segunda-feira, 10 de novembro de 2008

VIVA A BRASILIDADE DE ARIANO SUASSUNA!



Apanhei o quengo de beber água que estava na boca do pote, enchi de garapa e passei pro bucho junto com duas pílulas de rapadura, uma das últimas novidades em matéria de complementação alimentar inventada por um laboratório farmacêutico do Estado de Pernambuco. Em seguida fui até a camarinha em busca de qualquer coisa pra ler, mas o que encontrei foi uma revista de páginas amareladas, danada de velha, que estava em cima do jirau.


Foliei a distinta e tomei o rumo do terreiro pra me sentar num tamborete perto dum pé de bonina ai que me deparei com uma entrevista do escritor Ariano Suassuna. Lida e relida a tal da velha entrevista, só me resta indagar se a esta altura ele já mudou de opinião ou continua como antes, pois vos digo: vixe Maria, esse menino! Mais nacionalista, mais nordestino do que o homem não hai de ter. No dizer de seu Ariano, em se tratando de arte, quase tudo por aqui é de quinta categoria.


Para o mesmo balaio , lá se vão as obras de Tom Jobim, Orlando Silva, o rock, o tropicalismo com Caetano e Gil e qualquer um brasileiro que arrote coca-cola. E vá falar de multinacional perto da ilustre figura verde-amarelo pra ver uma coisa! Não é por nada não, visse?, mas troncha de inveja diante de tanta brasilidade, eu havera de indagar: mestre Suassuna, que má lhe pregunto, vosmecê escova os dentes com dentifrício ou casca de juá? Usa sabonete ou sabão de coco? Faz a barba com gillete ou com peixeira? Passa margarina ou manteiga do sertão no pão francês ou come broa de milho? Permite passar Bombril nas panelas da casa ou são lavadas com areia e esfregão de bucha? Escreve com bic ou pena de pato?


Me adesculpe seu mestre, mas eu quero saber mais: se tudo ou quase tudo MADE IN BRAZIL, é produto de empresas ligadas a grupos multinacionais e vossa xenofobia não lhe permitiu nem ao menos receber, tempos atrás, o prêmio Sharp com o qual foi agraciado, unicamente por conta do nome da empresa, como é que fica, pois, andar de avião, possuir carro, apreciar as novelas de cunho rural no aparelho de TV; usar um relógio de pulso ou de algibeira, dizer um alô ao telefone ET cétera?


Alumbrada com o jeito de ser de seu Suassuna e enquanto cismo, vou enrolando o meu cigarrinho de palha, bebericando dois dedinhos de genebra, procurando sintonizar aqui no meu radinho de pilhas – que está aqui no meu pé de ouvido – a Rádio Rural. Não é possível que por lá não toque o cego Oliveira e a sua rabeca mágica e o locutor não me indique um folheto de cordel, e por fim, não me faça ouvir uma bela embolada ou um galope, apontando ainda um bom programa tipo fandango, João-redondo, ciranda, pastoril, bumba-meu-boi e por ai vai.

Um comentário:

chica disse...

Mais uma linda crônica,Zélia! Empolgante do começo ao fim! É brasilidade exagerada essa. Um beijo,chica