Desta conversa comigo mesma, de repente me dou conta de que não sou nenhum pavão misterioso mas não tenho nenhuma história para contar. Será....? E de quando fui criança? Do que me lembro, só um sentimento de inveja, feito o que sentia da família da casa de frente à minha... Desejava aquele pai / figura bonita de homem / seu rosto nunca alcancei / mas feito gato/ olhar pidão / por suas pernas trancei / invejava os filhos dele / pelo amor recebido / pelo castigo infligido / queria aquela família / mesa posta/ comida franca / Natal / presentes trocados / aniversário / batizado / tudo isso festejado...
O que diria da adolescência ? Só isto: viagem, regresso, um trem, estação, casa, gente, rostos tristes, cheiro de incenso, de cravos. Velas. Um caixão. Dentro dele uma mulher. Minha mãe.
De mim adulta? Só sei que houve quem à mim dissesse: “ E tu aí nesse lugar, alma viva, afasta-te destes que são mortos”. Então alguém partiu e eu segui os seus passos; não para ver estrelas. Ainda estava a caminho do inferno.
Li de Shopenhauer que, quanto à vida do individuo, cada biografia é uma história de dor: por quanto em regra geral, cada existência é uma série contínua de grandes e pequenas desventuras que cada um, é verdade, esconde o melhor possível, porque sabe que os outros raramente demonstram interesse ou piedade e quase sempre satisfação, à vista dos afãs de que no momento estão salvos; mas talvez um homem no fim da vida, se é que possui toda a sua razão e é ao mesmo tempo sincero, desejará recomeçá-la e, diante duma tal perspectiva, antes preferiria o nada..
Ah, sim, quanto ao poema, esqueci de salvá-lo, deve ter caído na lixeira do computador.
Um comentário:
Amiga, respeito muito seu idealismo, sua lucidez, objetividade e sentido prático.
No entanto, pessoalmente preciso crer no panteísmo e acalentar uma consciência além do estado físico.
Forte abraço.
Postar um comentário