sexta-feira, 29 de maio de 2009

TENTANDO RECRIAR O MEU PRÓPRIO SONHO




John Lennon deixou dito que nos tornamos irresponsáveis quando esperamos que alguém faça as coisas por nós, daí vou tentar recriar o meu próprio sonho e por trás de uma “barricada de flores” vou imaginar um mundo tão pequeno quanto o “asteróide B612” e por lá me ajeitar, sem medo, afinal, estarei protegida pelas flores, que podem parecer ingênuas e fracas mais se julgam terríveis com os seus espinhos.


Ouvi isso do “Pequeno Príncipe”. Quero viver feliz nesse meu novo mundo, evitarei o pôr-do-sol pra não sentir tristeza nem saudade e por ser ele tão pequeno não terei companhia, pedirei que me desenhe, também, um carneirinho dentro de uma caixa, e o farei meu companheiro.


Para os que ficam no mundo que saio direi que, quem se vai é uma tola e que pede a esses mesmos que ficam, que se cuidem e tratem de ser felizSe iniciei este “fragmento” com John, encerro parafraseando-o :


Ontem eu vivia sonhos que não eram meus / mas agora renasci / eu era a sombra do nada mas agora sou Zélia / e como tal terei que ir levando / O sonho acabou.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

TRAGÉDIA OU COMÉDIA?



Por culpa do advento do classicismo renascentista, que tornou conhecido os gêneros tragédia e comédia, hoje não sei o que escreveria, se tragédia para purificar uma paixão ou se comédia para focalizar uma situação cômica e ridícula.Penso em tragédia, mas fogem de mim as condições necessárias, não sou personagem ilustre, além do mais teria que seguir a lei das três unidades: tempo, espaço e ação.


Tempo já não existe. Espaço é imensurável a distância entre o eu e o tu. Ação esta esbarra na causa e efeito, o corpo já na atua sobre o outro.Apelaria para o drama, então? Talvez com as minhas “lamúrias”... Afinal, o que o caracteriza não é a exploração dos sentimentos humanos?


Se não tivesse argumentos próprios apelaria para o lirismo de Camilo Pessanha, pois é sabido que a dor de ficção comove mais que a dor real, assim para “impressionar”, poderia então confessar: “Tenho sonhos cruéis; n’alma doente / Sinto um vago receio prematuro / Vou a medo na aresta do futuro, / Embebido em saudades do presente”.


Sabe, acho que estou mais para o tragicômico e bem caberia a mim o papel de “Pagliacci” e vou buscar em Leoncavallo o seu “Ridi, Pagliacci e todos aplaudirão / transforma em brincadeira o tormento e o pranto / em uma careta o soluço e a dor / ri palhaço sobre o seu amor estraçalhado! / Ri da dor que te envenena o coração”.

A CASA QUE COLORI E PICHEI



Um dia voltava eu para casa, me sentia feliz e transbordava de esperança, saltei do carro, olhei para minha casa então disse pra ela: olá senhora dona casa, quer compartilhar da minha alegria, da minha felicidade, da minha esperança? E como casa não fala, resolvi, à sua revelia, colori-la de verde para que ela ostentasse o meu estado de espírito. Dito e feito.


Mas sabe como é, alegria de pobre dura pouco e um belo dia lá se foi a alegria, felicidade, esperança e a minha senhora dona casa passou a representar um acinte ao meu novo estado de espírito, a esta altura, macambúzio e a minha vontade foi de virar uma pichadora e na calada da noite sair rabiscando suas paredes com alguns palavrões bem fora do meu linguajar só para ter o prazer de me sentir capaz, de me tornar tão vulgar como qualquer uma reles mortal.


Dessas fêmeas que reclamam, sofrem por qualquer coisa, inclusive por amor, que é capaz de apelar para o seu lado masculino e encher a cara no primeiro boteco que avistar, e de gastar todas as suas fichas numa máquina jukbox só para ouvir Roberto Carlos mandar tudo pro inferno.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O ÚLTIMO COPO DE ÁGUA




E não me venha com mais um copo de água para tentar acalmar a minha ira (é santa, viu?) este será o ultimo que entornarei, pois estou mais para Dionísio.


E tem mais, não vá pensar que quando eu sair daqui vou andar por ai chutando pedrinhas por tua causa não.


O que queria mesmo era ser Ricardo III para eu puder gritar: Um cavalo! Meu reino por um cavalo! E nem precisava ser um puro sangue, qualquer pangaré servia para fugir de ti.-


CORTA!!!! O teu texto tá ficando uma bela de uma porcaria! Ruim pra caramba!


O que danado tá fazendo Ricardo III ai, tem nada a ver.


É para falar sobre o último copo de água e você saiu do tema, Zélia, acooooooooorda!!!


Vamos, vamos começa outro se não a Marília não te dar um Excellent!

E a Léia te grita: FORA!


- Quem, eu, começar outro??? É ruim hem?


Além do mais hoje é segunda-feira, dia de mau humor. Nem que baixasse em mim o espírito vivo da Ana Marques ou da Mõnica Mello eu não conseguiria acertar nem agradar.


Ando desinspirada - modéstia à parte, neologismo meu .


E tem mais: dobre ai essa tua cadeirinha de diretor, põe o boné, coloca o ray-ban e manda o teu assistente ver se eu estou lá na esquina conversando com a Chica sobre a raposa alegre, quem sabe de repente ela deixa eu dá uma espiadinha na medalha do Kiko.


To indo, bye.

VAMOS APRENDER A GOSTAR DE SCHOPENHAUER, MLUÍZA MARTINS?



Sabe, Maria Luiza, lá pela metade do século XIX, não era só Schopenhauer que era profundamente pessimista, outras vozes de sua época também eram. Podemos enumerar os poetas Byron na Inglaterra, Musset na França, Heine na Alemanha, Leopardi na Itália, Pushkin e Lermontof na Rússia.


Também eram considerados como tal os compositores Schubert, Schumann, Chopin, inclusive Beethoven ( que tentava se convencer que não era).E o homem Schopenhauer?


