domingo, 7 de novembro de 2010


NEM SEMPRE TRAFEGO POR VIAS TORTUOSAS



Amanheci hoje lembrando a poesia de Yasmine Lemos... “ Na tela, manchas de alegria e tristeza se misturam. Agonia / Euforia / Saudade / Melancolia . / Moldura de sentimentos / Eternizados na revelação. / ... no quadro. / O retrato de alguma alma / Que se procura / Que se perdeu.”

Estou aqui pensando... Eu sempre me imagino caminhando, subindo montanhas, atravessando pontes, sem rumo certo, por uma estrada sem fim, onde não se vislumbra alma viva... E nessa caminhada não deixo rastro, porque à proporção que caminho a estrada vai se extinguindo, é como se nada houvesse atrás de mim, sinto um desejo incontido de me perder.

Ah! Se gosto de me perder, por que me achar? De uma coisa eu tenho certeza, nessa caminhada do eu sozinha nem sempre trafego por vias tortuosas, tropeço em alegrias. E se tiver que entoar “um canto eu o entoarei, ainda que esteja sozinho numa casa vazia e tenha que cantá-lo para os meus próprios ouvidos” ( Nietzsche)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

FALANDO SÉRIO




FALANDO SÉRIO



Li um artigo da jornalista Marli Gonçalves, onde ela reclama do vazio que vem tomando conta dela nos últimos dias e diz: “ Se pensamento pudesse ser visto nas ruas, as pessoas estariam andando com balãozinhos em branco em cima de suas cabeças”. E acrescenta mais: “Paira um sentimento de frustração misturado com ansiedade, falta total de previsibilidade ( ...). Sensação de estarmos andando para trás, falando as mesmas coisas, no mesmo horário, com as mesmas pessoas, nos mesmos lugares. Ou melhor, falando com as paredes”.

Falando sério, também estou sentindo este vazio chato e antes que alguma coisa ruim venha tentar tomar de assalto esse nosso espaço, vou procurar a minha turma: os Nefilim, já que somos descendentes dessa raça superior que habita o décimo segundo planeta conhecido como Marduk .Tal registro está na Biblia , segundo Zecharia Sitchin, no seu livro “ O 12º Planeta”, onde afirma que tais seres superiores já estavam na Terra por ocasião do Grande Dilúvio e que foram eles que engendraram o Homo sapiens através de avançadas técnicas de engenharia genética.

Só que eu esqueci se o Zecharia explicou da possibilidade desse planeta voltar a se aproximar da terra e o que acontecerá se tal acontecer. Contudo, com bem diz o nosso insigne deputado federal Tiririca: pior do que tá, não vai ficar. Mas, se para alguém interessar possa, vou pesquisar e depois eu digo .

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ESTOU INDO VER O MAR DE TABATINGA



Cansei de esperar palavras tuas

Teu silêncio é minha deixa

Sem queixa

Me deixa (Deixa - Nena Medeiros)


Pois é caríssimo (a), mesmo que a sua Matilde, o seu Matildo não lhe dê a menor condição; que você tenha ido dormir às quatro horas da manhã, queimando as pestanas, lendo Miguel Reale e se preparando para prefaciar o livro do Emanuel, o famoso Kekel aqui do Recanto, que trata da Filosofia do Direito; que você seja acordada às 5:30 da manhã com o radinho de pilha de sua ajudante de ordem a todo volume tocando uma musiquinha repetitiva, que diz: “primeiro tu oia pra tu pra depois oiá pra eu / primeiro tu fala de tu pra depois falar deu”.


É pouco? Não, não é , mas não perca as estribeiras, apegue-se ao cheiro do café gostoso que entra narina adentro que estará pronto quando você levantar.


Além do mais se você mora na filosofia e já que perdeu o sono, levanta vai escrever um poema, só não vale rimar amor com dor, ou se não for chegada aos versos ,escreve uma prosa e se você não tiver os tais dos “bons modos” pode apelar e se tiver a fim de sacanear alguém use o estilo desabusado de Susarião de Megara e escreva uma comédia satírica.


