segunda-feira, 3 de novembro de 2008

AY QUE VIDA MÁS INGRATA, VOY A ME MATAR


Já que tudo por aqui está tão apático e eu com cara de herói vencido, que só me dá vontade de dizer que nem o meu ídolo macaco Simão: “Ay que vida más ingrata, voy a me matar. Pum!”
Tal qual o macaco Simão errei o tiro e desisto. E parto em busca de assunto para esta crônica, que por sorte já achei.

E vamos nós:
Existe uma frase dita à atriz Fernanda Montenegro pelo então vivo Nelson Rodrigues, que diz o seguinte: “ O problema da literatura brasileira é que nenhum personagem dela sabe bater um escanteio”.

Por empréstimo tomemos a frase do Nelson, acrescentemos ai a falta de amor à camisa e apliquemos aos times dos POLÍTICOS, dos EMPRESÁRIOS e dos SINDICALISTAS. Feito isso, imaginemos uma disputa de campeonato entre os três times citados, sob a supervisão de um só técnico.

Sem a verve nem os conhecimentos abalizados do Falcão, atrevo-me a apresentar a minha análise:
E começa o campeonato: o jogo mostra-se uma verdadeira pelada, a galera esboçando sinais de impaciência, insulta os jogadores, xinga a mãe do juiz, denuncia os cartolas, parte da torcida organizada faz coro com as vozes de alguns comentaristas mais exaltados, pedindo a degola do técnico.

O time dos POLÍTICOS aponta as suas próprias falhas, mas não assume os seus erros, sem conjunto, apostando no individualismo dos seus jogadores, insiste nas jogadas de bola alta e pra fora e no jogo pelo meio, enquanto alguns torcedores exigem as jogadas de ponta. Os jogadores não acertam o pé nas batidas de pênalti e escanteio, nem tão-pouco mostram empenho nos chutes a gol.

O time dos EMPRESÁRIOS, preocupado em ganhar para lançar mão da renda do jogo, tenta por todos os meios driblar o adversário e tome falta desleal. O juiz vê, ameaça, mas não pune.

O time dos SINDICALISTAS joga dura, subestima o adversário, desacata o juiz, recebe cartão amarelo e vermelho. Desfalcado e sem muita técnica, corre o campo todo, cansa no primeiro tempo e perde o jogo.

O juiz por sua vez, diz que aplica o regulamento e não aceita a insinuação de que tem o rabo preso feito pelo time dos sindicalistas. Fará constar na súmula tal desrespeito, pedindo a aplicação das sanções legais, inclusive multa para o time infrator.

Os cartolas encastelados no poder, preocupados na aplicação da “Lei do Gerson”, cobram comissão até na venda de algodão-doce nos portões dos estádios.

O técnico, seguro de si, não aceita quebra de contrato, o clube está falido e a multa em caso de rescisão é pra lá de alta. Com dois anos de contrato pela frente, vai botando a sua banca, não admite intromissão no seu trabalho e nem aceita imposição para a troca de jogadores e exige mais poder e mais verbas para novas contratações e enquanto vai acumulando derrotas, solta os cachorros em cima dos seus pernas-de-pau, exigindo um time de machos,

Os comentaristas botam a boca no trombone, denunciam a evasão de renda, apontam os culpados, taxam os jogadores de mercenários, alegando que os mesmos jogam de sapato alto e só pensam no faturamento em dólar com a venda de seus passes. Quanto ao técnico toda adjetivação depreciativa já foi usada contra ele. De maneira funesta anunciam que o nosso futebol chegou ao fundo do poço..

E assim, sem vencidos nem vencedores, termina o campeonato; para nós torcedores, só resta tirar a camisa, enrolar a bandeira e chorar a nossa derrota.

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