Nasceu em Dantzig no dia 22 de fevereiro de 1788. Filho de pai negociante, cresceu num ambiente de negócios e finanças, mas não se sentiu atraído pela carreira mercantil.Costumava dizer que “O caráter ou vontade” teria herdado do pai; quanto ao intelecto teria sido herdado da mãe, que era uma escritora famosa de seu tempo, possuidora de um temperamento forte e mau gênio.


Tivera uma vida infeliz com seu marido e quando ele morreu entregou-se ao amor livre, com o que não concordou o filho, começando ai as desavenças entre os dois. Vale salientar que, em uma das cartas ao filho, assim ela se expressou:: “Você é insuportável e opressivo e muito difícil de se conviver; todas as suas boas qualidades são obscurecidas por seu convencimento e tornadas inúteis para o mundo, porque você não pode conter a tendência de criticar as pessoas.”


Quando certa vez, Goethe, que era amigo da mãe de Shopenhauer, disse que o filho dela um dia se tornaria famoso, ela encheu-se de ira pois disse que não conhecia uma família com dois gênios.


E, finalmente numa briga séria, ela o empurrou escada abaixo, pois além de filho ela o considerava rival. Diante disso Schopenhauer, cheio de amargura prometeu-lhe que a posteridade a conheceria somente através dele e deixou a companhia da mãe a quem nunca mais viu.


Entende, agora, Maria Luiza, o nosso filósofo foi praticamente levado ao pessimismo pelas circunstâncias: um homem que não conheceu o amor da mãe e o que é ainda pior, sofreu o ódio dela, não tem motivos para ficar encantando com o mundo.


Daí em diante tornou-se sóbrio, cínico e desconfiado; era obcecado por temores e visões sinistras; para se ter uma idéia de sua desconfiança, ele nunca entregou o pescoço à navalha de um barbeiro e dormia com pistolas carregadas ao lado da cama.


Além do mais ele possuía um sentido quase paranóico de grandeza não reconhecida; não alcançando a fama e o sucesso, voltou-se para dentro de si mesmo e roia sua própria alma. E assim sem mãe, esposa, filhos nem país vivia ele, inteiramente sozinho, sem um único amigo.E a obra do filósofo Schopenhauer?


A primeira foi O Mundo como Vontade e Representação (1813) não teve nenhuma repercussão e dezesseis anos depois ele foi informado que a maior parte da edição fora vendida como papel velho.


Em seguida vem Sabedoria da Vida, que trata sobre a Fama; Da Vontade na Natureza; O Mundo como Vontade e Representação (1844); Os Dois Problemas Básicos da Ética e em 1851 , Pererga ET Paralipomena (literalmente Acessórios e Remanescentes)Enfim, a glória. Nietzsche afirmou: “Nada ofendia tanto sábios alemães, como Schopenhauer ser tão diferente deles”.


Mas o filósofo aprendera a ter paciência; estava certo de que, ainda que tardio, viria o reconhecimento. Veio, lentamente , mas veio. Homens da classe média – advogados, médicos, negociantes - encontaram nele uma filosofia que lhes oferecia não um mero jargão de irrealidades metafísicas, mas sim um estudo inteligível dos fenômenos da vida real.


É bom ressaltar, que por conta do compositor Wagner (1854), que lhe mandou uma cópia do Der Ring des Nibelungen com uma palavra de apreciação favorável à filosofia da música, Schopenheaur, de grande pessimista que era, tornou-se um quase otimista em sua velhice.


Tocava flauta após o jantar e agradecia ao Tempo por tê-lo libertado dos ardores da mocidade.Morreu no dia 21 de dezembro de 1860.Fica dito dele:


A VIDA HUMANA TRANSCORRE INTEIRAMENTE ENTRE O QUERER E O CONQUISTAR.


(Fonte de pesquisa – Os Grandes Filósofos – A Filosofia de Shopenhauer)

"TRISTEZA SOLIDÁRIA"




É comum as pessoas dizerem que tem o seu livro de cabeceira, eu tenho também, só que mais de um, entre eles o livro de poemas de Yasmine Lemos, “Vestida em Versos”.

Eu estava aqui deitada lendo um desses poemas, que, aliás, é um dos meus favoritos e título desta crônica: “Tristeza Solidária”, que diz o seguinte:


A sutileza do amor me enganou / Pensei: /Há flores ainda / Há cheiro nas pétalas /Eu parecia não me ouvir / Quis chorar /Os olhos arderam, se envergonharam / Lágrimas ensoparam minhas veias /Desfazendo as teias /Comecei a me desmanchar pro mundo / Entrelacei as mãos / numa solidão exausta de mim / Entre as pernas, os lençóis / Cheio de nós / A desesperança sorria / A garganta seca gemia / Alma sem rumo / Ouvi da tristeza uma ironia: / - Deixaste minha gaveta vazia.


Depois que o reli, levantei e fiquei pensando nos que escrevem. É sabido que os que escrevem tem uma imaginação fértil e sua pena é livre, a forma, cada um escolha a sua: fala-se na primeira pessoa ou usa-se uma segunda para dizer o que a primeira pensa,esta, situado-se na condição de narrador passivo - mas soltando a língua da segunda, -“ agente ativo” – que, a quem tudo é permitido dizer , recaindo sobre si, as conseqüências dos seus dizeres, afinal, a segunda não passa de um personagem saído do imaginário do narrador passivo.


E assim, seguimos nós, quase sempre atrás da cortina, manipulando os nossos bonecos de marionetes, ora divertindo, ora fazendo chorar, pensar, sonhar...

E quase sempre atrás de cortina... Quase sempre atrás da cortina......


Bem diz o Apollinaire: “Piedade para nós, que exploramos as fronteiras do irreal”.


Apollinaire era poeta. Poeta que nem a Yasmine..

PEDIDO FEITO,PEDIDO ATENDIDO. QUE VENHA CERVATES!



Com o jeitinho todo seu ela pediu que eu falasse sobre Cervantes, portanto, pedido feito, pedido atendido. Conheça, assim, Malu, um pouquinho mais de MIGUEL DE CERVANTES SAAVEDRA, nascido em Alcalá de Hanares no ano de 1547 e falecido em Madri no ano de l616., filho de um pobre farmacêutico de nome Rodrigo e Leonor de Cortinas, Cervantes cresceu sem cuidados e nem conforto.