Os satirizados, as supostas “vítimas” são os que não faltam, “oia” só a classe política. Eu, besta como sou, por certo iria criticar Homero por ter escrito a sua Batraquiomaquia; Virgílio que cantou o mosquito e a amoreira e Ovídio, a nogueira; Glauco que enalteceu a injustiça; Sinésio, a calvície e Luciano, a mosca parasita; finalmente, Sêneca que escreveu o diálogo do grilo com Ulisses; Luciano e Apuleio, que falaram sobre o burro e Grunnio , que fez o testamento do porco.


Mas falando sério, eu me valeria mesmo era de Erasmo de Rotterdam para satirizar todos nós sob o ponto de vista da LOUCURA, sem a influência de Demócrito, que ridicularizava os acontecimentos da vida humana.


É porque hoje é sábado, o que digo não passa de tagarelice minha, estou indo ver o mar de Tabatinga...

PONTO FINAL



Não importa se haverá vida além do ponto final,

o que sei que neste momento exerço o meu direito de

"acabativa"

e pratico a

“eutanásia”.

Não sobre a vida,

mas sobre um sentimento em estado terminal

e este meu texto é porta voz deste

ponto final.

faço, não em busca da paz ,

mas com a visão de águia,

que na altura de seu vôo

nada mais percebe ao rés do chão

ESTADO DE ROMANCE




Por que tudo isso está distante

E me parece presente,

Na visão,

No sentimento,

Na saudade?(...)

(Aquele Tempo – João Wilson)


Terminei a leitura de “Principalmente o Amor”, um livro de poemas do imortal João Wilson Mendes Melo, escritor e poeta aqui da minha terra a quem muito preso. Leitura encerrada. Com o livro entre as mãos e sobre a influência do que li, me indaguei: que morte você teme?


O que me veio de pronto foi de que a morte temida por mim é a do amor , da esperança, da alegria. Tudo me “encanta, entusiasma e arrebata”, (apesar de...) ainda não consegui sair do “estado de romance” de que fala o filósofo inglês Whitchead, citado por João Wilson.


Assim , como diz o poeta, enquanto a cotovia não canta e a luz clara do dia não tira o encanto das coisas, deixo-me levar e enlevar por esse “estado de romance” que me conduz à meditação e ao sentimentalismo, estabelecendo, por que não dizer, uma vida diferente do cotidiano.


Isto enquanto não me encontro, não me compreendo, coisa aliás que não tenho muita esperança não. Afirmo tal, lembrando-me de psicóloga Santa Tereza de Ávila, que afirmou da impossibilidade dela mesma se compreender.


Ah, os poetas! Sempre a procura de definir a vida, quando esta não se define: vive-se! E o homem? Para Peguy não passa de um poço de inquietude, mais inquieto que toda a criação. Já Carrel , simplesmente, disse: "o homem esse desconhecido", haja vista a impossibilidade de penetrar nas entranhas do seu coração. ...Sei não... Sei não Apollinaire, você que pediu piedade para os poetas porque exploram as fronteiras do irreal, vos digo: também faço isso, acho que sou poeta...


“E um dia sei que estarei mudo: - mais nada” Cecilia que o diga.


( A foto que ilustra este texto não é de nenhuma ilha grega e sim da varanda de um restaurante de Tabatinga a minha praia)

NADA VIRÁ DO NADA



"Vez por outra me vejo na captura de mim mesma e quem sabe tentando desmascarar sob o verniz do cotidiano um mundo de desejos e fantasias inconfessáveis"(Clarisse Lispector)


Já foi dito que Deus deu ao homem o dom da palavra para que ele possa esconder os seus próprios pensamentos.


Vem outro e diz: “ouve-me, ouve o silêncio, o que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa!
Estas são palavras daqueles que já se foram, mas por serem fortes permanecem até hoje.


