segunda-feira, 3 de novembro de 2008

MAS QUE DÓI. DÓI


Pois é, meu finado general, o Brasil continua indo bem, o povo, para não variar, é que nem tanto. Isto por que sai amo entra amo e cada um que torça com mais força as nossas pernas; que nem a história do escravo Epíteto, a quem o amo tratava com permanente crueldade. Um dia o tal amo não tinha o que fazer resolveu matar o tempo torcendo a perna de seu escravo. Se continuar – disse calmamente Epíteto – vai quebrar a minha perna. O amo continuou e a perna foi quebrada. Eu não disse – observou suavemente Epíteto – que iria quebrar a minha perna?


Quando tomo conhecimento do fechamento de hospitais, mesmo os meios de comunicação exibindo diante dos nossos olhos os seus corredores lotados de pessoas com o sofrimento estampado na face, que aceitam o não atendimento com a paciência de Jó e voltam para suas casas, onde vão curtir os seus males tomando um chazinho qualquer. Então, fico imaginando até quando suportará essa nossa gente que o amo lhe torça a perna?


Quando eu vejo as telinhas exibindo as caras assombradas dos nossos velhos de mãos trêmulas, segurando suas receitas de medicamentos de uso contínuo diante de um balcão de farmácia, sem saber o que fazer, pois dinheiro que é bom de sua aposentadoria não sobra para aquisição do receitado e pacientes voltam para suas casas, só lhes restando esperar que a pressão suba, o coração acelere, os ossos se partam, a esclerose apague o juízo e o diabetes o conduza ao coma. Então, eu me pergunto... Meu Deus, por que permitiu que a nossa gente fosse torcida a esse ponto!


Quando eu vejo... quando eu vejo... quando eu vejo... E eu vejo tanta coisa na condição de espectadora passiva e cega com visão, que por força das circunstâncias apenas o coração se sente torcido... Mas, adianta reclamar? Melhor e mais cômodo é seguir a filosofia oriental dos três macaquinhos: eu não vejo, eu não escuto, eu não falo.


Mas que dói, dói.

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