sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

BATE MEU CORAÇÃO PORQUE TU AMAS


Queixava-se de uma velha angústia, que dizia carregar a século e que sentia transbordar naquele momento. E como se manifestava a tal angústia? Através do medo? Da tristeza? Da dor? Do sentimento de perda?


Ora, se carregava a tal angústia através de século, por que não aprender a conviver com ela? Precisava pedir para endoidar de vez só por que não sabe ser um angustiado lúcido, sem saber como se conduzir na vida?

Por acaso conheces a vida num manicômio? Queres experimentar? Posso te internar. Então ficarás doido de vez. Dormirás doido e acordarás louco, teus sonhos não terão sentido, não serão sonhos, ficarás alheio.
Esta é tua casa, reconheces? Corrias por aqui quando menino e dormias sossegado naquele quarto. Ainda dormes sossegado? Vais me responder: e a angústia deixa? Você não é mais menino são. Quer Ficar doido quando homem? Por quê? Pelo terror da angústia? Estou com peninha de ti.

Ainda crês em alguma coisa? E religião, tens? Ah, tu és esquisito mesmo! Vai lá, diz pra mim o porquê da tua angústia. Não me digas que sofres por amor, se for eu riu de ti, não lembras quando por amor chorei e zombastes de mim por dizer desconhecer tal sentimento? Pois é, parece que o dia veio atrás do outro e teve esta noite para atrapalhar e enquanto clamas por uma loucura eu lúcida estou. Enquanto pedes um “manipanso” para crer, eu creio. Enquanto pedes que o “teu coração de vidro pintado estale” eu peço ao meu: bate coração porque tu amas!

PS: Qualquer semelhança com o poema “Velha Angústia” de Fernando Pessoa, pode considerar este texto um plágio.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

AINDA BEM QUE TUDO NÃO PASSOU DE UM SONHO



Sonhei que era Teseu e que matei um minotauro para conseguir escapar do labirinto em que me encontrava e assim me sentir livre, livre para voar. Tentei, mas as minhas asas de penas juntas com cera, iguais as do vaidoso Ícaro, derreteram pelo calor do sol e me fizeram cair sobre as águas revoltas do mar. No meu sonho não foi possível visualizar quem me retirou das águas. Só sei, que logo me vi num caminho vazio e sem fim e quanto mais andava a lugar nenhum chegava; as horas não passavam, os relógios não tinham ponteiros; os dias da semana resumia-se num só dia, sempre sexta-feira, triste como a da paixão. Sentia que fugia de mim a razão de viver, não havia alegria renovada para a minha alma.


De repente me vi juntando pedaços de mim... E não sabia se viva ou morta estava. E me senti “Solitária na companhia de meu próprio cadáver”... Não, morta não estava, ouvi um cachorro latir e tinha a impressão que tinha perfeita noção do que acontecia ao meu redor. Mas aquele caixão... Eu dentro dele... Aquelas flores murchas... Aqueles ratos... Aquela escuridão... Aquela falta de ar... Aquele cheiro... E os meus óculos? Cadê os meus óculos? Não, não estava viva, estava sem óculos, estava morta. A idéia foi tomando conta de mim e confesso que já estava me acostumando com a minha morte, embora alguma coisa negasse isto. Foi quando o pavor começou a tomar conta de mim... E se me enterrassem viva?


Tentei movimentar os meus membros e não consegui, também não consegui expressar-me e quando estava resignada a morrer por resignação, acordei. Sobre mim, aberto na página 21, Olhos de Cão Azul - “A terceira Renúncia – de Gabriel García Márquez. Ai, dei um sorriso amarelo, limpei o suor que escorria pelo meu rosto, levantei, bebi água, me certifiquei que estava viva de verdade e voltei pra cama. Afinal, estava explicado o sonho.

MAS, QUAL É O TEMA?



Uai! Meu céu está mais para nebulosa difusa do que para brigadeiro. E olha que o panorama visto daqui não é o de cima de um tamborete, mas sim de uma ponte .