Neste momento, ao meu redor, um silêncio pesado. Meus olhos vagueiam por entre monstros sagrados enfileirados à minha frente.


E lá está Schopennhauer, que a mim tanto impressionaram os seus aforismos. Maquiavel, que a minha inteligência não alcançou os seus conselhos ao “Príncipe”, mas que me deleitou em “A Mandrágora”.


Vosmecê, Jean-Paul Satre, que o tradutor nos adverte em a “Idade Razão”, do emprego indiferente do “você” e o “tu” e das constantes repetições, coisas para as quais nem estavas aí.


Voltaire, que o Sérgio Milet afirma, já na sua época era acusado de plágio: “Voltaire, como todos os grandes escritores clássicos faz seus os bens que encontra”, valeu seiscentas e setenta páginas de histórias curtas que compõem “Zadig ou o Destino”. Nicolai Vassilievith Gogol, “Almas Mortas”, li vosso livro de um fôlego só, pena que não tenha final. “As Vinhas da Ira”...


Meu caro John Steinbeck: o vosso romance retrata o passado de um povo, que para nós, principalmente, nós nordestinos, ele é o nosso presente.


Aqui temos os nossos “bóias-frias”; lá a terra da promissão era a Califórnia, aqui é (era) São Paulo; os juros também são altos e os impostos idem; os Bancos tomam terras, sim senhor, em geral dos pequenos lavradores; os grandes latifundiários não plantam algodão como lá plantavam os seus, aqui é soja tipo exportação.


Aqui se mata por terra. Aqui se morre de fome, também.


Companheiros meus, em mim a necessidade de escrever, mas dentro de mim permanece o nada. “ Nothing will come of nothing. I cannot bring my heart into my mouth” ( Shakespeare através de sua personagem Cordélia, filha do King Lear)


Pedante as citações. Ah, Que o sejam! Mas, como diz a Cordélia, quisera eu trazer o meu coração até minha boca, contudo, bloqueiam-me sentimentos menores, fala mais alto um processo autodepreciativo, desconhecendo valores, se é que os tenha.


Falaria eu do quê? Às vezes eu comungo do mesmo pensamento atribuído ao filósofo grego Górgias de Leontino: “Nada existe. Mesmo se existisse alguma coisa, não poderíamos conhecê-lo.


Concedido que algo existe e que podemos conhecer, não poderíamos comunicar aos outros.


É como disse um amigo meu: “você se esconde na ostra e ainda justifica. Simplesmente...anota”.


Sabe ele que : “Só merece nosso crédito aquele que discorrer sobre coisas de sua experiência”. (Hermann Hesse).


E, diante desses “Titãs,” desde a altura em que se encontram, se dignar um deles, alguma vez, dirigir um olhar para a minha humilde posição, saberá de que mísera maneira sofro o grande e constante rigor de nada saber. ( vai ver que eu li isto em algum livro..., lembrei! " "O Príncipe" de Maquiavel).


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

SOBRE O RISO - 1891 A 2009O QUE FOI QUE MUDOU?




Bem, pela foto ai de cima, você há de convir, que pareço ser uma pessoa sorridente, de bem com a vida. É, pode ser...


Contudo, vamos conhecer o pensamento do grande escritor português Eça de Queiroz, que escreveu no ano de 1891, na Gazeta de Noticias, (Pensamentos/Reflexões) sobre “A Decadência do Riso”, onde explica o porquê.


Vejamos: Primeiro vamos nos situar no tempo: 1891.


Textualmente proclama Eça: O riso acabou! Não se faz de rogado e diz o motivo: a humanidade entristeceu. E entristeceu por causa da sua imensa civilização. E prossegue: quanto mais uma sociedade é culta – mais a sua face é triste.


