terça-feira, 31 de março de 2009

EU SÓ QUERIA SABER




Possuo uma alma inquieta, não essa alma que dizem desprender do corpo e que recebe um par de asinhas quando a gente morre. A alma de que falo é indissociável do corpo: corpo morto, alma morta, pensamentos mortos..



Melhor dizendo: sou uma pessoa inquieta e parece que vim ao mundo para me preocupar; ficar presa a sentimentos; questionamentos; por quês. Eu queria me desvencilhar dessas coisas. Eu só queria saber quando poderei caminhar e sentir que esse caminhar não é vazio nem os meus dias são tristes e nem minhas sextas-feiras representam as da paixão do Cristo.



Eu só queria saber quando existirá em mim uma razão latente de viver e a minha alma de bolero reclamará uma alegria renovada. Eu só queria saber se após juntar o meu último pedacinho, me sentirei inteira, viva e não mais morta nem tampouco “ solitária na companhia de meu próprio cadáver”(A Terceira Renúncia – Gabriel Garcia Márquez).



Eu só queria saber quando me desprenderei das amarras que me prendem. Eu só queria saber quando abrirei os meus braços e exprimirei todo o meu sentimento de liberdade!

segunda-feira, 30 de março de 2009

MULHERES PERDIDAS - PERDIDA EM MEU PRÓPRIO LABIRINTO A CAMINHO DE UQBAR



E lá ia eu meio desarvorada, tentando fugir de não sei o quê, caminhando sem rumo certo por uma dessas veredas da vida, que nem me dei conta de um amigo meu que me seguia a passos largos. Era tão idiota e desligado quanto eu e ainda por cima era metido a intelectual o infeliz .


Juntou-se a mim para chorar suas mágoas; estava fugindo também, e foi logo perguntando: você sabe onde fica esse país Uqbar? Saber eu sabia, pois li Ficções de Jorge Luiz Borges, mas como não estava afim de muita conversa, respondi assim: eu não, então ele emendou : se não me engano fica pras bandas do Iraque ou da Ásia Menor e prosseguiu: estou sabendo que está havendo por lá uma gigantesca conspiração de intelectuais para imaginar a criação de um novo mundo, a quem daria o nome de Tlon. Que tal irmos nos juntar a essa gente e conspirar um pouco, já que andamos tão injuriados com este mundinho aqui? É..., pode ser, tô fazendo nada, mas como é que a gente chega lá? Perguntei. Ô criatura de Deus, para que serve a imaginação?


Senta aqui perto de mim, dá tua mão, feche os olhos, concentre-se, que te garanto alcançaremos o destino. Ham, ham... disse eu e fiz o que o amigo mandou. Mas quando abri os olhos, estava só, acho que concentrei errado, ele foi e eu me perdi pelo caminho, ou mais precisamente dentro do meu próprio labirinto físico. E por não falar a língua dos anjos, cadê achar a saída? Prendi um pé num emaranhado de vísceras, chutei um útero, pisei um rim, fui imprensada entre dois pulmões ,caí em cima de um baço, tropecei num pâncreas, deslizei num fígado, esmaguei uma vesícula, até chegar ao centro da cavidade torácica, onde percebi um órgão oco com duas câmaras uma superior que se dilatava quando recebia sangue e a outra inferior que se contraía quando ejetava esse sangue.


Eu fiquei observando aquilo, sabia que era o coração, e se ele era oco, por certo os meus sentimentos, os meus amores, as minhas saudades, as minhas lembranças as minhas tristezas, as minhas alegrias, os meus momentos felizes estavam todos dentro dele... Então..., eu pensei... é... Se eu conseguir sair daqui, tentarei arrancar desta coisa oca e levar comigo algumas coisinhas que andam me incomodando...


Como fazer era que eu não estava sabendo. Também não sabia como sair desse labirinto, estava realmente me sentindo perdida. Lembrei do meu camaradinha, devia também estar pegando tempo lá por Uqbar, como estaria sendo feita a comunicação com os heresiarcas? Está me dando sono, é tudo tão escuro aqui por dentro...


