terça-feira, 13 de novembro de 2007

O PORQUÊ DE ALGUNS


“Procurem outra companhia;
já vejo daqui o fim do meu
caminho” (Collete)

Se escrever é preciso e se dentro de mim dormem palavras, que por favor acordem, desencantem, ordenem-se e dêem vida aos meus sentimentos.

Acredito não ter tido na infância as respostas para todos os meus “por quês”, razão pela qual eles me perseguem até hoje, se bem que em outra escala. Se leio um texto sinto necessidade de inteirar-me sobre o autor. Isto posto, fico eu a escarafunchar as entrelinhas, sempre em busca de um “por quê”.

Enfim, por que escritores escrevem, quais as razões, os motivos pelos quais os levaram a escrever? Motivada pela curiosidade busquei entre alguns autores os seus ‘porquês’.

E lá vou eu , contrariando gostos - que não se discutem – com ar professoral e didatismo pedante, estribar-me no conhecimento alheio para ilustrar o que ora trato.

Vejamos o que declarou Giovanni Boccaccio (1313/1375): para fugir ao ambiente rígido e ambicioso que o cercava começou aos sete anos de idade, a imaginar fábulas e a escrever contos.

O inglês Henry Fielding (1707/1754), não sabia que profissão abraçar; cocheiro ou escritor? Para ser cocheiro teria de se colocar a serviço de algum proprietário de carruagens, ao passo que, como escritor, necessitava tão-somente de caneta e tinta. Quanto ao papel, poderia aproveitar aquele em que viessem embrulhados o tabaco e o pão. E, diante das opções que se apresentavam, tendia mais a escrever que a mourejar numa carruagem aberta.

Do alemão Wolfgang Goethe (1749/1832), que aos dez anos de idade viu Frankfurt ser ocupada pelos franceses e ouvindo falar essa língua, entusiasmou-se com as referências e os elogios aos escritores franceses; Moliére, Racine e Voltaire, sendo assim motivado pela cultura francesa e não alemã, a seguir a carreira literária.

O francês Honoré de Balzac (1799/1850), desde pequeno tinha um sonho: viver em sociedade entre aristocratas, imortalizado pela atividade literária. Lutou por esse sonho. Não se tornou um aristocrata, mas imortalizou-se como o grande retratista da burguesia do século XIX.

O inglês Charles Dickens (1812/1870), que para curar uma paixão mal-sucedida, iniciou a escrever. E descobriu em si a necessidade de se comunicar com um público maior do que aquele dos salões onde brilhava.

O francês Chaderlos de Laclos (1741/1803). Tornou-se escritor por conta de um desejo: redigir um livro que fizesse escândalo e fosse comentado mesmo depois de sua morte. Desejava escrever contra os aristocratas, visto como parasitas sentados no poder e conquistar a glória através das letras. Conseguiu publicando ‘As Relações Perigosas’, que foi sucesso imediato.

Ditas ass razões que levaram alguns dos meus eleitos a se manifestarem através da linguagem escrita, acrescento que, em se tratando de “vertentes” literárias, deixo com o estimulador da literatura engajada – aquela em que, claramente, toma partido em cada situação ou momento histórico – Jean-Paul Sartre, a palavra final: “Toda literatura é, a rigor, comprometida, pois mesmo o silêncio constitui uma opção decisiva”.

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