Foi a enorme civilização material, a política, a econômica, a social, a literária, a artística que matou o nosso riso. Tanto complicamos a nossa existência social, que a Ação, no meio dela, pelo esforço prodigioso que reclama se tornou uma grande dor. – tanto complicamos a nossa vida moral, para fazer mais consciente, que o pensamento, no meio dela, pela confusão em que debate, se tornou uma dor maior.


O homem de ação e de pensamento, hoje, está implacavelmente votado à melancolia. Ai digo eu, em consonância com o escritor, que a razão dessa melancolia, dessa tristeza do homem de ação e de pensamento, tem a sua razão de ser, encontra-se no mundo, que é a sua obra e que só pode mostrar tristeza.


Tristeza na sua literatura, tristeza na sua sociedade, tristezas nas suas festas. Tristeza dentro de si, tristeza fora de si... E, finalmente, quando por acaso alguém por profissão tradicional, como os palhaços, ou por contraste, ou pela saudade da antiga alegria e o desejo de ressuscitá-la, procura fazer rir este mundo – só lhe consegue arrancar a tal casquinada curta, áspera, rangente, quase dolorosa, que parece resultar de cócegas feitas nos pés de um doente.


O ano das reflexões de Eça, já foi dito: 1891.


Nós estamos no ano de 2009. O que foi que mudou...?

ALÉM DO ARCO ÍRIS




Basta-me um pequeno gesto,feito de longe e de leve,para que venhas comigo

e eu para sempre te leve...(Cecilia Meireles)


Ah, se os nossos problemas se derretessem como expressa a crença infantil de que o céu magicamente abrirá uma porta de um lugar onde os problemas se derretem como em gotas de limão ( Where trouble melts like lemon drops – Somewhere Over the Rainbow)


Imaginemos pois, céu azul por sobre o arco íris e por que não pássaros azuis sobrevoando e confundindo-se com esse azul do céu? É você não desejando um pote de ouro no fim desse arco íris, mas sim, que os sonhos sonhados se realizem. Só, que sonhos são quimeras e a vida é verdade e tem tantos mistérios...


Costumo vez por outra parar para pensar sobre eles. Nem sempre tenho respostas, ou melhor, nunca as tenho. Há momentos que não sei nem para que se vive! Embora seja consciente de mim e das minhas ações e que busco os meios para alcançar a felicidade, o bem estar, sem contudo me servir do próximo como escada.


Nessas horas é que me valho da Filosofia, que é o perguntar sobre, é questionar a fim de encontrar uma resposta segura para o agir.


É querer saber como e porque para melhor viver.


E colocando em tudo isso todo o amor meu, a quem dedico a você, você e você.

ONTEM FOI OUTRO DIA.HOJE RESOLVI DESERTAR NO MUNDO




A crônica de Rosa Pena sob o título “ Que onda...Que cara...Que bunda!” publicada ontem aqui neste Recanto contém tantas verdades, que eu resolvi desertar deste mundo, vasto mundo,além do mais não quero esperar pelo ano de 2020, para morrer de depressão, já que fui por Deus abandonada, que nem o Drummond, que reclama lá no seu poema quando diz:


“ Meu Deus por que me abandonaste / Se sabias que eu não era Deus / Se sabias que eu era um fraco”. Coisas do Drummond.


Mas eu estou partindo em busca de Lao-Tsé, que já morreu faz tempo, lá entre 604/517 a.C,- mas que não faz diferença vivo ou morto, creio nele - a quem se atribui a fundação de um movimento filosófico que se transformou em religião: o tauismo.


Por ai eu vou correr atrás da “paz absoluta”, pela completa submissão à natureza, cujos valores são a pureza, calma, simplicidade e unidade.


A soberana indiferença é a atitude que caracteriza o sábio tauista, que ensina a “não-ação” (wuwei).


Guerras, governos, convenções e cerimônias são igualmente tidos como destrutivos por não serem fatos “naturais”. (assim, é uma peninha, mas nem vou votar na verde Marina, já que a “minha religião” não permite)


E como não brinco em serviço, cá estou devorando o Livro do Tau, já me sentindo revestida de uma soberana indiferença e já instruída para a não- ação .