E eu me pergunto, teria algum sentido eu estar perdida neste labirinto? Os gnósticos consideram o labirinto como um símbolo de iniciação. Em seu percurso haveria um centro espiritual oculto uma dissipação de trevas e luz e o renascimento pessoal. Nesse sentido a superação seria encontro da verdade ou opus... Eu acho que dormi...


Mas quando acordei ao meu redor já não havia trevas e sim luz aí eu pensei: será que aconteceu o meu renascimento pessoal? Eu encontrei a verdade? Contudo, só de uma coisa eu sei: estava fora do labirinto e fazia o caminho de volta para o lugar de onde eu jamais deveria ter saído...

LINHA CRUZADA



Sei que não foi elegante nem correto de minha parte não ter desligado o telefone quando me deparei com uma linha cruzada, mas ando numa “Comedy of Errors” de fazer inveja a criatividade de Shakespeare. Mas o que ouvi foi pathetic. A conversa rolava entre dois seres, tratavam de suas intimidades, de seus próprios sentimentos, dos seus desacertos e dos seus desamores e pelo que pude perceber havia um certo antagonismo entre o sentir dos dois.


O ser masculino, pelo tom de voz deixava passar uma frieza desconcertante e bem poderia representar o “não te quero”. O outro ser, o feminino, com certeza, seria “o porque te quero”. E eu lá de ouvido colado. O ser masculino suspirou impaciente e resmungou qualquer coisa. Houve um silêncio, que eu, com vergonha de mim mesma, aproveitei para cuidadosamente colocar o fone no gancho. Levantei-me da cadeira onde estava e me dirigi até a cama, deitei-me, coloquei os braços sob a minha cabeça e comecei a imaginar como seriam fisicamente “não te quero” e “porque te quero”... seriam jovens ou não? Namorados, noivos, casados...?


Teriam condições de fazerem as pazes? Essa “escuta cladestina” me fez lembrar um texto interessante que li outro dia na Internet e que vou transcrever, omitindo o crédito por não saber quem é o autor; também retrata o fim de um amor e o título é “Não te quero querer mais”. É o que se segue:Preciso que me ajudes a esquecer-te, que ponhas mãos à obra, que faças qualquer coisa que se veja. Preciso que pegues no batente, que te esforces um bocadinho, que dês à manivela, que carregues no botão, porque é imperioso esquecer-te.


Diz-me que sou feia, que estou velha, que sou tola; diz-me que é ridículo, este amor enganado, impossível, desnecessário, incómodo, que já dura muito para lá do que é aceitável. Atira-me com todo o desprezo que tens à cara, toma balanço, como se uma tarte de natas num filme mudo; deita-me a língua de fora, vira-me as costas, escarnece. Por favor, escarnece. Diz-me que sou absurda, desmesurada, desregulada, que não tens paciência, que estou doida. Encolhe os ombros com enfado, isso, assim.


Repete que não me queres ver, ri-te, com pena, encharca-me de pena, olha-me como se eu um cachorro abandonado, que é o que sou. Enxota-me, repete, paternalmente, com asquerosa condescendência, que já não tenho idade, que são coisas de miúda, que devia ter juízo, que não tens tempo nem condições para atentares nos meus desejos vãos de louca varrida. Manda-me passear, bugiar, dar uma volta ao bilhar grande, ver se estás na esquina, que me dás um tiro. Diz-me que te maço, que não me queres por perto, que talvez uma providência cautelar. Manda-me correr para a esquina, que eu irei.


Manda-me, que eu irei. Ajuda-me a esquecer-te, que não estou de todo preparada para te amar até ao fim dos meus dias, que grande chatice me foste arranjar, agora, resolve-a, faz qualquer coisa, ajuda-me a esquecer-te.

terça-feira, 24 de março de 2009

EM BUSCA DA MONTANHA MÁGICA




“Por que você me ama? Porque
você permitiu. Essa frase remete ao
mais simples mecanismo de reciprocidade e
lealdade se um pergunta ao outro a razão de seu
sentimento em direção a ele, a resposta só poderia ser essa.”


