segunda-feira, 8 de junho de 2009

A CLANDESTINA



Miami? Nem pensar; não tenho dólares pra gastar.Alemanha? Nem morta; a nova safra de nazistas está fazendo fogueira com os estrangeiros.Pasárgada? Por lá em nenhuma cama deitarei; não sou amiga do rei.


Macatuba, posso? Bom, aí depende do visto no passaporte, não sabe? Não tem polícia atrás de mim, mas tô vexada. Que me perdoe o cônsul Tarcísio Gurgel , do seu visto declinarei e em Macatuba como clandestina entrarei, visse? Norte, Sul, Leste, Oeste.


Macatuba onde é que fica?Se não tenho nem uma mula pra montar, como é que chego lá... Acho mesmo que tenho de pegar aquele bonde do seu Woden – isto se a cobra não me picar, o pântano não me tragar e a inquisição na me queimar.


Ufa, Cheguei! Cheguei...?Encoberta pelas sombras da noite, em Macatuba entrei; à hora exata da chegada, lembro não, mas foi justamente no momento em que passava uma revoada de marrecas fazendo ti ti ti ti.


Ricardina já dormia.Feliz a Ricardina, que depois de fazer amor tinha onde dormir. Eu não tinha não. Foi por isso, que fui velar por toda a noite ,o corpo de Netuno, que morreu porque estava vivo. Sem se fazer de rogado o dia clareou, avistei a bodega do Ventinha e pra lá me dirigi.


Não bebo zinebra, mas uma média quentinha com pão e manteiga caía bem. Pedi. E tive eu que explicar pro Ventinha o que vinha a ser uma média.


Bebi, comi, paguei.


Debaixo do olhar enviesado do Ventinha saí de sua bondega sem saber se a Feliciana tinha ao menos quinze anos e se fornicava ao mesmo tempo com Pilão e com Euzébio. Caminhar por Macatuba é preciso.


Não caminhava contra o vento, o sentia pelas costas; dei dois espirros, assoei o nariz com um lenço e mostrei meus documentos pro cabo Virgílio, isto porque caí na asneira ,feito uma lesada, de dirigir a palavra a três meliantes que estavam plantados na esquina: Arrudão, Isidoro e o Cleto.


Só queria saber onde encontrar o bispo Ferreirinha. Pra quê, eu não sabia; não sou de tomar benção a padre, além do mais a minha saia era curta, a manga de minha blusa era cavada e usava sapato sem meia. Do jeito que me apresentava por certo o bispo Ferreirinha ia me achar a própria encarnação do capiroto –fêmea.


E nem precisava indagar. No final da rua, a praça da matriz. De lá vinha o som das vozes do coro feminino“ O amoooooooor – o amoooooooor de Jesus...O amooooooooor – o amooooooor de Jesus...


Macatuba não é só isso, é muito mais. Encantou-me conhecê-la .“Vou voltar ,Sei que ainda,Vou voltar”...


Mesmo por que quero saber com quem ficou a quartinha de florzinha que a Efigênia devolveu para o finado Lustosa...

Um comentário:

Dolce Vita disse...

Zélia,

Nossa!


Estou literalmente sem palavras!

Preciso recobrar o fôlego! Quanta intensidade!

Surpreendente!!!! Uma beleza!!!

Beijos minha querida!!
Dolce
P.S.: Obrigada pelo comentário sempre generoso na minha crônica! :)