Mas, qual é mesmo o tema para a crônica de hoje? Não sendo astrônoma, de nebulosa difusa que não é, como posso falar de uma coisa de tão difícil definição óptica, como diria das galáxias. Sobre brigadeiro, adoro os de chocolate, só não sei a receita. Além do mais, crônica no dizer de Fernando Sabino tem que ser uma coisa simples, amena. Se bem que haja controvérsia a respeito, há quem diga que ninguém tem mais tempo para ler as chamadas amenidades.

Diante do impasse como faço para entreter meu caro leitor, minha cara leitora... quando na realidade o que eu queria mesmo era falar mal do presidente e do seu governo? Pelo jeito tenho que me livrar de meter o bedelho nas questões graves, como essa da economia global, que ocupa a atualidade. Mas de uma coisa eu não abro mão, já que paira ameaça sobre nós, é de ir ali na botica da esquina mandar aviar uma receita composta de uma dose de moderação, duas de prudência e três de verdade, etiquetar e despachar para Brasília para ser entregue à Sua


Excelência, senhor e amo de todas as excelências.
E agora? Sem originalidade e com tanta gente boa aqui no Recanto escrevendo crônicas, como é que fica a minha? Não fica, dirão os entendidos. Acho que só me resta reclamar dos e das coleguinhas feito o escritor alemão Gottfired Keller, que queixava-se de Shakespeare acusando-o de ter aproveitado todos os temas fecundos, antecipando-se, assim, aos escritores que vieram depois dele, e prejudicando-os na própria originalidade. Isto é o que nos conta Carlos Alberto Nunes em “Introdução Geral e Plano da Publicação do Teatro Completo de Shakespeare”. Não é sem razão que a “obra prima” deixada por Keller foi "Romeu e Julieta na Aldeia". (Pelo título percebe-se de onde lhe veio a inspiração).

Ainda pensando nas excelências, e por isso e por mais aquilo, bateu saudade do meu avó Bernardino, pois se vivo fosse, e me visse “mocoronga” depois de uma bela carraspana, olhava pra mim, chamava pra si, apertava o meu braço nada magrinho (era gordinha quando garota) e dizia: aprenda mais esta, citando Suetônio: Vulpes pilium mutat nom mores. “A raposa muda o pêlo, mas os costumes não”.

AO APAGAR DAS LUZES



Havia um Ser. Havia uma canção no ar... Não era o bolero de Ravel, era L’indifferént com Jessye Norman. O Ser não era nenhuma Capitu de olhos de ressaca, obliquo e dissimulado procurando saída para seus sonhos. Nem tampouco nenhum Werther querendo entender o coração humano nem a queixar-se dos homens, que sofreriam menos se não se aplicassem tanto a invocar os males idos e vividos, em vez de esforçar-se para tornar suportável o presente .


Era apenas um Ser patético, que na sua quase ignorância nas coisas do amor e na sua lerdeza de Quasímodo, agarrava-se a um punhado de palavras escritas, procurando entender o significado delas, pois soavam tão destoantes das que já lhes foram ditas. Aos ouvidos do Ser, todas as palavras machucavam, mas apenas uma mais que as outras e que tanto lhe confundia: louco! Louco! Louco! Por que louco! Por ter amor dentro de si? Por não enxergar a maldade? Por confiar nas pessoas? Por ser tido como bonzinho? Para o Ser, quão difícil estava sendo desviar o olhar daquelas palavras, mas ele sentia que precisava se desligar delas, estavam carregadas de lembranças outras e exigiam dele que fossem sufocados sonhos e bem querer... Ao seu alcance um Caneletto não aberto, não era de vinho que precisava o Ser, ele precisava embriagar-se com aquelas palavras, elas precisavam embotar o seu cérebro, queimar os seus neurônios. Não foi sem dificuldade que o Ser levantou-se. Madrugada já se fora e logo mais a cotovia canta. Ao apagar das luzes, cortinas cerradas, na escuridão do quarto tropeçou em algo, segurou o palavrão e jogou-se por sobre a cama, braços cruzados sob a cabeça virada para um lado, atento ao irritante tic tac do relógio, que foi arremessado contra a parede. Reinando o silêncio, os olhos foram fechados esperando o dia raiar, afinal, um outro dia surgiria e um outro dia é sempre um outro dia...


