segunda-feira, 24 de novembro de 2008

VISÃO DE GOVERNANTE



Ouvindo sua excelência o presidente da república, desfilando toda segunda-feira, no seu programa de rádio, os seus portentos, confesso a minha frustração, não com sua excelência, mas pela minha falta de visão de governante, pois sem ela sou incapaz de enxergar o mais cor-de-rosa possível o meu país; a condição favorável de vida de sua gente.


Ver, sentir como é dito, que tudo funciona à contento: saúde, educação, agricultura, reforma agrária, assentamentos, enfim, tudo que diz respeito as metas preestabelecidas pelo então candidato e hoje nosso presidente, em consonância com os reais deveres do Estado.

Quisera eu, transpirando esperança, com uma visão de governo-3D, lançar um olhar atravessado pros pessimistas e com cara de quem já venceu a ignorância, os males da carne, a dor, a fome, a miséria, a angústia do desemprego, a morte e alcançou o atman (o eu) e já se acha em conexão com o mar eterno do ser que flui por trás das aparências ilusórias, proclamar: brava gente brasileira, regozijai-vos, alcançamos o tão sonhado porvir; a Etiópia não é mais aqui! (viu Mônica Mello?)

Infelizmente, a minha visão é de vassalo subserviente com perda parcial da transparência do cristalino. Assim sendo, sem querer ofender, indagaria de sua magnificência, - e ai não vai nenhum desdém, haja vista reconhecer a vossa qualidade de magnificente, não só eu, como o Mundo, que o terá brevemente entre os seus mais destacados líderes – pelos vossos passos e manifesto desejo, corroborado pelas palavras de mim sibila que, para a consagração terrena, só falta aparecer no programa de domingo do Paulo Henrique Amorim na TV do honorável papa/bispo Edir Macedo, senhor e dono da IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS.

Mas, como ia dizendo, indagaria de vossa magnificência, se não seria hora de deixar de rodopiar pelos salões ocidentais e orientais, freqüentados por presidentes, príncipes e imperadores e dar uma voltinha pela nossa periferia, só para conferir se de fato as coisas caminham como imagina, antes que seja tarde e não se veja surpreendido pelas mazelas impostas a nós pobres mortais, como aconteceu com um certo rajá de nome Sidarta, filho do rei Suddhodana, que reinava próximo ao Himalaia, na atual fronteira do Nepal, lá pelos idos do século VI a.C. e que tentava isolar o filho do mundo, impedindo-o de ver o sofrimento.


Mesmo assim, Sidarta, deixando a vida faustosa da corte resolveu à revelia do pai, acompanhado de seu escudeiro-cocheiro Xana, verificar o que acontecia além dos muros do palácio. De pronto deparou-se com um velho enrugado, trêmulo, apoiado a uma bengala. "O que é isso?" – perguntou assustado ao cocheiro – É a vida, meu senhor" – respondeu este. E a mesma coisa disse quando Sidarta encontrou um enterro e um doente coberto de chagas.

Dessa forma o rajá conheceu a dor, a morte e o tempo que tudo consome, e se sentido impotente diante do sofrimento que tomava conta de seus súditos, Sidarta abandonou a corte e suas benesses e virou Buda, que o mundo conhece.

Agora, aqui pra nós: saber dos nossos males sabeis, e até deles vossa magnificência provou em priscas eras, mas nem por isso anda macambúzio, vai largar a corte e nem partir para a penitência, pois não?

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