quarta-feira, 27 de junho de 2007

Não conheceu o povo brasileiro

















No ano de 1877, Émile Zola publicou o romance L’Assommoir (A Taverna). Apesar de todas as críticas desfavoráveis o sucesso foi tão grande que em poucas semanas Zola se transformou no escritor francês mais célebre. Nesse romance tudo é cinzento e muito feio, não é sem razão que foi considerado uma obra-prima do “romance-negro”. Nele Zola denuncia um dos maiores problemas dos meios operários de então: o alcoolismo.




Segundo o romancista, a miséria é mais produto da vontade das pessoas do que da condição em que vivem. O mal está no ser. O homem é um solitário, sem recursos, sem esperança e sem pecado. É, enfim, um animal a caminho do fim último: a morte.




Zola, que morreu em Paris no ano de 1901, só fez tais e tais afirmações porque não conheceu o povo brasileiro, que de triste não tem nada. Aqui, seja qual for a realidade ninguém entrega os pontos, pouco importando o quadro de miséria exibido e até mesmo vivido. Aqui se embarca no sonho e na fantasia enrolado na bandeira da esperança. O brasileiro não esmorece nem diante das rajadas de tecnologia que trazem consigo a morte do trabalho, do emprego.




O povo não é reclamador, quando pode banqueteiá-se com frango e rói os ossos; quando o dinheiro dá lambuza-se com iogurte; sempre sobra algum para marcar presença nos estádios de futebol e para a cervejinha gelada; assiste novelas, diverte-se com Faustão, sonha em ficar rico com a sena e o carnê de Silvio Santos e coleciona CDs piratas dos rapazes caipiras. E para não dizer que não falei no Carnaval, é nesse que negada sem lenço e sem documento se esbalda.




Essa euforia vem de longe, que o diga Gilberto Freire: “Tanto nas plantações como dentro de casa, nos tanques de bater roupa, nas cozinhas, lavando e enxugando pratos, fazendo doce, pilando café; nas cidades, carregando sacos de açúcar, pianos, sofás de jacarandá – os negros trabalharam sempre cantando; seus cantos de trabalho, tanto quanto os de Xangô, os de festas, os de ninar menino pequeno, encheram de alegria africana a vida brasileira. Às vezes de um pouco de banzo: mas principalmente de alegria”.



Zélia Maria Freire







Um comentário:

Anônimo disse...

A subserviência da maioria do povão é cultural.É o misto de auto defesa com agradecimento pela sobrevivência injusta.Talvez pelos filhos,pelos netos,pela educação dos antepassados.