E o outro dia surgiu , tão calmo e tão sereno, que ao Ser, só coube - observando o quarto em desordem, uma cadeira num canto virada e o sem número de papeis amassados, jogados por todo o ambiente - indagar: VIVI ISTO? SE VIVI, ESQUECI. Cadeira levantada, papeis apanhados e sem mais serem lidos, atirados um a um na cesta do lixo... E com passos firmes e decididos, caminhou o Ser em direção à porta, destrancando-a e saindo para oferecer o seu primeiro sorriso e desejar um bom dia a quem primeiro surgisse à sua frente. E deu bom dia e sorriu para o pequeno jornaleiro.

SOBRE O MEDO



Existem tantas maneiras de sentir medo e muitas vezes ele se manifesta através da angustia, do pavor da inquietação, temor e outras tantas formas inquietantes.
E o que dizer do medo que se passa a sentir de alguém? Há quem afirme que possa parecer um paradoxo, mas quando estamos sentindo medo de alguém, provavelmente este alguém também está com medo de nós. Afinal, somos todos iguais.

Li de Fábio Ferreira Balota, uma descrição sobre o medo, que transcrevo abaixo:
“ O medo é o movimento fantasioso que a mente faz, na tentativa de repelir, de impedir que um acontecimento indesejável do passado ocorra novamente no futuro. Esta repulsão acaba por reforçar a lembrança da dor. É o apego a dor, apego a idéia da dor, da punição, da vergonha, da humilhação. Tal repulsão é o desejo, a expectativa, a ansiedade de que estas coisas não se repitam. Tal repulsão é o desespero para evitar que venhamos a sentir dor , que venhamos a sofrer. É o apego ao pior, ao ruim”.

E acrescenta: “ O medo nasce da comparação entre nossas ações e nossos conceitos, padrões e valores ou das comparações que fazemos entre nós e as outras pessoas o que na realidade também acaba por se remeter a nossos padrões, conceitos, valores, aos nossos julgamentos”.
No meu entender, o mais importante sobre esses conceitos sobre o medo é o que diz: “ O medo embota a mente. Impede-nos de agirmos de forma correta, de forma reta, impede-nos de falarmos diretamente e nos leva à mentira e à falsidade . Com medo não podemos ser retos”

A propósito, antes de se deixar levar pelo medo, é bom nunca esquecer , também, que as lentes dos óculos determinam o modo como você percebe a realidade, segundo Jostein Gaarder. Ainda Gaarder, tudo o que você vê é parte do mundo que esta fora de você mesma; mas o modo como você enxerga tudo isto também é determinado pelas lentes dos óculos e se estas forem vermelhas/escuras, você não pode dizer que o mundo (ou pessoas)é vermelho/escuro ainda que neste momento ele pareça vermelho/escuro. Mas isto são termos comparativos de visão entre racionalistas e empíricos. Disto falarei noutro momento

CRER, FAZER CRER, EIS A QUESTÃO



O meu pensamento está disperso e vadio e nesta condição iniciarei o texto de hoje, se tropeçar nas palavras, paciência, é que também estou me sentindo tal qual Manuel Bandeira quando afirmou: “ Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo”.

E esta coisa pensante que sou, que não sabe o que quer , que em nada crer e que só vive enleada em tantas dúvidas e quanto mais procura instruir-se mais descobre a sua santa ignorância, quer saber de quem sabe se quando não existe a razão de crer, como é que fica a vida?
Alguém soprou no meu ouvido parafraseando o chato do Shakespeare: crer, fazer crer, eis a questão.