Desta forma, tanto faz como tanto fez, pouco me importo que o Sarney deite e role no Senado, que Lula continue a anta do Mainardi e mesmo assim eleja Dilma; que Collor ou Renan saiam de vice; que o bispo Macedo compre mais um jato para concorrer com o filho do dr. Roberto, que o BBB volte sob o comando de Bial; que Faustão continue reinando aos domingos; que Gugu sirva ao bispo; que Vanuza desconheça a letra do Hino nacional; que a Sacha escreva cena de teatro com “s” por ter sido alfabetizada na língua que o meu cavalo não fala: inglês.


E, finalmente,tô nem mais ai para quem eu quero e não me quer e para quem me quer mandei embora.

PS:Uma explicação: existe controvérsia sobre se existiu ou não o tal do Lao-Tsé. Se existiu foi contemporâneo de Buda.


E por falar em Buda, você sabia que o Cardeal Barônio, (1538/1607) por engano, o introduziu na higiografia cristã como São Josapth, celebrado a 27 de novembro.


Assim, você cristão, se fizer alguma promessa a São Josapth está fazendo a Buda, viu?

DEU CERTO COMIGO TENTE VOCÊ SE FOR O CASO



Certa vez eu indaguei pra mim mesma o que a gente diz, o que a gente escreve quando se sente feliz. E sabe o que eu descobri? O quão egoísta eu sou. Sabe por quê? Neste momento me sinto feliz e tenho dificuldade de falar, de repartir este meu momento. Esquisito isto, se fosse para falar de tristeza as palavras por certo jorrariam aos borbotões.

Razão tem Flaubert quando disse: “ O autor, em sua obra deve ser como Deus no Universo: onipresente e invisível.”

Pois é, há um renovar-se de esperança: ESTOU FELIZ, e acho explicação nas palavras de Calímaco, personagem da comédia de Maquiavel, intitulada “A Mandrágora”, que diz o seguinte:


“ Não há situação tão desesperadora que não tenha um caminho aberto para nele depositarmos esperança; ainda que esta seja débil e vã, a vontade e o desejo que fazem o homem levar sua causa até o fim o deixam ver os obstáculos”.

Uma vez enxergado os obstáculos, fatos analisados, ponderações feitas, então descobre-se de que o diabo não é tão feio quanto se pinta, daí, enxuga-se as lágrimas, dá-se um sorriso e mostra-se ao mundo que é feliz.


Deu certo comigo, tente você, se for o caso

domingo, 20 de setembro de 2009

POESIA É UM ATO DE PAZ





Eu amei-te; mesmo agora devo confessar,
Algumas brasas desse amor estão ainda a arder;
Mas não deixes que isso te faça sofrer,
Não quero que nada te possa inquietar.
O meu amor por ti era um amor desesperado,
Tímido, por vezes, e ciumento por fim.
Tão terna, tão sinceramente te amei,
Que peço a Deus que outro te ame assim.
(Alecksandr Pushkin)




Gosto de poesia e comungo do mesmo pensamento de Pablo Neruda, que deixou dito que a poesia é sempre um ato de paz. O poeta nasce da paz como o pão nasce da farinha.


Encantam-me a poesia lírica, que costuma retratar um momento emocional e também os poemas que expressam sentimentos que tocam a alma, como o amor.


Levi Trevisan afirma que a poesia é a mínima distância entre o sentimento e o papel.


É dito que a matéria-prima do poeta é a palavra e, assim como o escultor extrai a forma de um bloco, o escritor tem toda a liberdade para manipular as palavras, mesmo que isso implique romper com as normas tradicionais da gramática.


Limitar a poética às tradições de uma língua é não reconhecer, também, a volatilidade das falas.