Quanto aos estudos não existe registro de informações precisas que possam comprovar que freqüentou alguma universidade, sabe-se que estudou num colégio de jesuitas em Sevilha e estudou gramática e retórica com Juan López de Hoyos, em Madri.


O seu primeiro trabalho literário foi um soneto (1567) a Isabel de Valois, terceira esposa de Felipe II e uma elegia na qual ele lamentava a morte dessa dama. Nessa época (1567), Cervantes demonstrou interesse em conhecer outros países e viajou para Itália em companhia do Cardeal italiano Julio Acquaviva, recomendado que foi por Lopez de Hoyos, de quem era discípulo, que o qualificou como um servidor leal, inteligente e talentoso.


Em terra italiana, Cervantes pode admirar as grandes obras do Renascimento e sentir de perto o fervor da época que surgia . Aprendeu o idioma e logo se familiarizou com a poesia de Luigi Pulci, Ludovico Ariosto e Torquato Tasso e conheceu também a prosa de Maquiavel.


Quando os turcos ameaçavam com suas investidas a Europa Ocidental, Cervantes engajou-se no exército espanhol como soldado e participou de inúmeras batalhas, entre as quais a de Lepanto contra os turcos, onde feriu a mão esquerda, “para maior glória da direita”, como diria mais tarde. Foi conduzido algum tempo depois como escravo para Argel onde ficou por cinco anos, para em seguida voltar à Espanha...


Só aos 57 anos de idade publicou a primeira parte do Quixote em Madri, que foi concebida como novela curta e destinava-se a combater a cavalaria andante, no entanto, o que Cervantes pretendia era uma sátira da propaganda cavaleiresca e dos que armavam cavaleiros às cegas.


Só que a caricatura de um estilo de vida fantasioso transformou-se no retrato da aventura humana no perfil do homem dividido entre sonho e realidade.


Ao 66 anos de idade publicou “Novelas Exemplares”, em seguida o drama “O Cerco de Numância”, seguido de Trabalhos de Persiles e Sigismunda publicados postumamente em 16l7.Em 1614, velho e doente, o escritor ainda participou de um concurso de poesia, e obteve o primeiro prêmio, parca recompensa para tão grande talento. Nada mais lhe deram.

Nem amigos tinha. Vivia só pobre e esquecido. O mundo já não o atraia. Em silêncio, recolheu-se ao convento, tomando o hábito de S. Francisco.


E nesse lugar, entre frades, despediu-se da vida no dia 23 de abril de 16l6. Deram-lhe um sepulcro humilde e sem lápide, como convinha a um Franciscano.


E que fique registrado aqui uma frase sua que diz: “ A MAIOR LOUCURA QUE UM HOMEM PODE FAZER NESTA VIDA É DEIXAR-SE MORRER”


(Fonte de pesquisa: “ Os Imortais da Literatura Universal” – Abril Cultural – Editor Victor Cevita -

O SILÊNCIO QUE ME INCOMODOU



Pois é seu Drummond dissestes que tinha apenas duas mãos e todo o sentimento do mundo.


E, por eu ter também duas mãos e todo o sentimento do mundo é que estou triste comigo mesma, triste por não ter tido palavras de conforto ou mesmo um abraço fraterno, um ombro amigo para oferecer à uma amiga querida que chegou até mim e eu não lhe servi de muro das lamentações.


Chorava ela a perda daquele a quem considerava o grande amor da sua vida e eu a deixei partir... Cabeça baixa, ombros caídos, passos arrastados, mais parecendo o ser de “Eterna Mágoa” da poesia de Augusto dos Anjos. Juro, não foi a insensibilidade a causadora do meu silêncio, eu só não tive palavras.


Mas, o que dizer para uma pessoa que tem a vida oscilando entre a dor e o tédio, de espírito obtuso a arrastá-la sempre a fonte do sofrimento sem nunca preencher o vazio interior, a debater-se numa luta permanente, sem saber fugir nem se libertar, que busca refúgio no amor e nele a dor também encontra... E quer saber de mim para quê o viver?


Recordando uma frase do escritor Berilo Wanderlei, será que teria adiantado dizer que também às vezes me sinto “desamada” e tão vazia quanto ela e que por certo fazemos parte dos “tipos perdidos por ai em busca de autores”?

terça-feira, 19 de maio de 2009

APENAS MOMENTOS QUE PASSAM COMO O VENTO



A escritora Dolce Vita, em uma crônica sua sob o título “(Não sou) Virtual”, publicada aqui no Recanto, fala de uma solidão do sentido, solidão pessoal e intransferível da alma, e sob o ponto de vista dela, diferente da solidão de vida.


Embora Comungue do mesmo pensamento da escritora, vez por outra se processa em mim uma transferência de solidão da alma para solidão de vida. E quando isto acontece me sinto um pouco a poeta Florbela Espanca, que afirmou “Não vivo sozinha porque gosto /e sim porque aprendi a ser só”.


Apenas momentos que passam como o vento e que me levam de volta aos versos de Florbela para dizer que “ amo todos os sonhos que se calam / De corações que sentem e não falam / Tudo o que é Infinito e pequenino.”
“AMO TODOS OS SONHOS QUE SE CALAM”. Porque calar é uma arte.


DE CORAÇÕES QUE SENTEM E NÃO FALAM”. Porque sabe ele que "nem tudo poderá ser dito,pensado,racionalizado,filosofado ou entendido".


TUDO O QUE É INFINITO E PEQUENINO”.Porque INFINITO é o amor que existe em mim e PEQUENINO porque na sua expressão terna,enche a minha alma de um sentimento protetor.

EU NÃO PROMETERIA TANTO,MAS...



Já ouvi o Moacir Franco prometer a sua amada, que lhe daria o céu, a terra o mar. Eu não prometeria tanto, mas para agradar um “cristão” eu me prontificaria a organizar um loby no intuito de conseguir modificar o nosso calendário.