Quem me fará crer? Que venha a mim “Fiat Lux” e com ela palavras que dêem prazer aos meus ouvidos, prendendo-me e subjugando-me e que os meus sentidos coloquem-se atrás da razão e não se neguem a acompanhá-la para que eu possa deixar de ser para mim própria esse enigma que sou.
Enquanto luz nenhuma alcanço, fico aqui brigando comigo mesma e tentando me situar entre os filósofos do barril (os cínicos) de Antístenes e os estóicos de Zenão, pois estes acreditavam que todas as pessoas são parte de uma mesma razão universal e que cada pessoa é um mundo universal em miniatura, um “microcosmo”, reflexo do “macrocosmo”. Mas também posso descambar para o lado dos epicurus, filosofia criada por Epicuro, baseada no pensamento de Aristipo, que acreditava que o objetivo da vida seria obter dos sentidos o máximo possível de satisfação. Afirmava também que o prazer era o bem supremo e a dor, o mal supremo. Essa filosofia libertadora resumia-se em “quatro remédios”:

Não precisamos temer os deuses.

Não precisamos nos preocupar com a morte.

É fácil alcançar o bem.

É fácil suportar o que nos amedronta.

E por aqui fico. Eu e o Mundo de Sófia...

PERDIDA NO JARDIM DE CAMINHOS QUE SE BIFURCAM



Hoje amanheci perdida no “Jardim de caminhos que se bifurcam” de propriedade de Jorge Luiz Borges, e não faço a menor questão de ser achada . Por favor, ninguém se dê ao trabalho de chamar o Corpo de Bombeiros. Estou fugindo que nem o snoopy, cansada deste mundinho, de me sentir tautológica, de explicar por formas diversas, a mesma coisa: não sou isso; não fiz isso; não faço isso; quê quê isso; não quero isso; quem fez isso; por que isso; isso, isso, isso; de ser indagada “se em B influem A ou C; em Aproximação a A, pressente ou advinha através de B a remotíssima existência de Z. a quem B não conhece”. Agora, eu indago do leitor/leitora se já leu The Secret Fount (1901) pois, desavergonhadamente, confesso, que puxei o aspeado ai de cima, de lá, com a aquiescência do dono do Jardim.

E nessa minha fuga percorri alamedas, transpus corredores, ouvi conversas estranhas sobre espelhos, considerados monstruosos e tão abomináveis quanto a cópula, porque multiplicam o número de homens. Coisa de louco, ou melhor, pensamento dos heresiarcas de Uqbar, relatado por Bioy Césares. Deixa pra lá, coisas saídas da cachola do escritor Jorge Luiz Borges
Cáspite! Mas esta minha crônica está saindo mais complicada do que o texto da criativa escritora AnaMarques: O Testículo Que Não Queria Sair , que, para comentar, pedi help à autora. Quem quiser fazer um teste de inteligência vá lá na Ana, leia o texto e descubra no final, se é o cachorro ou o testículo quem fala.

E assim, caminhando, cheguei às terras baixas - terras baixas, sim senhor, ta lá escrito, de Tsai Jaldún... Estou cansada, se ao menos encontrasse um meio-fio eu sentaria e jogaria pedras a esmo. Mas, também, serviria a margem de um rio... Quando falei em terras baixas me veio à mente “terras elevadas ” da Ana, (sem sobrenome) personagem de que muito gosto da escritora Marília Paixão e em homenagem a tal personagem, o rio bem que poderia ser o Mandu, ai eu penduraria a minha harpa num ramo de um salgueiro, se nessa margem tivesse, sentaria e choraria... Mas, espere ai, eu choraria por quê ? Por isso? Isso? isso? Ah, tenha paciência, choro nada!

SAUDADE DE UM BEIJO QUE NUNCA DEU



Sinceramente, como pode alguém sentir saudade de um beijo que nunca deu? É do que está se queixando o Nelson Gonçalves de sua amada Maria Betânia, musa da canção que interpreta e que a FM executa no momento. Coisa do amor e este tema não é da minha seara, aqui no Recanto tem quem domine o assunto , com a maestria de fazer inveja a qualquer expert , as escritoras Evelyne Furtado (de sensibilidade à flor da pele), que não me deixa mentir, tamanho o conhecimento de causa e a Marília, que apesar de sua versatilidade e capacidade de abordar vários temas e cujo sobrenome: Paixão, parece autorizá-la, junto com o seu jeito peculiar de sentir e dizer as coisas, tecer considerações que envolvem tal sentimento e que muito agrada a nós leitores.