Bem, fiando-me na liberalidade que é dada ao poeta, atrevo-me a deixar com você o poema que se segue:



QUE FIM MELANCÓLICO


(Zélia Maria Freire)


Que fim melancólico


Para o que se presumia


Ser um grande amor


Nem os meus braços


Encontram mais forças


Para estender-se


Perde-se no vazio


Parte de um corpo Cansado


Da minha boca


Já não se ouve um


Por favor me entenda


Fica comigo


Eu só queria compreender


O porquê deste quase inferno


Quando não mereço


E cá estou


Tão triste


Tão sozinha


Só com as minhas lembranças


E o que restou dela


Dói tanto...


Por que se resume


Numa


Cabeça sobre um colo


Que não é o meu






O CORVO E A CARTA




Meia noite já era e eu lia “The Raven” de Edgar Allan Poe. Foi quase adormecida que ouvi bater à minha porta. Uma visita a esta hora ? eu me disse. Ou será “Never more” o Corvo de Poe, pensei.

Não abri a porta, além do mais estava coberta de nostagia, envolvida que fiquei pela leitura e me fiz um ser tão solitário quanto o poeta e pretendia continuar como tal; não desejava visita indesejada e inesperada de quem quer que fosse.

Enquanto isso os meus pensamentos detinham-se numa carta que tinha em mãos e estava tomada pela idéia de transcrevê-la, era uma carta de despedida, de amor que não deu certo, não muito bem escrita, cuja autora eu desconheço e muito menos o distinatário. (vou consultar o meu amigo de “A Emoção Solidária”, João Wilson Mendes Melo se sabe algo sobre a autora)

Vejamos:...
“Não sei o que houve entre nós. Não sei por que houve.. Deve ter passado uma infinidade de anos enquanto estávamos juntos. Imaginariamente. Depois veio o vazio, o caos, o tormento, esse vento cruel...
E para que se amar num tempo de agora? Um dia a gente pára e se vê que não seguiu nenhuma meta.

Por que as coisas foram difíceis para nós? Pudera eu me mirar nos teus olhos e correr de mãos dadas num campo de primavera... E ter o coração em paz, aberto para amar e ver o bem, tudo com os olhos do amor.

Nossos encontros poderiam ter sido de alegria. De grande amizade. Eu queria você e você me queria. Perdemos o tempo de ser feliz, afinal.


Olho ao nosso redor e tudo continua igual nessa jornada da vida, se bem que reconheço que somos de mundos diferentes. Nada mesmo poderíamos ser um para o outro, a não ser grandes amigos.


Eu sei que você sabe disso também, Se não pudermos mais nos ver, eu deixo aqui a minha despedida, o meu afeto e minha gratidão por uns momentos de felicidade que eu vivi.


Fica, entre todas as lembranças, a saudade – a única coisa que sempre resta de tudo o que é puro e bom nesta vida, onde a gente representa um papel.”
...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

QUANDO REALIDAE? QUANDO FICÇÃO?




Escritor é o artista

Da Palavra que se expressa

Através da arte da escrita

O quanto é difícil para o escritor mesmo dentro de um contexto ficcional desvincular a personagem não permitindo que ela se projete sobre a sua vida e interaja com o humano real que é.

Seria isso uma reflexão metaliterária? Será que o escritor não se apercebe e tem consciência de que a literatura, de alguma forma, projeta-se sobre a sua vida? Sobre os seus verdadeiros sentimentos? Vive ele as situações criadas? O que existe por trás de cada palavra escrita?

Quando o escritor transgride os limites entre o real e o imaginário? Até onde a sua imaginação o leva e a sua capacidade criadora engendra fantasias e estabelece relações de cumplicidade entre ele e o leitor?

Será que é a partir do momento em que o que foi escrito convence? Seja sobre injustiças, amores não resolvidos, felicidade, tristeza, ódio etc.


Se convencido o leitor, tudo pra ele torna-se realidade?

Realidade ou fragmentos dela transformado em ficção...?