Para tanto bastaria uma regressão até o ano de 1582, invocar o papa Gregório XIII e solicitar dele uma segunda edição modificada da Bula Pontíficia “Inter Gravíssima” ( a primeira tratou da reforma do calendário que levou o seu nome e que chegou até nós, conhecido como Gregoriano) determinando a observância da tradição do inicio do Cristianismo, haja vista, que era assim que se vivia: Sábado (Sabbatum), dia de descanço; Domingo ( Dies Dominica), dedicado ao Senhor e nos dias subseqüentes: Feria Secunda, Feria Tertia, Feria Quarta, Feria Quinta e Feria Sexta, nada de trabalho pois sabe o que Feria (Feira), que vem de “Feriaes” significa? “Feriado”!Que vida mansa teríamos, hem?


De uma coisa eu garanto: teríamos mais tempo para pensar, o resto Deus proveria, Jesus mesmo disse: “! Olhai os lírios do campo como eles crescem; não trabalham nem fiam e eu vos digo que nem mesmo Salomão, com toda a sua glória, se vestiu como um deles”.


O que a gente não imagina por um “cristão”,né não? Mas, que fique dito: não é nada preguiçoso, trabalha pra lá da conta, só detesta a segunda e gosta da vida descompromissada ao ar livre. Mas esse meu cristão merece, isto e muito mais!


Principalmente por ter sido capaz de me proporcionar um domingo tão singular e surpreendente quanto o de ontem.

E O SONO QUE NÃO CHEGA...



Duas da madrugada, a música que ouço é “Preludes and Fugues de Bach, executado ao piano por Glenn Gould; o livro que acabo de reler é “Werther” de Goethe.


Pobre Werther, um sonhador apaixonado, não resistiu ao amor impossível de Charlotte e estourou os miolos com um tiro de pistola. Leitura encerrada, Glenn Gould encerra também o seu recital.


Ligo o rádio e agora é a vez de Julio Jaramillo chorar as suas mágoas e pede para que “No me toques Ese Vals” porque Ella lo cantaba e elle já não quer lembrá-la, se sente bien estar solito e canta pra ex-amada: “ Me estoy acostumbrando a no mirarte / me estoy acostumbrando a estar sin ti / Ya no ti necessito / tu ya no me haces falta” .


Ah, o amor... como sofrem as pessoas por este sentimento, pois não?E o sono que não chega e já que não gosto de contar carneirinhos, deixo o meu pensamento divagar... mergulho no tempo e chego até Sócrates, ele que disse que nada sabia, no entanto, sabe o que ele disse sobre o amor em seus diálogos?


Que era o único sentimento que ele podia entender e falar com conhecimento de causa. Já Platão imaginava o amor uma caçada, e não me pergunte o porquê, que nada sei. Outra coisa: alguém que você ama talvez se sentindo incomodado com esse amor já perguntou por que você o ama?


Se um dia perguntar, você responda assim: Porque você permitiu, porque os seus gestos, palavras, pensamentos e ações conferiu permissão para tal.


Dito isto, pega a tua viola, põe do saco, diz bye, bye e vai cantar noutra freguesia.É... parece que o sono está chegando... e o bom disso tudo é que “ me stoy acostumbrando a estar sin ti”. Sem o sono? Ha ha ha... may be, may be not ...

SOU, ESTOU VIRTUAL, DOLCE VITA?



De repente você acorda com aquele gosto de cabo de guarda chuva na boca, (né não Evelyne?),liga a maquininha, numa de procura mas não acha, então, se não acha, corre para o pensatório, atrás de respostas para suas indagações e quer saber por que passou de “a preferida” para “a preterida”, ai o seu mundo começa a ficar quadrado, as pessoas pululam na máquina, manifestam pensamentos que vão ao encontro dos seus, você se atordoa, as imagina personagem de romance, lhes dar rosto, personalidade, sentimentos, ação.


Enquanto elas atuam pra lá, você as molda por cá, lhes põe palavras na boca, no seu deslumbramento ingênuo, tenta manipulá-las a seu bel prazer, as quer para si, até que a sua consciência grita: ACORDA, ZÉLIA!

Este mundo ai é o VIRTUAL!

Ninguém é de ninguém!

Agora indago: sou, estou virtual, Dolce Vita?

P.S sobre um outro


PS: A próposito recebi da cronista Dolce Vita, o PS que faço questão de incorporar a esta minha cronica: P.S. Dolce Vita: A crônica "Sou virtual" que inspirou à indagação destamagnífica autora, Zélia Maria Freire, em "Sou, estou virtual, DolceVita?", para evitar equívocos de interpetação, foi intitulada: "(Não)Sou Virtual".


Assim, espero não passar a equivocada impressão de queestou defendendo a virtualidade. Grata pelo espaço de esclarecimento,Zélia. :)

sábado, 16 de maio de 2009

A AMIZADE É INIMIGA DO DINHEIRO GRANDE

Rubens Neto

“Pai, não é só pancada que causa traumatismo craniano. Filosofia também” .Esta frase foi dita pela filha do recantista José Claudio e ele transcreveu num comentário que fez em um texto meu.Pois é, José Claudio, sua filha tem razão, mas acredito que não é só o pensar filosófico, palavras e atitudes também causam traumatismo.


Você citou sua filha e eu vou citar uma criança de quatro anos chamado Rubens Neto, que perguntou para sua mãe Yasmine, minha amiga, o seguinte: “mãe você sabe para quem o dinheiro grande fala? Para quem não conhece a moedinha de ouro da amizade”.


Incrível que uma criança de quatro anos tenha dito isto, não é? Mas disse.Há dias venho refletindo sobre a tal da “moedinha de ouro da amizade” e cheguei conclusão que “o dinheiro grande” não fala comigo, conheço a “moedinha” . Isto me faz lembrar uma lenda árabe, que li, faz tempo e como na litaratura árabe, que conta a história é dona dela, vou contar sem pedir licença nem citar o autor, que desconheço.


Conta uma lenda árabe que dois amigos viajavam freqüentemente pelo deserto certa vez discutiram, brigaram e um esbofeteou o outro. O que apanhou sem nada dizer escreveu na areia "Hoje, meu melhor amigo me bateu no rosto".


