sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

JOSÉ DE ALENCAR E A MÁQUINA DE COSER


Hoje, nada de cogitar idéias nem parafusar novidade, vou dar um mergulho no tempo, me reportar ao ano de 1854, quando aos 25 anos de idade José de Alencar, antes de se transformar no nosso maior escritor romântico, exercitou a pena como cronista nos jornais do Rio de Janeiro.

Segundo João Ribeiro Faria (crônicas escolhidas José de Alencar - Folha de São Paulo) naqueletempo a crônica chamava-se folhetim e era destituída das características que tem hoje. Publicadas aos domingos, tinha por objetivo comentar e passar em revista os principais fatos da semana de forma genérica. E num único folhetim podiam estar, lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, comentários a respeito do espetáculo lírico, especulações na Bolsa, um baile no cassino ou sobre o asseio da cidade do Rio de Janeiro (acometida na época por um surto de cólera, que o cronista o tratava como "diabo azul" por não ter certeza a qual gênero pertencia, se masculino ou feminino).

José de Alencar em seu folhetim, que levava o nome de "Ao correr da pena", datado de 3 de novembro de 1854, expressa a sua opinião a respeito da "máquina de coser", invenção americana chegada ao Brasil e que ele foi conhecer de perto numa visita que fez à fábrica de coser de Madame Besse, situada à rua do Rosário, n. 74.

Eis algumas considerações do folhetinista a respeito dos "malefícios" da tal invenção no que fiz respeito ao belo sexo:

Sobre a "maldita invenção" diz o cronista, que o belo sexo não pode deixar de declarar-se contra, pois priva os seus dedinhos mimosos de uma prenda tão linda e acaba para sempre com todas as graciosas tradições da galanteria antiga. As mãozinhas delicadas da amante, ou da mãe extremosa, trêmulas de felicidade e emoção, não se ocuparão mais com aquele doce trabalho, fruto de longas vigílias, povoadas de sonhos e de imagens risonhas. Que coração sensível pode suportar friamente semelhante profanação do sentimento?

Para o cronista, no entanto, a invenção da máquina não despoetizou a arte. E diz: " Até agora, se tínhamos a ventura de ser admitidos no santuário de algum gabinete de moça, e de passarmos algumas horas a conversar e a vê-la coser, só podíamos gozar dos graciosos movimentos das mãos, porém não se nos concedia o supremo prazer de entrever sob a orla do vestido um pezinho encantador, calçado por alguma botinazinha azul; um pezinho de mulher bonita, que é tudo quanto há de mais poético neste mundo".

Em 1855, o folhetinista tarado por um pezinho de mulher, prevendo os meios de comunicação de nossa era, sentenciou: "Tempo virá em que uma palavra que cair do bico da pena daí a uma hora correrá o universo por uma rede imensa de caminhos de ferro e de barcos de vapor, falando por milhões de bocas, reproduzindo-se infinitamente como as folhas de uma grande árvore. Esta árvore é a liberdade; a liberdade de imprensa, que há de existir sempre, porque é a liberdade do pensamento e da consciência, sem a qual o homem não existe; porque é o direito de queixa e de defesa, que não se pode recusar a ninguém".


Um comentário:

Anônimo disse...

beijoooooooooooo
Zélia
adoro Natal
e agora adoro mais...pq vc vive aí
Cida