PS: andei lendo o prof. Carlos Reis, que entende de Eça de Queiroz.

SOBRE A TRISTEZA DO BICHO HOMEM - MAS TEM QUEM RIA




E eu que não me chamo José, o meu sonho não acabou, o meu mar não secou, achei a porta, só não vou pra Minas por que Drummond disse que Minas acabou .


Daí... quem sou eu pra duvidar do finado poeta, né não?

Tem nada não, recebi convite de Montaigne para assistir uma palestra de Ovídio sobre a tristeza do bicho homem, só que Montaigne é frontalmente contrário a esse sentimento, e condena o homem por valorizá-lo e se enfeitar “com esse adorno pobre e feio”.


Mas ai eu ponderei e disse para o coleguinha: espera lá! Não é por ai!


Existe tristeza onde a dor é tão sofrida que fica além de qualquer expressão e ai não tem como não se adornar com ela, e tu sabes disso, está escrito nos teus Ensaios.


E fomos nós ouvir Ovídio, que começou falando de uma personagem da mitologia lembrada por Cícero, chamada Niobé , que os poetas descreviam como “petrificada na dor”, tamanha a sobrecarga de desventura por ela recebida, perdeu seus sete filhos viu morrer as sete filhas.


Então, ele explicou o sentido que é dado ao “petrificada na dor, que corresponde a uma espécie de embrutecimento sombrio, surdo e mudo que se apodera de nós quando as ocorrências nos esmagam ultrapassando o que nos é dado suportar.


E, efetivamente, uma dor excessiva, exatamente porque excessiva, deve estupidificar a alma a ponto de paralisar qualquer gesto, como acontece quando recebemos inesperadamente uma péssima notícia. Somos tomados de espanto, penetrados de pavor ou de aflição e tolhidos em nossos movimentos até que à prostração suceda o relaxamento.


Surgem então as lágrimas e os lamentos que aliviam a alma e como que lhe permitem mover-se mais à vontade, é com dificuldade que afinal recupera a voz e pode exprimir sua dor.


Segundo Ovídio, esta é a forma do homem sentir e exprimir a sua dor, a sua tristeza.

E, como nada mais foi dito nem perguntado, deu-se por encerrada a palestra.


Saímos , eu e Montaigne por ai chutando pedrinhas, sem contudo deixarmos de pensar no bicho homem, pois em verdade, dizia meu companheiro, que este é de natureza muito pouco definida, estranhamente desigual e diverso.


Dificilmente o julgaríamos de maneira decidida e uniforme. Enquanto um chora outro ri, enquanto um se diz triste outro se diz alegre, enquanto um mente outro diz a verdade, enquanto um ama outro desama, enquanto um vive outro morre.
.


..Para chegarmos à conclusão que assim são os homens, assim é a vida e sentenciar...

Sobre a vida, só nos resta vivê-la e suportá-la.

Quanto aos homens, que nos aturemos mutuamente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

POR UMA AMIGA




“De tanto ler a vida dos Outros... /

Esqueceu de Escrever...

páginas da própria vida vazias

(Rejane Chica)





REJANE CHICA: A expressão é forte, mas já usei. Hoje, por você, por conta dessa figura que esqueceu de escrever as páginas vazias da vida e que tentou te magoar eu indago : Alguma vez na sua vida pôs a educação de lado e virou-se para alguém que vem abusando de sua paciência e disse alto e bom som: DANE-SE!!!?


Se não disse precisa dizer para sentir a sensação de alivio que provoca esse desabafo!

Também indago: você é das que acredita que existe um limite pra tudo; que tudo cansa na vida; a injustiça, a intolerância, a incompreensão, a maldade a desconfiança ; além de promessas que não se cumprem; tempo que engana; passos que não se alcançam; “ fatos que desarrumam nossos dias já desarrumados”.


E tudo por quê? Por conta dos ciclos que temos que passar ao longo da vida com todos os atropelos ligados a religião, relação amorosa, trabalho, insensibilidade, brutalidade, enfim, o escambau .