Mais tarde fizeram as pazes e seguiram viagem. Chegaram num oásis resolveram tomar banho. O que havia sido esbofeteado começou a afogar-se, sendo salvo por seu amigo. Quando se recuperou escreveu numa pedra "Hoje meu melhor amigo salvou minha vida". Intrigado, o outro perguntou:“- diga-me; por que depois que bati em você escreveu na areia, agora que te salvei a vida escreveu na pedra?” Sorrindo, o outro respondeu:


“- Quando um grande amigo nos ofende, deveremos escrever na areia, onde o vento do esquecimento e do perdão se encarregam de apagar. Mas quando nos faz algo grandioso, deveremos gravar na pedra da memória do coração, onde nenhum vento do mundo poderá apagar!”

terça-feira, 12 de maio de 2009

CAETANO E DIONISIO UMA EXALTAÇÃO A ALEGRIA





Para exaltar a alegria preciso de um deus e nada melhor do que Dionísio, deus de Nietzeche, que dispensou Apolo,por ser certinho, amante das belas formas, da clareza de ordem e da verdade , enquanto Dionísio representa a transgressão, subversão da ordem estabelecida, a alegria o prazer, o vinho, o amor e a exuberância excessiva, voltado para o riso que liberta e para a comunhão com a natureza selvagem, isto porque como afirmou o filósofo, preferia “ antes ser um sátiro a um santo”.


E eu que também não quero ser santa, estou mais é correndo atrás de Caetano - o nosso Dionísio - com a sua Alegria, Alegria, “a bailar no movimento inesgotável do mundo a produzir diferenças. Como o próprio Dionísio que é nômade e não conhece morada fixa, um eterno ser a construir e destruir a si próprio, inventando-se a todo momento.


Sustentado por algo que Nietzeche denominou “amor fati”, que é o dizer sim a tudo que lhe acontece, movimento de exaltação à vida com tudo o que ela tem de bom e ruim, de perfeito e imperfeito, alegria e dor, aceitando o jogo de incessantes mutações para nos tornarmos dignos de poder viver a felicidade do cotidiano”.


Que nos façamos pois, alegres e felizes para nos tornamos deuses.


É o que nos aponta Eurípedes na sua peça “Os Bacantes”, quando o coro exalta: “ QUEM, NO DIA-A-DIA, DESFRUTA A FELICIDADE DA VIDA, ESTE PROCLAMO FELIZ COMO OS DEUSES”.


PS: esta crônica foi escrita baseada no texto de Marcos Quintaes, sob o título: “No dia em que Caetano convidou um homem a subir no palco”.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

E O DIA ERA SEU



(DEDICADO ÀS MAMÃES DE DIA TRISTE - TEXTO JÁ PUBLICADO)

MÃE


Acordou mais cedo que de costume, deixou-se ficar indolentemente estirada por sobre a cama, ao seu lado, ainda a dormir, seu marido, que produzia um ruído irritante, contínuo, cavernoso, grave, semelhante ao ronco de um suíno; voltou-se para ele e lançou-lhe um olhar. Diante do quadro vislumbrado tentou esquivar-se à realidade.


Fazia tempo que não se detinha em observar o seu marido, ele havia engordado e envelhecido, seu rosto apresentava sulcos, que partiam dos cantos da boca em direção ao queixo, o pescoço tornou-se uma parte fofa, que culminava em papos; tudo mais formava uma massa compacta de gordura.


Fisicamente não havia mais atração entre eles e há muito ele a relegara a segundo plano em relação aos seus negócios, aos seus amigos e aos seus hobbies; por sua vez,ela jamais reclamou dele quanto à sua frieza, à sua distância, nem da falta de tempo para ela, quer emocional ou fisicamente, nem quando os seus abraços e beijos cessaram e os seus foram rejeitados .


Num gesto brusco levantou-se da cama, balançou a cabeça, como se com esse gesto pudesse espantar os pensamentos.


Afinal, o dia era o das mães e ela se sentia intimamente feliz e desejosa de comemorar a data, não importando se alguém dentro daquela casa tomava interesse por ela e se punha fé na sua existência como ser dotado de vida própria.


Trocou-se e arranjou os cabelos, sorriu para o espelho e se pôs a caminho da sala; buscou por entre uma pilha de discos velhos um long-play de Ângela Maria gravado em parceria com João Dias, colocou no toca-disco a faixa onde os cantores em dueto soltavam seus vozerões e diziam que a mamãe era dona de tudo, era a rainha do lar, valia mais que a terra, o ouro e o mar...


Arrepiou-se de emoção e se deixou embalar pela canção.- “Mãe!!! Desliga essa porcaria, me deixa dormir!!!” – Berrou de dentro do quarto o seu filho.


Havia esquecido que o coitadinho chegara tarde à noite passada, e cheia de remorsos desligou a radiola. O seu rapaz, aquela figura decorativa, sem planos, ambições e trabalho, carecia de silêncio para fazer o que só sabia: dormir.


Pra cozinha; na cabeça, a idéia de preparar uma suculenta macarronada.De espírito desarmado, sorriso nos lábios e o desejo um tanto infantil de cantar parabéns para si mesma, entregou-se à tarefa de preparar a macarronada.


Assim sua filha a encontrou, quando entrou na cozinha em busca do café; não a cumprimentou pela data, limitou-se a dizer que sairia em seguida, tinha compromissos com a turma do sindicato e não estaria em casa para o almoço.


Entendia sua garota, sempre preocupada com as questões sociais, com o bem estar do próximo, não lhe sobrando tempo para os seus, não passava pela sua cabeça nenhuma censura a bela filha, que mais parecia uma agitadora social, a fomentar greves, protestos, exigindo dos outros deveres e obrigações, sem, contudo, se dar ao trabalho do exemplo próprio.


Mesa posta, vinho na geladeira, macarronada no forno, filho dormindo, filha e marido, só Deus sabe onde.Sozinha se serviu da macarronada, bebeu mais vinho do que convinha ergueu-se da mesa com dificuldade e em silêncio lavou a louça.


E o dia era o seu.

