pela natureza humana que se encontra neles. O Estado é o que é porque seus cidadãos são o que são. Portanto, não adiante esperar Estados melhores até que tenhamos homens melhores. Até lá todas as modificações deixarão os pontos essenciais inalterados”.


Para compreender a ciência política, disse um mais sábio do que eu, que temos que compreender a psicologia. É a tal história... “Como são encantadoras as pessoas! –Sempre tratando, aumentando e complicando suas doenças, imaginando que ficarão curadas por algum elixir mágico que lhes aconselham... Mas vão de mal a pior... fazem experiências com a legislação e acreditam que, por meio de reformas terminarão com a desonestidade e canalhice da espécie humana –Sem perceberem que na realidade estão desferindo golpes nas cabeças de uma hidra.


Acho que é hora de lembrar do meu avô Bernardino e citar uma frase em latim que ele costumava dizer enquanto curtia os seus porres homéricos: “Unde salus” ? que trocado em miúdo significa: “Donde virá a salvação?”










sexta-feira, 10 de agosto de 2007

COISA PENSANTE









JÁ QUE SOU UMA COISA PENSANTE



E COMO TAL



DUVIDO



CONCEBO



NEGO



IMAGINO



SINTO



QUERO



NÃO QUERO



QUE POUCO SEI



E IGNORO MUITO MAIS



VEZ POR OUTRA ME VEJO IMPELIDA A QUESTIONAR A VIDA



O JULGAMENTO QUE SE PODE FAZER DELA



E O QUE OCORRE É O PENSAMENTO DE OUTRO, POIS JÁ FOI DITO QUE A VIDA NÃO É UM PROBLEMA PARA SER RESOLVIDO, É PARA SER VIVIDO.



SERÁ?



terça-feira, 7 de agosto de 2007

OS CONSELHOS DE RILKE






Entre os anos 1903/1908, o então aprendiz de poeta Franz Xaver Kappus, mantinha correspondência com o já famoso Rainer Maria Rilke. Em suas cartas, Kappus colocava para a devida apreciação do poeta os versos que escrevia. Rilke, por ser alheio a qualquer intenção crítica, não os examinava por este prisma, pois acreditava, que para penetrar numa obra de arte, nada pior do que as palavras da crítica, que somente levam a mal-entendidos. Afirmando ainda que nem tudo se pode saber ou dizer, e quase tudo o que sucede é inexprimível e decorre num espaço que a palavra jamais alcançou.


Assim, em resposta as suas cartas, ao invés da crítica, recebia Kappus, conselho do poeta maior. Eis alguns deles: “procure como se fosse o primeiro homem a dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite, de início, os temas demasiado comuns: são mais difíceis. Fuja dos grandes assuntos e aproveite aqueles que o dia-a-dia lhe oferece. Fale das suas tristezas e dos seus desejos, dos pensamentos que o tocam, da sua fé na beleza. Diga tudo com sinceridade, calma e humildade. Utilize para se exprimir, os objetos que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos, as suas lembranças. Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador nada é pobre, não há lugares mesquinhos e indiferentes”.


A propósito, à mim não foi pedido crítica nem conselho, também não saberia como, mas li versos de alguém que não conheço, mas sei que existe e bastaria abrir a porta para encontrá-la. São de Yasmine, os versos que se seguem:


SENTINDO VONTADE DE CHORAR
APAGUEI A LUZ
ESQUECI DO TEMPO
FIZ UM JOGO DE SENTIMENTOS
TIPO XADREZ
XEQUE-MATE
PERCEBI QUE FUI ALCANÇADA
SILÊNCIO
NÃO CONSEGUI ME ENGANAR
PENSEI UM, DOIS, TRÊS
DAMA, VALETE E NEM UM REI
ENTÃO CHOREI


O que diria o poeta maior Rainer Maria Rilke , à jovem poeta Yasmine Lemos...? O mesmo que disse ao também jovem poeta Franz Xaver Kappus...? "O homem solitário pode desde já lançar as bases, construir o futuro com as suas mãos que se iludem menos. Por isso, ame a sua solidão, suporte as penas que dela vierem, e se essas penas lhe arracarem queixas, que sejam belas essas queixas" ( Rilke - Poeemas e Cartas a um Jovem Poeta)









sexta-feira, 3 de agosto de 2007

NADA MAIS ME ESPANTA











Sou o que se pode chamar de uma escrevinhadora de fôlego curto, contudo, gostaria de hoje dar o ar de minha graça abordando um tema profundo. Mas qual nada, cadê o fluir? Os temas comuns se repetem, as perguntas se perpetuam, as inquietações idem.


Falarei, pois, sobre o quê... Dos males do mundo; das experiências das células-tronco direcionadas para a cura dos tetraplégicos e demais doenças tidas como incuráveis
Dos males espalhados pelo mundo não sei se a culpa cabe a Zeus ou a Epimeteu. Zeus porque presenteou Pandora, mulher de todas as graças e talentos com a famosa caixa que se tornou conhecida como a “Caixa de Pandora”, onde estavam guardados todos os males. Epimeteu marido de Pandora, porque abriu a caixa. Caixa aberta, miséria solta a campear mundo afora. Se bem que Zeus tinha lá os seus propósitos, sabia o que estava fazendo: deixou no fundo da caixa a esperança e dela vivemos até hoje.


Quanto às células-tronco, do resultado positivo das experiências não sei dizer nada não, mas sei uma historinha que li e passo à frente, sem a devida permissão da escritora Lya Luft, que contou em seu livro “O Rio do Meio”: um tropeiro idoso no interior quando lhe contaram, em volta do fogo, que o homem chegara à Lua, onde muitos protestaram que era impossível, era coisa de gringos, tudo truque de televisão, ele baforando seu cigarro de palha contemplou a chama, refletiu um pouco e disse: Eu, depois que inventaram a máquina de debulhar milho, não me admiro de mais nada.


Com saudade do cigarro, que não era de palha e que larguei faz tempo, contemplando coisa nenhuma, refletindo sobre a mesmice da vida, o mesmo estado de coisas, a mesma pasmaceira, só me resta dizer feito o velho tropeiro: nada mais me espanta.