Sabe o que mais? O tal do DANE-SE tem lá a sua importância na filosofia.


Vejamos o que diz o filósofo e estudioso de Epicuro , professor Wilson Correia: ele afirma que de acordo com o tetraphamakon epicurista, a saúde mental de uma pessoa está diretamente ligada à quantidade de “ DANE-SE” que ela é capaz de dizer em meio a ciclos e processos que, de outra forma, poderiam causar preocupação e todo tipo de desgaste pessoal. Não se trata de irresponsabilidade, mas de certa maturidade.


E que esse “ DANE-SE” é o outro nome da serenidade ataráxica da fala de Epicuro.

Se assim é, minha querida amiga, em nome do prazer natural possível que aplaca os desejos e dá felicidade o melhor mesmo é “não estar nem ai” para certas coisas, fatos e pessoas, sobretudo para os seres humanos que teimam em não agir como gente digna de si mesmos e daqueles que os cercam.


Para estes, faço coro contigo e... que SE DANEM, e que vão estudar e entender Epicuro .

SOBRE O BICHO HOMEM:ENQUANTO UM CHORA O OUTRO RI




E eu que não me chamo José, o meu sonho não acabou, o meu mar não secou, achei a porta, só não vou pra Minas por que Drummond diz que Minas acabou .


Daí... quem sou eu pra duvidar do finado poeta, né não?


Tem nada não, recebi convite de Montaigne para assistir uma palestra de Ovídio sobre a tristeza do bicho homem, só que Montaigne é frontalmente contrário a esse sentimento, e condena o homem por valorizá-lo e se enfeitar “com esse adorno pobre e feio”.


Mas ai eu ponderei e disse para o coleguinha: espera lá! Não é por ai! Existe tristeza onde a dor é tão sofrida que fica além de qualquer expressão e ai não tem como não se adornar com ela, e tu sabes disso, está escrito nos teus Ensaios.

E fomos nós ouvir Ovídio, que começou falando de uma personagem da mitologia lembrada por Cícero, chamada Niobé , que os poetas descreviam como “petrificada na dor”, tamanha a sobrecarga de desventura por ela recebida, perdeu seus sete filhos viu morrer as sete filhas.


Então, ele explicou o sentido que é dado ao “petrificada na dor, que corresponde a uma espécie de embrutecimento sombrio, surdo e mudo que se apodera de nós quando as ocorrências nos esmagam ultrapassando o que nos é dado suportar.


E, efetivamente, uma dor excessiva, exatamente porque excessiva, deve estupidificar a alma a ponto de paralisar qualquer gesto, como acontece quando recebemos inesperadamente uma péssima notícia.


Somos tomados de espanto, penetrados de pavor ou de aflição e tolhidos em nossos movimentos até que à prostração suceda o relaxamento.


Surgem então as lágrimas e os lamentos que aliviam a alma e como que lhe permitem mover-se mais à vontade, é com dificuldade que afinal recupera a voz e pode exprimir sua dor.

Segundo Ovídio, esta é a forma do homem sentir e exprimir a sua dor, a sua tristeza.

E, como nada mais foi dito nem perguntado, deu-se por encerrada a palestra.

Saímos , eu e Montaigne por ai chutando pedrinhas, sem contudo deixarmos de pensar no bicho homem, pois em verdade, dizia meu companheiro, que este é de natureza muito pouco definida, estranhamente desigual e diverso.


Dificilmente o julgaríamos de maneira decidida e uniforme. Enquanto um chora outro ri, enquanto um se diz triste outro se diz alegre, enquanto um mente outro diz a verdade, enquanto um ama outro desama, enquanto um vive outro morre.

...Para chegarmos à conclusão que assim são os homens, assim é a vida e sentenciar...


Sobre a vida, só nos resta vivê-la e suportá-la.


Quanto aos homens, que nos aturemos mutuamente.