VOCÊ SABE O QUE É SOLIDÃO?



Enquanto isso Maria disse pro João: bem que eu poderia dizer que tenho muitas manias, uma delas é gostar de você. E quando eu penso que só o meu gostar lhe bastasse, vem você e diz que é um ser solitário. Então, eu lhe pergunto: você sabe o que é solidão? Não, Não, tenha calma, não vou explicar com minhas palavras, com certeza ouviria de sua parte um... to shut up! Mas você gosta do Chico, não gosta? Então, leia o que ele diz sobre solidão. Leia e vê se entende e depois olhe pra mim e vê se me enxerga.

SOLIDÃO VISTA PELO CHICO BUARQUESOLIDÃO não é a falta de gente para conversar, passear ou fazer sexo...Isto é CARÊNCIA.


SOLIDÃO não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...Isto é SAUDADE


SOLIDÃO não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos...Isto é EQUILIBRIO.


SOLIDÃO não é um claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida.Isto é um principio da NATUREZA


SOLIDÃO não é o vazio de gente ao nosso lado...Isto é circunstância


SOLIDÃO é muito mais do que isto.


SOLIDÃO é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.E pensar que seria tão fácil você se achar em mim e nós nos tornaríamos uma só alma , um só corpo...


Sim, antes do the end, gostaria que você me informasse quando vou puder dizer que te amo sem que você me mande calar a boca? Só não vale mandar eu esperar sentada nem usar daquele expediente tão seu de... tenha meu silêncio por resposta, faz favor. *************************


Fim da história? Nada mais Maria disse nem a João nada mais foi perguntado.


ps: NÃO POSSO AFIRMAR QUE ESSA DEFINIÇÃO DE SOLIDÃO É DO CHICO, CAIU NA REDE E SE CAIU E É DO CHICO, É PEIXE.

UM DEGRAU A MAIS- AS MÃOS QUE NÃO ALCANCEI




“Errar é humano:

Perdoar, divino"

(Alexandre Pope)


Não, não me chamo Isaac Newton, não entendo de Gravitação Universal, não estou sentada debaixo de uma macieira e sim de um coqueiro, de olho nos seus frutos, pois se despencar um sobre minha cabeça não vai adiantar eu perguntar para o coco por que ele não flutua ao invés de cair.


E por que me lembrei do Newton? Por que estava lendo o poeta britânico Alexandre Pope, que escreveu o seu epitáfio, que diz: “Nature and nature’s laws lay hid in night; God Said ‘Let Newton be’ and all was light (A natureza e as leis da natureza estavam imersas em trevas; Deus disse “Haja Newton” e tudo se iluminou).


E, já que Deus também entrou na jogada me lembrei de Sua morada, pois estava de papo pro ar observando essa imensidão de azul que nos ensinaram a chamar de céu. Sabe, quando eu era criança imaginava que a gente alcançava o céu através de uma imensa escada, e costumava me deitar na relva pensando nisso; às vezes adormecia e numa dessas vezes eu sonhei que eu começava a subir essa escada, degrau por degrau, pois não era permitido pular nenhum e quanto mais subia mais degrau surgia; sempre havia um degrau a mais.


Não me lembro de sentir cansaço, era impulsionada por uma esperança de que ao chegar no topo eu encontraria o céu e o que nele buscava... Até que enfim avistei um enorme portão aberto e no centro dele alguém de quem eu me lembrava: uma senhora alta, elegante, morena, cabelos presos feito coque, ela sorria para mim e estirou os seus braços em minha direção e eu estirei os meus para ela, tentei me aproximar, mas a escada começou a se distanciar do portão e criou-se aquele vácuo entre nós, tentei segurar suas mãos, mas não alcancei, gritei: MINHA MÃE!!! Para cair na imensidão do espaço vazio, escuro e sem fim, levando comigo a lembrança de um grito desesperado, que ecoava aos meus ouvidos: MINHA MENINA!!!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ILUSÃO,NECESSIDADE DA RAZÃO





ALÉM DOS OLHOS

Eu não pretendo que ninguém me entenda

Não procuro explicações para saber o que sinto

Apenas sinto e sou

Não procure entender o que lê

Desconfie de mim

Quando enxergar o papel sem tremor nas linhas

As curvas e pontos bem colocados.

Palavras com sentido total.

Não sou eu.

Eu sou:

Um sentir diferente

Um pensamento inconstante.

Assim,Você me encontrará,

Embora nesta hora

Já esteja bem longe

Em outra mente

(Yasmine Lemos)


Ontem eu publiquei aqui no Recanto um texto, cujo tema foi sugerido pela escritora Marília Paixão; a Yasmine leu, gostou e sugeriu um outro tema, que eu aceitei e é título deste texto. Só que a Yasmine, anda alisando banco de faculdade, às voltas com o mundo da filosofia, psicologia, o escambal, pisou fundo e eu não sei como vou me sair, por isso, comecei tentando agradar, publicando um poema seu, que eu gosto muito e que faz parte do seu livro “Vestida em Versos”, publicado pela Offset Gráfica-RN de propriedade do mecenas Ivan Junior, conhecido na praça como tal e de quem tenho o privilégio de ser amiga.


Vamos ver como me saio, mas antes perguntaria a Yasmine se ela andou lendo Parmênides, que nunca confiava nos sentidos, pois acreditava que eles nos oferecem uma visão enganosa do mundo e que o seu papel na condição de filósofo (racionalista) era desvendar todas as formas de “ilusão dos sentidos”.


Para Descartes, “a razão é igual em todos os homens. A razão é o bom senso, e todos devem desejar possuí-la, pois representa o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso”.Quanto a ILUSÃO, na acepção exata da palavra, não passa de engano dos sentidos ou da mente, que faz que se tome uma coisa por outra, que se interprete erroneamente um fato ou uma sensação.


É Sonho, devaneio, quimera.Agora, vamos para os finalmentes: levando-se em consideração que, pela ótica de Descartes, a RAZÃO é o bom senso, o discernimento entre o verdadeiro e o falso e a ILUSÃO no seu exato significado, é sonho devaneio, quimera etc., só comprova que a ILUSÃO não se faz necessária à RAZÃO, pois esta dispensa o falso.