Às vezes eu converso com os meus comigos. Hoje pela manhã, diante do espelho eu disse : hei dona Zélia, que cara estúpida é essa? Comeu e não gostou, foi? Vamos lá, como diz a musiquinha, enxuga a lágrima faz um sorriso, mostre a essa gente que é feliz e não começa com crises existências que eu não estou afim de ficar com peninha de ti. Fiz uma careta, ensaie um sorriso, só que amarelo... Ai, o comigo disse lá: Um conselho? Por que não fazes as malas e partes em busca da tua “Montanha Mágica”?( fazendo alusão ao livro de Thomas Mann, escrito em 1924, no original com o título em alemão Der Zauberberg e entre nós, “Montanha Mágica). Vai te “curar” em algum sanatório em Davos, nos Alpes suíço, vai procurar tua turma, desligue-se do tempo, sai da “planície” vai discutir com os que têm tendências e pensamentos iguais aos teus, sobre política, arte, cultura, religião, filosofia, a fragilidade humana, o caráter subjetivo do tempo, sobre o amor.


Falar sobre o amor... Qual? Amor físico? Amor platônico, amor materno, amor a Deus, amor a vida? E por falar em amor platônico, sabia que é uma expressão usada para designar um amor ideal, alheio a interesses ou gozos ( um amor impossível de realizar). Mas há quem afirme tratar-se de uma má interpretação da filosofia de Platão, quando vincula o atributo “platônico” ao sentido de algo existente apenas no plano das idéias. Porque Idéia em Platão não é uma cogitação da razão ou da fantasia humana.


É a realidade essencial. O mundo da matéria seria apenas uma sombra que lembraria a luz da verdade essencial. Disso pode-se concluir que o amor Platônico é uma interpretação equivocada do conceito de Amor na filosofia de Platão. O amor em Platão é falta. Ou seja, o amante busca no amado a Idéia – verdade essencial – que não possui. Nisto supre sua falta e se torna pleno, de modo dialético, recíproco. Nem de longe é a noção de amor covarde que nunca se realizará. Em contraposição ao conceito de Amor na filosofia de Platão está o conceito de Paixão.


A Paixão seria o desejo voltado exclusivamente para o mundo das sombras, abandona-se a busca da realidade essencial. O amor em Platão não condena o sexo, ou as coisas da vida material.E, feito a Esfinge, fico por aqui espantando Tebas, até que Édipo me decifre e eu por conta me atire no abismo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

POR QUE VOCÊ SE FOI?




PARA VOCÊ, QUE JÁ NÃO ME FALA E JÁ NÃO MAIS ME OUVE E NO ENTANTO, EU NÃO CONSIGO ESQUECER...

Não, não foi a cotovia que cantou e me despertou, foi o meu próprio silêncio que gritou e roubou o meu pensamento que até então te abraçava. Sentindo a tua fuga, absorvo o perfume que ainda está impregnado na minha pele e no lençol da minha imaginação e me perco nas lembranças...



Mas, o que farei com as lembranças? Me levará a entorpecer de saudade? O que farei com a saudade...? Por quê? Por quê? viver esta fantasia em câmara lenta quando o bom seria ter uma câmara que devolvesse você em forma rápida? Mas, de qual filme quero participar? Não! Não quero estar num filme choramingando feito uma pobrezinha abandonada. Quero um filme que fale de nós dois.



Quero ser a própria heroína, serei uma Dra. Han Suyin e serás o meu Mark Elliott e reviveremos Love Is a Many-Splendored ThingE me ponho a indagar: tudo isso é sonho ou realidade? Deitado estiveste comigo por uma noite toda? Confundem-me as lembranças e tenho medo da minha imaginação que de tanto desejar-te cria fantasias, que se perdem na bruma e nunca mais perto de mim consigo te encontrar, só te imagino, só te descubro perdido dentro de mim, mesmo assim te desejo e te sinto forte e dono.



Enquanto eu... Apenas lembranças... Por que você se foi...?