Contudo, didaticamente, posso até falar sobre o beijo. Duvide não, viu? Veremos como me saio:
Quantos beijos imagina o leitor, que trocamos no decorrer de nossas vidas? No mínimo 24 mil beijos! Com relação a “química”, que envolve o beijo o que acontece com os nossos sentidos? Aciona 29 músculos, acelera o ritmo cardíaco de 60 a 150 batidas por minuto, produz uma forte descarga de adrenalina e fortalece os pulmões.

Como surgiu o ato de beijar na boca? De acordo com alguns cientistas o beijo teria se originado no costume das mães primitivas de passarem a comida triturada em sua boca para a boca de seus bebês – uma forma rústica de fazer a papinha ( só que os tais cientistas não explicaram até hoje, porque o hábito de se unir as bocas teria sido mantido mesmo após essa antiga técnica de alimentação ter desaparecido)

Interessante também, é a descoberta do homem da idade da pedra. Ele acreditava que o sal lhe devolvia as forças nos dias de calor e percebeu que poderia obtê-lo lambendo a pele e também os lábios de seus semelhantes.

Demorou alguns séculos até que a teoria da psicanálise fundamentasse que as pessoas encontram prazer através do beijo, simplesmente porque a boca é uma fonte de excitação, assim como outras partes do corpo, não necessariamente próximas dos órgãos genitais. Só que ainda não houve uma explicação quando e porque o beijo amoroso do casal humano se diferenciou do beijo entendido como sinal de afeto ou de reverência.

E para encurtar esta conversa fica dito por mim, que beijar é um ritual inspirado, solene, apaixonado e gentil e constitui há séculos uma forma de transmitir sentimentos entre dois seres que se amam.
Fonte de pesquisa: Tudo - Livro do Conhecimento – Editora 3 .

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

VOA MINHA LIBERDADE



Já não me sinto Sísifo castigado pelos deuses, rolando pedra acima, vendo-a descer encosta abaixo para erguê-la de novo, onde o esforço representa o nada.

Agora me sinto livre, estou pronta para assumir o poder sobre mim mesma, pelo que represento e por quem represento. E eu represento a minha própria liberdade de expressão. Então, eu me permito pensar e falar, e plagiando Jessé vos digo: “Voa minha liberdade/ no estalo do meu grito/ quero ver teu infinito / neste azul sem dimensão...” Só não me permito sonhos desvairados e nem penar, pois a minha liberdade não está mais na dor.

Assim, mudo eu, a “vida, vidinha, vidona”, mas as portas cerradas permanecem fechadas e o que sobra é a diáspora. Afinal, quem matou a paz foi Raskolnikov e não eu. (verdade, Dorian, que está no céu?)

O pensador católico Alceu do Amoroso Lima, sentenciou quando vivo: “Somos todos patéticos”. Acredito que sim. Olhe eu aqui, repetindo o fraseado de um homem de nome pomposo, Dom José Ortega y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância e se não a salvo não salvo a mim mesmo” (sem conotação metafísica). Tem quem afirme (Nivaldo Cordeiro), que depois do “Penso logo existo” de Descartes, esta é a síntese filosófica mais perfeita de um pensador.
Provando mais uma vez o quanto admiro os loucos, deixo de Nietzsche o “VI Selo” (Assim Falou Zaratustra):

Se a minha virtude é virtude de bailarino, se muitas vezes pulei entre arroubamentos de ouro e de esmeralda;
Se a minha maldade é uma maldade risonha que se acha em seu centro entre ramadas de rosas e sebes de açucenas, porque no riso se reúne tudo o que é mau, mas santificado e absolvido pela sua própria beatitude;

E se o meu alfa e ômega é tornar leve tudo quanto é pesado, todo o corpo dançarino, todo o espírito ave: e, na verdade, assim é o meu alfa e ômega;
Como não hei de estar anelante pela eternidade, anelante pelo nupcial dos anéis, pelo anel do regresso das coisas (...)