E só para atrapalhar, vem Nietzsche e afirma: “que na prática a ‘filosofia’ na medida em que genuinamente olhe para dentro do ‘abismo’ da realidade, necessita das ILUSÕES embelezadoras da arte a fim de perecer na verdade”Dito isto, devolvo a bola pra ti, minha querida amiga e que tu tires as tuas conclusões.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

ERA FALSA A NOTA DE DEZ




Não, nem sempre a maré foi mansa para mim. Fugi de casa aos dezesseis anos, na base do sem lenço nem documento e de carona em carona fui bater com os costados na cidade de São Paulo. A última carona me despachou na Praça da Sé.


Na mochila, só roupa suja, no bolso da calça jeans uma nota de 10, o que restou de uns trocados que me foi dado por um malandro solidário num restaurante de beira de estrada, acho que ele sentiu pena de mim, da minha cara de fome.


Mas, como eu estava dizendo, fui jogada na Praça da Sé e estava lá, sentada num banco. O meu aspecto não era muito agradável, estava suja, corpo e vestimenta. O interessante é que não sentia medo, não pensava no que poderia me acontecer numa cidade grande, me sentia tão despreocupada, que parecia que eu tinha casa, papai e mamãe por perto; foi quando bateu fome, avistei um boteco, se é que podia chamar assim, onde um homezinho baixo de olhos puxados vendia caldo de cana e pastel.


Pedi um copo de caldo e um pastel; foi-me dado. Comi o pastel, tomei e caldo , perguntei quanto era e puxei do bolso a nota de 10 pra pagar; o baixinho lá, pegou a nota, parece que achou esquisita, pois colocou na altura dos olhos e ficou observando por algum tempo, depois olhou pra mim meio desconfiado e embrenhou-se boteco adentro , para logo em seguida voltar com outro homezinho, conversavam numa língua esquisita, foi quando o que me vendeu o caldo e o pastel perguntou: hei mocinha você tem mais desta nota ai na mochila? – Respondi: não, só tenho essa


– Ele insistiu: tem certeza? Onde você arranjou? Quem foi que te deu? – Respondi: foi um homem na beira da estrada.


Ele continuou insistinfo: hei mocinha conta esta história direito, cadê o cara que te deu esta nota, é teu parceiro, ta lá na praça, mandou você passar esta nota falsa pra ver se colava, foi? Espera só que você vai contar esta história na policia.


Ai ele segurou o meu braço enquanto o outro homezinho dava um telefonema, para logo em seguida chegar uma viatura da polícia e o soldado ordenar a minha prisão por me flagrar num crime de estelionato; foi o que o soldado disse.


Tudo isto acontecendo e eu nem me perturbava, parecia que eu não fazia parte do ocorrido, tava nem ai e me puseram dentro do camburão e lá fui eu com a minha cara de paisagem.


Até ai ninguém perguntou a minha idade, devia ser a minha cara suja e o meu cabelo desgrenhado que me fazia parecer mais velha. Delegacia à vista e me vi frente a frente ao doutor delegado. Este sim, perguntou a minha idade, quando eu disse 16, ele pediu meus documentos, que eu não tinha. Da delegacia fui direto para o Juizado de Menores e de lá para um orfanato.


Assim, passaram-se dois anos, lavando banheiros, varrendo, estirando lençóis de cama, botando mesa e tomando conta das “infratoras” menorzinhas e levando cantada da inspetora. Fiz ontem 18 anos, me deram uma carta de “alforria” e outra de apresentação, irei trabalhar numa casa de família, na condição de arrumadeira, mas antes de me apresentar à patroa, passei pela Praça de Sé e me sentei no mesmo banco de dois anos atrás e avistei o mesmo chinesinho vendendo pastel e caldo de cana.


A diferença agora, é que eu sabia por que ele tinha os olhinhos puxados, estava toda documentada, roupa limpa e penteada. E fiquei pensando..., puxa por conta de uma nota falsa de 10, passei dois anos sofrendo que nem couro de pisar fumo.


Levantei e sai andando para o ponto de ônibus, meu rumo era o bairro da Liberdade; numa mão segurava a mala e na outra a carta de apresentação. E sabe Deus o que me aguardava...


PS: O tema “Nota falsa de 10 reais” me foi sugerido pela escritora Marília L. Paixão, como uma espécie de desafio à minha capacidade de ficção.

terça-feira, 5 de maio de 2009

A DANÇA DAS BAILARINAS REBELDES




“Ela dança / Baila / A grande criança /A bailarina / Alonga os gestos/Alonga o corpo / Muda a Forma/Gera mudança/ E nestas andanças/De tantas danças /Quantas mudanças/

(Welshe Elda)


Toda forma de arte me alumbra. Assisti uma demonstração de dança no Studio Isadora Duncan, que me encantou.


As “rebeldes” bailarinas, seguindo os passos daquela que dá nome ao Studio, deixaram de lado as sapatilhas e, descalças, com seus vestidos esvoaçantes, que evocavam figurações da arte grega, também repudiaram as restrições técnicas artificiais de origem clássica e puseram-se, inspiradas nos ritmos da natureza, a dar vazão ao que se condicionou chamar dança moderna.


O espetáculo da dança me trouxe à lembrança a figura trágica da bailarina Isadora Duncan (1877/1927) que, rejeitando toda a tradição provocou no inicio século passado, nos Estados Unidos, uma revolução na dança com seus conceitos naturalistas, cuja fama fixou-se após sua primeira exibição em Paris (1902).


Isadora Duncan, que sobreviveu às mortes por afogamento de seus dois filhos (1913) e ao suicídio de seu marido, o poeta russo Sergei Esenin (1925), morreu em 1927, enforcada pela própria echarpe, que se enrolou nas rodas do automóvel que dirigia.


Fico imaginando aqui... Mas que vida tão cheia de infortúnio a da Isadora!


