sábado, 6 de junho de 2009

A PAIXÃO SEGUNDO FRANCESCO ALBERONI




Como saber? Como conhecer? Quando sinto o chão fugindo dos pés pela falta de “esquemas de pensamento”, recorro à filosofia, afinal, os filósofos foram o marco inicial de uma explicação racional para as verdades da vida.


Assim, recorro ao professor de filosofia Reimberto Schmitz, para me ajudar a conhecer o pensamento do sociólogo italiano Francesco Alberoni, que estabelece algumas diferenças entre o amor e a paixão.


Paixão, que é algo maravilhoso, mas quanto mais conhecemos a estrutura desse sentimento e das emoções que lhes são relacionadas, melhor poderemos vivê-la, tanto na adolescência quanto em outros momentos da vida, é o que afirma os que a conhecem.


O pensamento de Alberoni sobre a paixão é retratado como uma revelação maravilhosa, uma fulguração que transforma toda nossa vida. É o advento do extraordinário que nos retira da tranquilidade da vida cotidiana, na qual os laços afetivos se encontram já consolidados, e nos atira num redemoinho que transfigura a qualidade da vida e da experiência, levando-nos a alterar radical e profundamente as relações com os outros e a postura diante do mundo.


É dito também, que não nos apaixonamos em qualquer momento da vida. É preciso estarmos disponíveis, predispostos a nos apaixonar; romper com o passado e a colocar em questão a nossa vida, buscando outras respostas.


A paixão é, ainda, exclusivista. Seu objetivo é um só e não pode ser substituído. A paixão exige total dedicação. No entanto, pode ser unilateral, isto é: pode não ser correspondida e cria, também, o tempo e o espaço míticos.


Determinadas datas, determinados lugares são considerados “sagrados” pelo par enamorado. São “seus”, estão ligados a origem da paixão e são comemorados seguidamente tendo a função de reativar os sentimentos.


A paixão se alimenta da tensão criada pela diferença que se deseja igualdade . Ainda Alberoni. Desejamos a diferença do outro porque é ela que nos atrai, por abrir novos horizontes de vida. Ao mesmo tempo, porém tentamos limitar essa diferença, para nos sentirmos seguros.


O ser amado é sempre força vital livre, imprevisível e polimorfo. E o próprio fato de ser imprevisível que nos faz sentir ciúmes em função do medo da perda. Aquele que for o mais inseguro do casal começa a estabelecer para o outro, limites cada vez mais estreitos que funcionam como provas de amor, a exigir renúncias numerosas a fim de tornar o parceiro um ser dócil, inócuo, domesticado.


E o fim da paixão, como é sentida?


Assim: O outro aceita, renuncia a amizades, programas, viagens, às vezes até a profissão. Muda o comportamento e a aparência pra manter o amado feliz, transforma-se na imagem desejada por ele, perde a individualidade, a liberdade de ser e escolher.


O parceiro, por sua vez, se vê seguro, mas diante de uma pessoa que não mais o interessa, que não aponta mais para novas possibilidades de vida, que não tem mais força vital pela qual se apaixonou.


Este é o fim da paixão e o começo da desilusão e do rancor, isto é, o momento em que a paixão alegre degenera em paixão triste.

3 comentários:

Anônimo disse...

conceitos e teses será que servem ? parabéns pelo artigo beijo grande

Dolce Vita disse...

Uau! Zélia!!!!

Nossa! Este texto é simplesmente apaixonante!

E me faz pensar em tantas coisas! Meu Deus!!!

Sabe, acho que nos apaixonamos quando alguém nos traz algo completamente novo e ao mesmo tempo familiar.

É nesse jogo de contraste que se equilibra a paixão.

O que era super instigante nesse novo passa a ser sentido como ameaça. E surge o ciúme. Afinal, a gente sempre teme aquilo que não conhece. E teme também perder.

Então, me parece que os pratos da balança ficam desiguais. A pessoa quer que o outro se torne mais familiar do que novo (ou seja, igual ao que ela deseja e não diferente).

Se a pessoa aceita e se submete, perde a novidade. Fica familiar demais.

A paixão se alimenta do novo com a a sensação de estar em casa. Se um dos ingredientes falta, a paixão "desanda".

Amei teu texto!!! Viajei!!!

Beijos
Dolce

chica disse...

Lindo.Zelia...A paixão deve estar presente nos dois, senão...E não pode ser forçada...é ou não é!Um beijo e tudo de bom, chica