terça-feira, 21 de agosto de 2007

QUE OS SINOS DOBREM POR EMÍLIA






Meu caro leitor, minha cara leitora, “ leia isto e queira-me bem, perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas.”


Quem leu o conto ‘O Enfermeiro’ de Machado de Assis, sabe que, quem assim se expressou foi Procópio, personagem da história.


A título de curiosidade passo à frente, pois não deixa de ser interessante saber, principalmente, para nós mulheres, que no ano de 1601, Shakespeare, deixando de lado as comédias ao escrever o sóbrio drama Otelo – quando começa a aprofundar a psicologia de seus personagens – criou para Emilia, mulher de Iago e companheira de Desdêmona, entre outras falas, uma como esta: (...) a culpa é dos maridos. Se eles prodigalizam a outras o amor que é nosso, ou nos fecham em casa por ciúmes ridículos, ou nos batem, ou gastam de má forma o nosso dinheiro, não podemos enfurecer-nos também? De certo somos benévolas de condição, mas também capazes de cólera. E que os maridos saibam, que as mulheres têm sentidos tal como eles, e vêem, e tocam, e saboreiam, e sabem distinguir o que é amargo. Quando eles abandonam as suas mulheres por outras, que procuram senão o prazer? Que os arrasta. Senão a paixão? Que os domina, senão a fraqueza? E nós não temos também, apetites, paixões e fraquezas? Conforme nos tratam, assim seremos nós.”


Taí quem era mulher de verdade: a Emília de Shakespeare e não a Amélia de Ataulfo e Mário Lago. Que os sinos dobrem por ela.


Deixando de lado as emílias e as amélias e, caindo na real, subo na ponte para observar o bate-estaca do “shangri-lá” prometido, só que para tanto me falta a visão otimista e a percepção dos raios da esperança e me sobra o descrédito de Harry (O Lobo da Estepe – Hermann Hesse)


Ora direis: a cotovia nem cantou, é cedo ainda. Afinal, para a ‘Fazenda Modelo’, Juvenal, o Bom Boi foi nomeado faz pouco tempo. Paciência, pois. E assim sendo, que a boiada seja selecionada; plantado o capim elefante; importado o farelo; cheios os bebedouros; substituído o chocalho pelo cartão magnético. E que o preço de cada um seja o valor de uma bolsa-família

2 comentários:

Anônimo disse...

Me concentro no espaço mais das Emilias do que das Amélias.
Ora! Shakspeare já percebia que a alma feminina tinha uma força vulcanica.Acho que no intimo ele gostaria de ver estourar na sociedade tamanhas revoltas.Depois de seculos....lá vem a Amélia.Imperdoável.A não ser que fosse em forma de protesto,para reclamar exatamente do machismo da epoca.tomara

Marco Borges disse...

Emília,Amélia,Maria da Penha,etc,todas vítimas dos famigerados homens.Isto só comprova que as reclamações femininas vêm desde Eva no paraíso.
Pensando bem, se fosse diferente o mundo não teria graça...