E tem gente que por menos do que isso desaba, inclusive eu. Sei não viu...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

DO DESENCANTO



DO DESENCANTO

VENDE-SE

A ANGÚSTIA

Manufaturada em série

Se expõe

Na vitrine do DESENCANTO

A ANGÚSTIA

A preço de ocasião

Compra duas leva três

Na seção do DESENCANTO

A ANGÚSTIA

Em liquidaçãoPrêt-à-porter

Do DESENCANTO

(Camilo Rosa)


Tantos e tantos sentimentos... Mas entendo que o do desencanto não é fácil de suportar, vem acompanhado de uma apatia que toma conta do ser e que duas vertentes da filosofia classificam como cepticismo e estoicismo tornando esse ser insensível a qualquer dor, a qualquer sofrimento.


E isso não é bom, o olhar fica vago, apodera-se da alma uma sensação de vazio que nada preenche, é como se o corpo não respondesse a nenhum outro sentimento, nada oferece prazer e nem se luta para que isto aconteça, só dá vontade de ficar observando as pessoas, procurando em cada rosto os seus mistérios, é como se quisesse encontrar a desilusão do outro para justificar a sua e embora haja o reconhecimento de que neste mundo cabe muita gente, mesmo assim é invadido pela sensação que está sobrando nele.


Pois é..., eu que não conheço Schawarzenegger e não vou pra Califórnia deixo dito: “Hasta la vista baby”; vou ficando por aqui mesmo, nesta “preia-mar” de desencanto, tentando sair do labirinto que é o “domus de Trimalquião” e de escapar da “nau de Licas, que se tornou a caverna de Ciclope”, já que não sou nenhum anti-herói criado por Petronio no seu Satiricon .

"COM AÇUCAR E COM AFETO"



Estava aqui prestando atenção a letra da música do Chico, “Com açúcar e com afeto”, onde a “Amélia” da canção morre de amores por seu homem, que é boêmio todo, vive nos bares bebendo, discutindo futebol e olhando pras pernas das moças que por ele passa e sempre chega em casa bêbado e cansado. Mas quem disse que isso irrita “Amélia”? Que nada!


Quando o amado está ausente, ela beija o seu retrato e quando ele chega em casa ela ergue os braços para ele.Naturalmente, o fato acima, acontece no plano comum, mas, como o amor é visto sobre a visão filosófica?


Vamos conhecer um pouco o pensamento dos gregos: Sócrates, como se sabe é que nem Jesus Cristo, não deixou nada escrito, os apóstolos é quem puseram palavras em sua boca, o mesmo fizeram Platão e Xenofonte com Sócrates, que o exaltam e Aristófanes que o combate e satiriza.


No livro intitulado “ O Banquete”, escrito por Platão, ele narra uma reunião de filósofos gregos, contando com a presença de Sócrates ; eles discutiam o amor. Sócrates então se manifestou através de um discurso, que diz: “sendo o Amor, amor de algo esse algo é por ele certamente desejado.


Mas este objeto do amor só pode ser desejado quando lhe falta e não quando possui, pois ninguém deseja aquilo de que não precisa mais”. Complicado de entender? Coisas de Sócrates. E para complicar ainda mais, Platão acrescenta: “ o que se ama é somente “aquilo” que não se tem. E se alguém ama a si mesmo, ama o que não é.”A palavra final vou deixar com Kitalomy, que diz:


“ O “objeto” do amor sempre está ausente, mas sempre é solicitado. A verdade é algo que está sempre mais além, sempre que pensamos tê-la atingido, ela se nos escapa entre os dedos. Essa inquietação na origem de uma procura, visando uma paixão ou um saber, faz do amor um filósofo. Sendo o Amor, amor daquilo que falta, forçosamente não é belo nem o bom, visto que necessariamente o Amor é amor do belo e do bom.


Não temos como desejar aquilo que temos.”

JÁ PASSA DA MEIA NOITE E EU CONTINUO CINDERELA



Quando eu era mocinha, tinha um diário e tudo indica que essa mania continua entre as jovens. Minha neta de dez anos tem um, e, pelo visto, é possuidora de muitos “segredos”, pois o mesmo é trancado com um pequeno cadeado.Este preâmbulo foi feito para dizer que, se eu ainda tivesse um diário eu teria começado as anotações deste domingo que acaba de findar, desta maneira:


7:30: Querido diário, acordei agora, tô levantando, levantando o corpo literalmente, enquanto a cabeça pensante teima em permanecer sob os lençóis invadida que anda pela cruel dúvida shakespereana de “ser ou não ser, eis a questão”.


8:13: Postei uma crônica lá no Recanto, que fala do sentimento do desencanto, houve quem dissesse que as minhas personagens são tragicômicas, estão ultrapassadas no tempo e que os meus deuses do amor passeiam em terras distantes, sufocados na sua própria inexistência. Enfim, que já não se ama como antigamente. Não discuto, talvez seja eu a última romântica. Deve ser isso mesmo, afinal, tudo o que foi e é criado vai abismar-se no nada. Está passado. Ultrapassado


8:30: Recebi flores vermelhas...


8:40: um telefonema, convite para almoço... Convite aceito. Hora marcada, 13:00 horas...


00:05: Querido diário, neste espaço de tempo entre 8:30 e 00:05, o que posso acrescentar é que o almoço aconteceu entre pessoas de idades diferentes, mas de pensamentos e idéias convergentes e de maneiras que vão ao encontro do meu jeito de ser. Bebemos um bom vinho, conversamos, trocamos confidências, falamos de sentimentos olho no olho e o que mais me alegrou foi sentir que a jovialidade de quem me acompanhava não era empecilho para alcançar a visão que eu tenho sobre tantas coisas nas quais eu acredito, inclusive sobre o amor, amor “à moda antiga”, amor que manda flores e é capaz de gestos delicados, como o de segurar tua mão por debaixo da mesa e te olhar com um sorriso encabulado, procurando compreensão pelo ato.Assim, querido diário, encerro estas anotações e embora já passe da meia noite, continuo me sentindo Cinderela sem ter medo de voltar à gata borralheira, sonhando sim, com quem me fez feliz por momentos, mas não na espera que me venha experimentar o “sapatinho”, basta só eu saber que existe e que basta só abrir a porta para encontrá-lo.