segunda-feira, 30 de julho de 2007

PARECE QUE FOI ONTEM...






Parece que foi ontem que o hoje velho Chico inventou a cantiga onde tem um verso que diz: “o tempo roda num instante”. Na época eu era jovem e nem me toquei. Aí, dia desses, um olho meu, que não lembro se foi o esquerdo ou o direito piscou diferente, corri para o espelho... Confesso que não gostei do que vi refletido nele: um rosto envelhecido com um olho vermelho. Foi então, que caiu a ficha e eu me dei conta que de fato, o tempo realmente passa depressa .


E cá estou, consciente desta minha nova etapa de vida, caminhando a passos largos para me tornar igual ao meu avô Bernardino, única velhice que convivi e a quem um dia perguntei o que era ser velho. Foi-me respondido o seguinte: “Logo , logo saberás, por enquanto, junta-te aos da tua idade, pules corda e brinques de boneca. Um dia, num abrir e fechar de olhos, vais perceber que estás tão velha quanto eu”.


O avô Bernardino já morreu faz séculos. Fico imaginando o que ele teria para me dizer hoje... Por certo, com a sua mania de latim mandaria eu procurar a minha nova turma, recitando Cícero: pares cum paribus congregantur ( os que são iguais muito facilmente se unem com os iguais a si ).


É o que vou fazer, procurar uma nova turma, que não pula corda nem brinca de boneca, vamos discutir juntos a miséria de uma aposentadoria que em breve levará nós, os bons velhinhos, a nos tornar iguais nas agruras de uma velhice mal vivida. Unidos lamentaremos na fila do INSS, a extorsão dos planos de saúde, que não nos permitem acesso; do custo das nossas pílulas receitadas para pressão alta, coração, mal de parkinson, diabetes, arteriosclerose, osteoporose, soluços etc. etc.


E não adianta reclamar pro bispo, nos tornamos um bando de velhos vagabundos e improdutivos , o melhor à fazer é procurar a cadeira de balanço, cerrar os nossos olhos míopes, mandar às favas os problemas existenciais. E lembrem-se: de boca fechada para não exibir a banguela . Quietos para não incomodar as autoridades. Cada um no seu lugar, os abrigos, esqueçam, só vivem em crise financeira.


Contudo, ainda podemos nos dar ao luxo de pensar, é de graça, não custa nada. Pensemos como o escritor irlandês James Joyce, que não estava nem aí para as escaramuças de sua época, só se importava com o mundo interior, independente de situações políticas ou econômicas. Acreditava que a estupidez humana, a fragilidade da vida e das criaturas não mudam com a simples alteração de uma situação externa.

Confesso que, se as minhas pernas ainda me obedecessem, subiria no telhado e lá, deitada feito Snoopy diria: “Cansei
de me preocupar com o mundo... Agora o mundo que se preocupe comigo”.

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2 comentários:

Anônimo disse...

O tempo é o maior enganador da vida.Somos submetidos a segui-lo,mas ele nem sempre tem razão.ha!o espelho? que nada outro enganador, a alma é a senhora de tudo.A carne sim,ela envelhece,resseca,entristece,a alam não ,é eterna! Tempo? não acredito nele.
beijo

Anônimo disse...

Estou recebendo emails de todos.Acho q sua caixa postal é q está com problema na conexão,enviei outros p vc tb...bjs