segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A OCIOSIDADE NÃO É UMA BOA COMPANHEIRA



Parece-me que a ociosidade não é uma boa companheira. Lucano nos adverte que na ociosidade o espírito se dispersa em mil pensamentos diversos. Acredito que sim; ontem tive uma experiência onde fui envolvida pelo ócio, pelo nada fazer, levando o meu espírito dispersado até à fonte da tristeza e eu fiquei solta ao léu, sem amarras, sem objetivo preciso, só o meu olhar se estendia além da imensidão do mar e eu não me senti em nenhum lugar, mas querendo está em toda parte, na busca de não sei quê, a procura do nada.

Quem também entende sobre o ócio é Montaigne; diz ele, que certa feita resolveu retirar-se para as suas terras, resolvido a não se preocupar com nada. Acreditava que não podia dar maior satisfação a seu espírito senão a ociosidade, para que se concentrasse em si mesmo, à vontade, o que esperava pudesse ocorrer porquanto, com o tempo, adquirir mais peso e maturidade, mas ao contrário do que imaginava, caracolando como um cavalo em liberdade, cria ele cem vezes maiores preocupações do que quando tinha um alvo preciso fora de si mesmo. E engendra tantas quimeras e idéias estranhas, sem ordem nem propósito, que para perceber-lhe melhor a inépcia e o absurdo ia consignando por escrito, na esperança de, com o correr do tempo, lhe infundir vergonha.

E, como Montaigne, ontem no meu momento de ócio, engendrei quimeras, idealizei sonhos, desejei perto de mim ausência sentida e ainda tão amada... Só que nada anotei, pois do que idealizei, sonhei e desejei jamais seria pra mim motivo de vergonha.

Um comentário:

Anônimo disse...

O teu ócio é produtivo...Depois dele, consegues escrever textos assim! um beijo,chica