domingo, 30 de setembro de 2007

O JOGO QUE NÃO APRENDI












Mais um ano que está se indo. E eu fazendo minhas as palavras de Werther, criatura da fantasia de Goethe: “Assim como a natureza se inclina para o outono, também o outono vive dentro de mim e em torno de mim. As folhas da minha alma vão amarelando, enquanto as folhas das árvores vizinhas tombam.”



Fim de ano às portas pede retrospectiva, o que a TV Globo vem fazendo muito bem ao longo desses anos, e com certeza o fará novamente, reprisando as acontecências relevantes deste ano que já já se finda.



Enquanto isto, parto eu, para uma crônica intimista e a retrospectiva que se segue diz respeito a esta escrevinhadora.



Não sou o que eu queria ser quando menina. E eu queria ser Polyana para jogar o ‘jogo do contente’. Cresci um pouquinho e jurei pra mim mesma que quando ficasse grande me tornaria uma escritora, aí meu pai apontou-me a porta larga da cozinha, mas esqueceu de queimar os livros, que os devorei. Lendo, lendo, lendo...

Não sei ao certo o ano que li O Pequeno Príncipe, só sei que estava na moda lê-lo. Li, mas não entendi as ‘entrelinhas’. Gostei mais do Menino do dedo verde (1957) de um outro francês chamado Maurice Druon, que navegou nas águas de Saint-Exupery, disfarçando a profundidade de suas mensagens na singeleza de um livro para crianças.



Mais um dedinho de crescimento: a porta larga da cozinha não transpus, preferi a da rua. E parti em busca do saber. Assim, as minhas incursões pelo mundo da leitura continuaram. Entre tantas descobri Shopenhauer e me tornei pessimista; com Molière aprendi a sorrir; chorei com Charles Dickens; a velhice , imaginei com Collete; pensei na morte com Hemingway.



Da menina que fui para a mulher adulta que sou, foi um pulo só. E este pulo foi livre e sem medo, como convém que seja, pois segundo Santo Agostinho, para aprender, tem mais valor uma curiosidade livre do que a coerção baseada no medo.



E se não aprendi o ‘jogo do contente’, paciência, culpa minha. O motivo está exposto no que diz Luigi Pirandelo: “E, com muita freqüência, esquecemos que somos átomos infinitesimais, passamos a respeitar-nos e admirar-nos reciprocamente e somos capazes de engalfinhar-nos por um pedacinho de terra ou de queixar-nos de certas coisas que, se estivéssemos compenetrados do que somos realmente, deveriam parecer-nos desprezíveis misérias.”



PS: A paz que excede todo entendimento ainda estou buscando em Deus.



Nenhum comentário: