segunda-feira, 17 de novembro de 2008

AS TENTAÇÕES DA ESCRITA



Que fique dito que já existe ensaio de Humberto Ecco tratando sobre o assunto, contudo, como o inventor da escrita é quase sempre representado por um macaco, haja vista o conceito de escrever, como falar, é imitar , cá estou batendo na mesma tecla.

E se falei no inventor da escrita, melhor explicar: segundo Platão tal invenção é atribuída ao deus Toth, que foi repreendido pelo faraó da época por acreditar que o homem depois dessa invenção nunca mais iria conseguir cultivar os próprios pensamentos e a própria interioridade, porque uma vez que fora ensinado a objetivar a própria alma sobre tabuinhas e papiros mandaria às favas a memória e aprenderia a recordar através destes expedientes mesquinhos.

Tudo besteira besta do faraó, sem me alongar muito em exemplos, diria que Platão escreveu e Proust cultivou tanto a memória como a própria interioridade.
Assim, sem ser nenhuma “deusa” não falo por sinédoques e metonímia; sem ser heroína, não falo por metáforas, apenas o linguajar convencional do homem, o tal do “epistolar”, para usar da escrita, que antes passou pelos hierógrifos, pela escrita cuneiforme, suméria, assíria e babilônica, para não falar nas pedras do Código de Hamurabi, para vos dizer, que mesmo tomando conhecimento do “Crátilo”, que é um diálogo de Platão , não sei se a coisa aconteceu assim:” a palavra nasceu naturalmente ou por convenção, e se a conclusão prudente é que talvez, no inicio, os sons imitassem as coisas mas depois este parentesco direto se perdeu, e o que era imagem viva de um objeto tornou-se sinal convencional".

Tudo bem, se desde os primórdios ler sempre foi interpretar, que tal a gente “bater a cabeça” neste sábado pensando sobre o que diz Michel de Montaigne sobre a incoerência de nossas ações: “Os que se dedicam à crítica das ações humanas jamais se sentem tão embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz todos os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente e a tal ponto que não parecem provir de um mesmo individuo”.

E lembre-se: “o pensamento dos homens assemelham-se na terra aos cambiantes raios de luz com que Júpiter a fecunda”. (palavras de Cícero)

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente as ações nossas, humanas, são imprevisíveis...Nunca podemos apostar, ter certeza do que pensamos vá acontecer. Podemos sempre ter surpresas...Nem sempre boas! Muito bom teu texto e bem reflexivo! Um beijo e tudo de bom,chica