sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O ARTISTA DA PALAVRA









Tristonha e serena cai à tarde, antes que ela desabe sobre mim, vou sair da barrica, apanhar a lanterna e partir em busca de alguém que me sirva de fonte de inspiração para a crônica de hoje.


Não precisei ir muito longe, entre os meus conhecidos ( pense aí em Flaubert, Voltaire, Goethe, Stendhal, Collete, Virgínia Woolf e tantos outros) eis quem eu encontro, perfilado e pronto para ser visto, notado e reconhecido: o escritor Franklin Jorge, o “artista da palavra” , como o qualificou o saudoso Jayme Hipólito Dantas, profetizando também, que um dia “haverão todos de admirar a prosa deste excelente escritor. Deste puro, saudável, belo cultor da forma.” (Extraído do Prefácio do livro de Bolso, Nossa Editora, 1980).


Em “Ficções/Fricções/Africções”, Franklin Jorge, na abertura do fragmento A Idade dos Nomes, onde trata de “Maria Maxixe”, fez a seguinte citação: “Essas coisas não aconteceram, mas existiram sempre” (Salústio. Degli Dei e Del mondo). É assim que vejo o escritor Franklin Jorge, dizendo coisas que eu não sei se aconteceram, mas que existiram, com a maestria descrita pelo também saudoso Américo de Oliveira Costa, que disse: “ Suas produções obedecem sempre a um esforço de despojamento, de depuração na busca da expressão ou da forma desejada, não por uma questão de preciosismo de artífice, mas como uma condição substancial de sua natureza criativa”. (Extraído do livro Spleen de Natal 1996)


A última vez que falei com Franklin foi por telefone, oportunidade em que afirmei não gostar de Shakespeare. (Ele com o seu cavalheirismo, não me disse que o desgostar é fruto da minha pseudocultura, que impede que eu alcance e entenda o dramaturgo inglês).


Mas, sabe Franklin, confesso que existe algo mais: a falta de originalidade. Então, ajo feito o escritor alemão Gottfried Keller, que se queixava de que Shakespeare houvesse aproveitado todos os temas fecundos, antecipando-se, assim, aos escritores que vieram depois dele, e prejudicando-os na própria originalidade.


Obrigada meu caro Franklin por me servir de tema e como você bem o disse, “ escrever é transgredir os códigos (...) quem sabe um dia eu transgrida e convença, feito aquele que eu não alcanço e nem entendo, que no seu tempo pendurava uma lanterna no palco do teatro, e advertia um auditório de mercadores e marinheiros que aquela candeia, oscilante e tosca era a lua, debruçada no firmamento. E todo mundo via e sentia na luz baça do candeeiro de azeite a poeira do astro luminoso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muitas vezes o que buscamos nos outros como inspiração é o nosso próprio reflexo,identificação.Para inspiração,um simples silêncio ,já é uma valiosa pauta.
beijos

Marco Borges disse...

A humildade(verdadeira)é a maior virtude do ser humano.
Vê-se aqui que mesmo após um indefectível texto, a missivista ainda credita a inspiração a outros.
Felizes dos leitores atentos que podem reconhecer o dom do artista da palavra.